UM ANTIGO "DIA DA NEVE" EM SINTRA
A memória dos Povos abrange periodos de tempo de amplitude reduzida, quando comparados com o decorrer dos séculos. Vem isto a propósito dos fenómenos climatéricos que quotidianamente nos são apresentados pelos meios de comunicação social. É frequente ouvirmos expressões do tipo: "Agora o tempo está mudado", "Não me lembro de tanta chuva e tanto frio", "Isto é por causa das alterações climáticas", etc. Sem pretendermos suscitar polémicas, devemos dar as coisas o sua devida importância porque, nem sempre o que parece é.
Hoje 22 de Janeiro de 2011, está aqui por Sintra um "frio de rachar" como é hábito afirmar-se quando a temperatura do ar desce para valores pouco habituais.Vulgarmente pode pensar-se que isto nunca ocorreu. Nada mais falso , curiosamente, chegou até nós uma informação antiga, do teor seguinte:
" Neste dia 23 de Janeiro de 1758,segunda feira,aqui na Freguesia de Nossa Senhora de Belém ,Pratriarcado de Lisboa e Arciprestado de Sintra,choveu muita neve de que tudo ficou branco; e por dez noites seguintes "cahio" muita geada com tempo muito frio e seco".
Esta efeméride ficou conhecida como "DIA DA NEVE". Noutras ocasiôes nevou de novo em Sintra. Parece que nesta época do ano as condições meteorológicas são propícias à queda de neve por estas bandas. Oxalá voltasse a verificar-se amanhã, porque sendo dia de eleições, uma grande participação significa uma afirmação da CIDADANIA, que tal como a neve deve ser sempre um motivo de encanto e beleza.
Deixamos como ilustração não uma foto porque ainda não nevou, mas um execerto do belíssimo poema de Augusto Gil, a BALADA DA NEVE:
Batem leve, levemente
como quem chama por mim,
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania,
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate,assim,levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve,mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza,
Fui ver, a neve caía.
do azul cinzento do céu
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via !
E que saudades, Deus meu.
Olho através da vidraça
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho
( ... )
Como não há uma sem duas, quem sabe se virá outro DIA DA NEVE idêntico ao de 1758?. Seria bonito!