Demonstramos a inequívoca "naturalidade" sintrense do petisco "prego". Felizmente a par da preocupação com origem e qualidade da carne, existe aqui na "zona demarcada do prego e do bitoque", situada no território concelhio de Sintra, freguesias de Cacém e Rio de Mouro, preocupação em inovar a confecção sem esquecer sabor e apresentação do mesmo.
Na estrada Marquês de Pombal, artéria onde podemos encontrar numero significativo de locais para "degustação" do prego, nessa rua junto ao centro comercial de Fitares: o restaurante "O Marquês".
Tive grata e agradabilíssima surpresa de "manjar" prego variante "no prato", servido além das "fritas", acompanhado, também de molho com diversas "texturas": molho verde, de cogumelos, à café e mais outros dois cuja composição não recordo.
Justiça se faça, Mónica dona da comensal paragem, teve feliz ideia, não "abastarda" o sabor delicioso da carne, e dá toque de modernidade ao "centenário" invento .
Experiência a realizar, os molhos são de "molhar" e chorar por mais.
O "prego" iguaria popular e deliciosa, da qual sou apreciador e consumidor assíduo, suscitou curiosidade de procurar saber como teria surgido na culinária nacional e quem seria seu "inventor". Laboriosas pesquisas e centenas de degustações, permitiram encontrar, finalmente, a solução do "enigma".
O querido amigo, correligionário ilustre Sintrense José Alfredo da Costa Azevedo, autor de interessantes e eruditos trabalhos versando a historiografia do concelho de Sintra, no livro: " VELHARIAS DE SINTRA VI" edição de 1988, promovida pela Câmara Municipal, escreveu, relativamente aos primeiros "edificadores" da Praia das Maçãs e refere, Manuel Dias Prego, que iniciou negócio de "comes e bebes", no final do século XIX. Locanda rudimentar onde servia vinhos de Colares, para acompanhar fatias de carne de vitela, fritas ou assadas, acondicionadas em saboroso pão proveniente de fornos das redondezas. O negócio prosperou, dada fama que as "bifanas do prego" granjearam.
O petisco entrou no vocábulo da gíria popular no princípio do século XX, com designação simplesmente, "prego" em memória do "criador" do pitéu.
Gente doutras localidades do concelho de Sintra, copiou a "ementa" iniciando a propagação, ajudada pela circunstância de passar fazer parte da gastronomia da Feira das Mercês; feirante teria há cerca de um século na zona de Rio de Mouro aberto estabelecimento onde servia pregos durante todo ano. Descendentes, mantiveram a tradição e fundaram a mais antiga casa "pregueira", no concelho de Sintra, restaurante "O ARCO ÍRIS" junto estação ferroviária de Rio de Mouro, vai para cinquenta anos.
Difundido por todo o Pais o prego no entanto, continua a ser servido com mais profusão no Município de Sintra, não admira, graças a Manuel Dias Prego, por volta de 1889 nasceu na então Vila Nova da Praia das Maçãs freguesia de Colares, concelho de Sintra.
A foto é do livro citado no texto.Dedico este "post" ao saudoso José Alfredo, recordando as nossas conversas na varanda da sua casa, com vista e coração sobre Sintra.
Recentemente lemos uma execelente reportagem no Jornal I, dedicada à boa mesa do nosso concelho, com incidência na Freguesia do Cacém e onde justamente se chama a atenção para o facto de embora muita gente continue a chamar "dormitórios" aos nossos bairros, também em matéria de oferta gastronómica, não estamos a dormir, é tempo dos vizinhos de Lisboa e doutros munícipios saberem onde comer barato com sabor e qualidade, designadamente: pregos e bitoques.
Seria imperdoável que como Sintrense há mais de três décadas e "utente" da "rota do prego e do bitoque" não esclarecesse, que esta especialidade tem como berço a Freguesia de Rio de Mouro, onde o restaurante "Arco Iris" fundado há cerca de cinquenta anos, assumiu desde o inicio a condição de detentor da melhor chapa e excelente matéria prima para pregos e bitoques. Por ali passaram a maioria dos que foram abrindo os seus negócios no ramo, graças ao que aprenderam naquela casa. Na nossa opinião o Arco Iris continua a presentear-nos com os melhores pregos do universo gastronómico. No entanto é justo assinalar que noutros locais este alimento de "faquires" se serve, igualmente muito bem. Sem esquecer que o pão dos pregos é fabricado na Rinchoa, em diversas padarias e pastelarias, uma das quais, ainda utiliza lenha para aquecer o forno. Tudo conjugado faz com que, Rio de Mouro deva ser considerado como Zona Demarcada do Prego e do Bitoque, única em Portugal. O Arco Iris situa-se, junto á estação ferroviária, é frequentado por muitas pessoas entre os quais o nosso ilustre conterrâneo famoso actor, grande apreciador de pregos e bitoques. O corte da carne, a chapa de aço inoxidável ampla e sempre impecavelmente limpa, o molho de cerveja, o allho esmagado, o batimento prévio da carne com martelo apropriado antes de ser grelhada, o pão aquecido barrado com manteiga para albergar a dita, tudo feito á vista do cliente, assim surge o prego. O bitoque é servido no prato, com molho de cerveja e batata frita em separado. O título tem razão de ser, e se duvidam experimentem, estas deliciosas iguarias da mesa sintrense. Bom apetite.