Em Setembro de 2013, encontrei pela primeira vez um gigantesco carvalho, que cresce na antiga quinta grande de Meleças situada na Rinchoa,limites das freguesias de Rio de Mouro e de Belas no Município de Sintra , área metropolitana de Lisboa, Portugal.
Desde dessa altura quando desponta, finalmente, o tempo primaveril, como sucedeu hoje, um sol luminoso e quente adorna o dia, depois de persistentes temporais de chuva vento e frio,fui qual romeiro visitar a árvore.Talvez seja das minhas remotas origens asturianas,o carvalho impressiona-me pela majestade do tronco e espessura da folhagem.Árvore poderosa símbolo de força, aliás a palavra latina "robur" que significa carvalho, quer dizer força, a grandiosidade da sua copa assemelha-se á cobertura de um templo.
No meu anterior apontamento escrevi: a casca que falta no tronco, devia ter sido utilizada no curtimento de peles. Poderá ser; hoje observando com mais atenção , posso afirmar a árvore deve ter sido atingida por um raio, que danificou o tronco e secou muita ramaria.
O exemplar é robusto, resistiu, apresenta aspecto de grande vigor vegetativo. Medi o perímetro do tronco á altura do peito (PAP), verifiquei a dimensão de 2,95 metros. O tronco de um carvalho em condições favoráveis de solo e água , como é o caso, cresce cerca de 6 cm por década a idade deste será de cerca 450 anos.Oxalá continue motivo de inspiração sabedoria e força que os nossos antepassados celtas atribuíam ao carvalho. A mais antiga árvore do rincão sintrense aonde está.
Celebremos a Primavera relembrando versos de Domingos Maximiniano Torres. Sintra, Rio de Mouro 1748, Forte da Trafaria Almada 1810. Dedicamos uma vez mais a "brilhantes humoristas" preclaros eruditos, para quem os subúrbios e gente que lá habita não passam de motivo inspirador para as suas "chacotas". Há mais! por "ora" leiam este...
Como complemento do que escrevemos sobre o grande poeta nosso conterrâneo,em anterior post, gostariamos de partilhar uma écloga que escreveu na década de 80 do século XVIII, e no qual "canta" o Rio de Mouro, termo da Vila de Sintra.
PRIMAVERA
Ecloga VI - Alfeno e Frondoso
Agora que a viçosa Primavera
alcatifa de flores as campinas
e enrosca aos ulmos a flexível hera;
Te não sentas aqui,caro Frondoso
junto ás águas do Mouro cristalinas?
vê no roixo oriente o sol formoso
por entre as rotas nuvens chamejando
rasgar a noite o manto azul pomposo
vê os pinheiros surdos sussurando
Os zefiros brincões, e desta fonte
as prateadas linfas encrespando
verdeja em torno o bosque,o vale e o monte
serena a manhã vem,nem denegrindo
estão as grossas nuvens o horizonte
Quando o sol mais ardente subindo
desta faia as Napeias* consagrada
amena sombra está sempre caindo
entrega Melibeu tua manada
ou por esta ribeira à minha unida
irá pascendo a grama rosciada
tudo aqui a recreio te convida
o rio murmurando,e prado hervoso
que a mão remoça da estação florida.
Um sugestivo poema que retrata o caracter campestre que dominava os nossos sítios no século XVIII,e onde na actualidade se conservam muitos vestígios,nomeadamente, bosquetes de pinheiros mansos, e numerosos ulmeiros na margem do rio Mouro.Sem dúvida um dos belos rincões do Ocidente Português.
No ciclo do tempo estamos em pleno EQUINÓCIO, o momento em que os dias passam a ter uma duração superior as noites. Isto no hemisfério norte. O prefixo EQUI significa igualdade, no momento equinocial o dia é igual à noite.
A Primavera anuncia-se no calendário! Ainda há pouco tempo, no meio rural do nosso País, se dizia que a Nossa Senhora de Março "Levava os serões e trazia as sestas", era o fim do Inverno, do pousio das terras, o ínicio dos trabalhos das sementeiras. A Primavera é uma mudança no sentido da renovação da natureza. Os ventos fortes desta Estação do Ano, têm a finalidade de promover a disseminação do pólen das plantas e fomentar assim a polinização. Sendo a única estação anual do género feminino é caprichosa e imprevisível pelo que o tempo muda com frequência...
A Primavera é um recomeço devemos saudar a sua "vinda" porque todos as mudanças são sempre motivo para nos questionarmos e deste modo, assinalar o facto. Poderíamos usar uma das árvores notáveis já descritas neste local, seria o óbvio.
Mas esta Primavera é contudo diferente, porque sucede a um Inverno onde para além das conhecidas características da época, se assistiu a uma grande turbulência nas finanças e na economia dos Povos...motivada pela ganância desonestidade e estupidez, daqueles que esqueceram que, desde que CAIM matou ABEL o que a humanidade procura é FRATERNIDADE. Os Novos tempos estão a chegar, devemos valorizar o SER e não quase em exclusivo o TER.
Daremos o exemplo, deixando como saudação Primaveril um conjunto de simples e vulgares malmequeres nascidos na beira de um caminho no concelho de Sintra, com o desejo que a Primavera seja verdadeiramente NOVA e a simplicidade criativa volte a ser o sal da VIDA...