Árvores solenes e austeras silenciosas companheiras plantadas nas bermas dos caminhos, eu vos saúdo, e agradeço a sombra fresca que mitiga os calores estivais e as folhas que pintam de tons púrpura e oiro os poentes rubros de Outonos caniculares. O balouçar lento da folhagem cadente arrancada dos ramos pelo sopro ventoso mensageiro da estação da invernia. Árvores símbolo de perenidade e estoicismo que morreis de pé, e estais sempre prontas para aturar lamentos e aceitar no vosso tronco os golpes dos devaneios amorosos de pueridades juvenis, sem alterar a majestade do vosso perfil. Árvores minhas amadas, quantos quilómetros percorri ao longo da vida só para admirar fustes grandiosos, e copas anchas como latadas pampinosas? Árvores de todas as espécies quando finalmente vos contemplava, emocionava-me por que Deus permitiu, admirar-vos: antigos carvalhos do Gerês ou a velhinha "carvalheira do presépio" em Castro Daire, castanheiro de Guilhafonso, Plátano de Portalegre ou o Pinheiro de São Bernabé nas serranias espanholas de Teruel e que já não existe, e muitos mais....
Hoje quero saudar em particular, o vigoroso freixo, plantado na orla do passeio de uma das artérias principais do sítio onde moro, saudação especial porque em tempo houve quem afirmasse que estava doente e ameaçava secar. Conseguimos provar que o problema se devia ao facto de o tronco no seu processo de crescimento,estar a ser estrangulado pelo muro adjacente, por essa razão a seiva não circulava, provocando a morte de alguns ramos, seria preciso derrubar parte do muro e dar mais espaço árvore. Felizmente, ouviram-me o freixo viçoso e pujante, continua a impressionar quem o observa. A sua idade exacta, não sabemos, mas sem dúvida, é centenário. Resistiu ao ciclone, quem o terá plantado? O local deve ter sido escolhido por ser próximo da fonte onde os aldeões da Rinchoa se abasteciam de água.
Os gregos consideravam o freixo um símbolo de grande solidez,esta característica ressalta quando admiramos este espécime.O freixo da Rinchoa,de folhagem sempre verde,parece garantir que o tempo primaveril nem sempre acaba;o fuste majestoso demonstra: aqui nunca foi subúrbio,e sim ao longo das épocas uma terra onde decorreu a vida de muitos homens e mulheres que nos legaram entre outros testemunhos, esta grandiosa árvore, e a certeza que onde existem árvores seculares são lugares com alma, e não periferias "desalmadas".
Como sucedeu ao longo de de quase dois séculos e meio, ai está a feira das Mercês este ano organizada sob egide da Câmara Municipal de Sintra e apoio das Juntas de Freguesia de Algueirão Mem Martins e Rio de Mouro. Um reunir de esforços digno de nota. O recinto para a venda e diversão está restringido ao terrado do cruzeiro, sendo o acesso dos visitantes feito atravessando dois vistosos pórticos um do lado da Calçada da Rinchoa e o outro da banda da estação das Mercês. Deste modo garantiu-se o adequado controle e segurança para se evitarem os precalços que há uns tempos atrás se verificaram.
Os feirantes nas suas vistosas tendas estão vestidos a rigor recriando a "vestimenta" dos seus antepassados. Além das nozes e castanhas e leitão, e carne de porco a "moda" das Mercês carroceis e artesanato na feira deste ano existe um pavilhão com informação autárquica. A feira decorre nos fins de semana dos dois ultimos domingos de Outubro. Assim nos próximos dias 24 sexta-feira, a partir das 17 horas e todo o dia sábado e domingo, cumprimindo o decretado definitivamente, pela Rainha Dona Maria I em 1771: "Sou servida declarar que os moradores do sítio da ermida das Mercês devem continuar a sua feira no 3º e 4º domingos do mês de Outubro", terminando "Mando assim o façais executar". E mandou muito bem. Vamos todos à feira provar a água-pé, comer peras cozidas.e conviver como bons cidadãos, sexta-feira dia 24 o evento inicia-se ás 17horas,sábado e domingo ás 10horas.
Para ilustração deixamos "vistas" da estação ferroviária das Mercês e passagem de nivel junto à mesma na década de 30 do século passado. (fonte:ANNTT).
Em Novembro do pretérito ano de 2011, neste espaço cultural,escrevemos chamando a atenção para a excelência dos bitoques e pregos especialidades culinárias do universo gastronómico sintrense. A confecção alcança apurado sabor olfacto tentador e apelativa apresentação nas "bitoquerias" da zona de Rio de Mouro, Rinchoa e Cacém no concelho de Sintra. Acompanhamento dilecto para saborear cerveja a copo, tirada como deve ser, pregos e bitoques, malgrado a sua difusão por inúmeras paragens em Rio de Mouro fica o "berço" hodierno do qual irradiaram: "O arco Íris"café restaurante, situado na Avenida Infante D. Henrique, uma das principais artérias da urbe, perto da estação ferroviária da "vila", teve importância pioneira, no sentido de guindar estes "pratos" à condição de "vedetas" alimento delicioso de quem pretende gastar pouco dinheiro e beber, regaladamente umas "bejecas".
Aquele restaurante com a sua "chapa" constituem uma espécie de "escola de formação", por onde passaram alguns proprietários de "bitoquerias" das redondezas e mais além. Exemplo do que relatamos ainda em Rio de Mouro, Rua do Rio, defronte do Centro de Saúde Dr.Joaquim Paulino, inaugurado em 1986, deparamos com o "Zé do Prego" restaurante que abriu portas mais ou menos nessa época, por iniciativa do senhor Zé; durante dilatado tempo, esta" individualidade" muito estimada pelos seus clientes, "virou " com mestria, na chapa do "arco iris", milhares de pedaços de carne, tenra e suculenta, cortada de forma adequada, matéria prima de pregos e bitoques de "comer e chorar por mais" aguçavam o apetite dos "habitués " que assistiam á feitura do "petisco" sentados nos peculiares bancos colocados altura do grande balcão corrido da casa. Regalava observar o profissional competente na azáfama estender a "chicha" estrelar ovos fritar batatas regar a quente superfície metálica com cerveja base, do molho das "guloseimas", tudo feito com a alegria e desembaraço. Não causou estranheza quando decidiu trabalhar por conta própria. No "Zé do Prego", a perfeição continuou, muitos dos seus "admiradores " passaram a clientes no novo "poiso". No roteiro da "zona demarcada", os pratos desta "bitoqueria", merecem não só "estrelas" mas também elogios de quem aprecia pitéus.