Num recanto da zona mais antiga da freguesia de Rio de Mouro, na localidade vulgarmente denominada Rio de Mouro Velho, existe uma rua, cuja placa toponímia ostenta, quase anónimo nome.No entanto refere alguém importante papel social e económico na história não só da região, mas também do País.
António José da Luz nasceu no ano de 1867,filho de rico proprietário e industrial,natural e residente em Rio de Mouro. Talvez porque destinava ao seu herdeiro um futuro de relevo, aquele capitalista,quis seu rebento, viesse ao mundo na casa que possuía na Rua da Junqueira, então do concelho de Belém, com intenção ser baptizado, na " verdadeira " igreja de Nossa Senhora , ou Santa Maria de Belém,em vez do humilde templo de Rio de Mouro de igual evocação.
Quando completou, idade 19 anos, António José, rumou a Inglaterra para estudar técnicas têxteis de tecelagem e estamparia,com intuito mais tarde modernizar e ampliar a fábrica da família em Rio de Mouro.
Regressado, a Portugal, ainda acompanhou o pai na gestão do negócio.Infelizmente, em 1905, com pouco mais de 60 anos,progenitor viria a falecer.
Questões de heranças, e talvez por ter conhecimento que o negócio para ser rentável, exigia investimentos que a família Luz , não estaria disposta a efectuar, a fabrica seria vendida a José Cupertino Ribeiro,abastado comerciante e accionista da poderosa Sociedade Lisbonense de Algodões, e da Estamparia de Braço de Prata, tudo sediado na capital.
António José da Luz,viria a tornar-se grande proprietário em Rio de Mouro,e auxiliando muitas das obras sociais da freguesia. Por essa razão a Camara de Sintra deliberou atribuir, o seu nome a rua onde se situa a sua habitação.
Faleceu em 1934, na freguesia de Rio de Mouro , sendo sepultado no jazigo de família no cemitério publico paroquial , melhoramento, curiosamente, construido grande parte, graças a contribuição monetária de Cupertino Ribeiro.
Eis como placa toponímia aparentemente , sem interesse, recorda factos marcantes da história local.
O território do antigo município sintrense, de ameno clima, frescas sombras no estio e aconchegado tempo invernal,foi procurado ao longo de séculos,para repouso e vilegiatura de gente com posses e gosto pela calma e placidez dos lugares.
Da ribeira da jarda ao oceano atlântico, a nobreza e burguesia lisboeta endinheiradas, seguindo o gosto precursor de bispos e frades, foi edificando insignes quintas, algumas das quais ainda existem.Derrubada a monarquia, na sede do concelho os espaços deixados "vazios", pela corte , foram adquiridos pela nova classe possidente enriquecida pela tardia revolução industrial "lusa", desejosa de acrescentar a "aristocracia monetária" alguns "pergaminhos"da antiga "aristocracia de sangue" .
Personagem que melhor exemplifica esta tendência é Alfredo da Silva. Industrial, banqueiro armador, grande proprietário, considerado o mais audacioso empreendedor da península ibérica do seu tempo, nasceu em Lisboa a 30 de Junho de 1871, faleceu na sua casa de Sintra a 22 de Agosto de 1942.Alfredo da Silva ficaria órfão de pai aos 14 anos, nascido no seio de família abastada,dotado de raras capacidades de trabalho e inteligência , frequentou e concluiu curso superior de comércio em 1890 sendo o melhor do curso, laureado com o primeiro prémio instituído pela Associação Comercial de Lisboa, destinado ao aluno mais aplicado.
Com pequeno lote de acções deixado pelo progenitor,graças a rara intuição negocial conseguiu, conquistar posição de controlo na Companhia União Fabril , fundada em 1865 pelo visconde da junqueira,José Dias Leite de Sampaio,renovou e refundou a empresa que seria nome emblemático de conglomerado empresarial.
Alfredo da Silva adorava Sintra, dizia só ali podia dormir tranquilamente. No ocaso da vida fazia trajecto dos escritórios da Companhia a estação do Rossio, de automóvel, seguia depois de comboio a Sintra. Da estação a casa; Palácio dos Ribafrias,utilizava igualmente o carro.A "tabaqueira" fundada em 1927 ,iria dispor de novo complexo fabril , em Albarraque Freguesia de Rio de Mouro , termo de Sintra.
A família conhecia a predilecção de Alfredo da Silva pelas paragens sintrenses. A modelar colónia de férias para os filhos dos empregados do grupo CUF , foi construída em Almoçageme , freguesia de Colares.
O funeral realizou-se no Cemitério do Alto de São João em Lisboa. no entanto cumprindo desejo expresso do industrial ,os restos mortais seriam transladados em 1944, para mausoléu edificado no cemitério do Barreiro.
Testemunho do apego a Sintra e homenagem a sua capacidade realizadora,estátua de bronze,erigida em sua honra a 19 de Abril de 1965, da autoria do escultor Leopoldo de Almeida, colocada em Albarraque,na rotunda fronteira a entrada principal da "Tabaqueira" e, arruamento de acesso ao bairro dos funcionários da empresa.