A partir do sitio do Alto da Parada , em Rio de Mouro , podemos desfrutar uma vista deslumbrante que desafia qualquer ideia pré-concebida, acerca desta terra.
O casario estendendo-se pela charneca que lorde Byron comparou a idênticos espaços da Cornualha britânica; está ladeado de vegetação revelando uma harmonia inesperada, com a imponente Serra de Sintra, servindo de majestoso pano de fundo.
Longe de ser um subúrbio incaracterístico, Rio de Mouro,surpreende pela identidade e pela beleza paisagística que convida a contemplação e redescoberta. Gosto da terra onde vivo há mais de cinco décadas.
Na tranquila paisagem de Rio de Mouro, a quinta das Serradas, foi durante largas temporadas refúgio escolhido por Gago Coutinho. Aqui afastado da agitação do grande centro urbano, o notável marinheiro e aviador encontrava espaço para recolhimento e contemplação ; um lugar onde a mente se podia elevar tal como o voo que viria a marcar a História de Portugal.
Foi neste recanto sereno, que Gago Coutinho, talvez tenha amadurecido ideias ,desenhado rotas e consolidado conhecimentos científicos que o levariam em 1922, a protagonizar, com Sacadura Cabral, a primeira travessia aérea do Atlântico austral, ligando a sua Lisboa natal ao Rio de Janeiro. Facto arrojado que uniu dois mundos e demonstrou a perícia náutica e técnica resultado da vocação do povo português para desvendar oceanos, e depois também os céus.
Mais do que um lugar de estadia, a Quinta das Serradas; quem sabe ? foi cantinho discreto da preparação e concretização de um sonho, aqui também se caldeou a coragem para enfrentar o desconhecido e vencer o Atlântico.
O exito da viagem histórica deveu-se não só a determinação e ao génio dos protagonistas, mas também ao apoio popular e firmeza do Governo da República, que via na missão oportunidade de afirmar o prestigio do novo regime, estreitando ao mesmo tempo, laços de amizade com o Brasil no centenário da independência daquela grande Nação.
Para Gago Coutinho, fervoroso republicano, o sucesso da travessia representou mais do que uma vitória pessoal, ou técnica, provou que a República Portuguesa, tinha rumo, visão e alma, contribuindo para a consolidar no povo nova esperança num Portugal moderno , livre e audaz.
Quem passar hoje junto aos muros da quinta observando estado decrepito do casarão nem sonha a importância que o sitio tem na História recente da nossa Pátria.
Naquela época, Alto do Forte , também conhecido por Casal da Serra das Minas, era sitio da freguesia de Rio de Mouro, apresentando uma realidade económica, marcada por práticas tradicionais de transporte e comércio, a partir do qual operavam meia dúzia de veículos de duas rodas com tracção cavalar, serviam para transportar mercadorias, conduzidos por cocheiros profissionais , todos naturais de Lisboa, oficialmente habilitados para exercício da profissão.
Desempenhavam papel crucial no domínio económico da região, assegurando ligação entre as estações ferroviárias do Cacém, Rio de Mouro,Mercês, e os centros de consumo locais.As mercadorias essenciais ao quotidiano da população, circulavam graças actividade destes homens e seus veículos, adaptados as características do território.
Socialmente os cocheiros eram figuras respeitadas pela sua utilidade; detinham conhecimento profundo do terreno, horários e roteiros,o que conferia estatuto de confiança no seio da comunidade.
Este sitio desempenhou.papel relevante,como nó viário estratégico, onde confluiam diversas vias rurais, garantido ligação entre varias localidades, como Covas, Serradas, Albarraque , Abrunheira e Casais de Mem - Martins.
Para além da função logística, no local existiu famoso retiro ou tasca de comes e bebes,funcionando como ponto de convívio e paragem social.
Alto do Forte, Casal da Serra das Minas,não era apenas cruzamento de caminhos, aliás como todos entroncamentos de nomeada , também aqui há um cruzeiro, lembrando fatídica ocorrência.
O Alto do Forte, desempenhou papel reflectindo a importância dos pequenos núcleos periféricos na organização do território de Sintra nas primeiras décadas do século XX. Imagem do cuzeiro do Alto do Forte, na epoca referida .
Foi por esta altura no já distante 1979, que apresentei uma proposta para colocação da placa recordatória , no padrão do Cabo da Roca, com a genial frase de Luís de Camões " Aqui ... onde a terra acaba e o mar começa". Contendo além disso, indicação da latitude e longitude do lugar, atestando inequivocamente, ali está o extremo Oeste do continente europeu.
Formulei aquela, durante o mandato como vereador da Camara Municipal de Sintra, entre 1978 e 1982, com objectivo de valorizar, simbolicamente, o ponto mais ocidental da Europa continental, associando-o a herança literária e cultural portuguesa.
Mais tarde o senhor Vereador brigadeiro Machado de Souza,confirmando que a ideia partira do vereador Cortez Fernandes, concretizou deliberação camarária, consultando o Instituto Hidrográfico, para validar as coordenadas geográficas de latitude e longitude e também altitude acima do nível médio das aguas do Oceano Atlântico.
Resultou desta minha ideia criação de marco icónico, no Cabo da Roca, unindo geografia, história e identidade nacionais.E também um contributo para a valorização cultural do concelho de Sintra.
A preocupação do sr. vereador Machado de Souza, com a exactidão das coordenadas, teve todo cabimento; muita gente e até autoridades oficiais afirmavam seria o Cabo Finisterra na Galiza o local mais a ocidente do território europeu, não insular.
Estavam errados fizeram rigorosas medições, hoje quem for a "Fisterra", pode verificar na placa informativa ali colocada a longitude do nosso cabo está um pouco mais a Oeste, como sempre sustentámos.
Já agora proponho, mandem executar cópia da placa existente colocando-a na face oposta do padrão no Cabo da Roca; sendo aquela memória dos objectos mais fotografados do Mundo, seria ainda mais impressivo as fotos passem mostrar o Oceano , coisa que agora não sucede; quem faz o "boneco" está de costas para o Atlântico.
Oxalá tenha cabimento este alvitre, porque como diriam amigos muito queridos " faz todo sentido ".
Durante gerações o antigo caminho da missa, guiou os fiéis das aldeias de Albarraque, Serradas e Covas até a igreja matriz de Nossa Senhora de Belém, em Rio de Mouro, Sintra.
Esquecido pelo tempo e coberto de mato e silvados, chegou a tornar-se intransitável. Todavia a memória de um povo não se apaga. Assim sucedeu também neste caso.
Pela iniciativa e persistencia do então presidente da Junta de Freguesia, Alexandre Bruno Parreira, o caminho seria limpo,e devolvido em condições á comunidade.
Um gesto simples. carregado de profundo significado. Quem cuida da história, honra as suas raízes, dá sentido ao futuro,e merece a nossa gratidão.Neste caso a minha será eterna.
Aspecto do caminho da missa como o fixei há alguns anos ; parece foi ontem.
Na calçada da Rinchoa, entre o passo certo dos que vivem e passam, e a leveza da Fonte do Rouxinol, cresce vetusta sobreira, acerca da qual já aqui escrevi. Em tempo de canícula severa, recomendando resguardo no domicilio, volto ao tema.
Não sabemos ao certo quando terá nascido ; talvez em tempo de reis exilados,muito antes da linha do comboio, chegar a Rio de Mouro. Há mais de duzentos anos que ali está, imponente firme, com tronco coberto por grossa capa de cortiça, e suportando copa tão frondosa que regala quem observa, ou descansa num dos bancos a sua sombra.
A sobreira viu construir muitas casas, abrir caminhos e ruas, e também viu quem decidiu escolher este belo lugar para base da sua vida.
Felizmente a sobreira não foi derrubada como tantas outras árvores notáveis existiram na vizinhança. Quem passa nota está ali algo que segura o presente ao chão. Árvore que é também memória. O rouxinol que deu nome a fonte e ela sombreia, quem sabe, ainda cante empoleirado num dos seus grossos ramos ?!.
A sobreira. não é só sombra, mas também herança, ser vivo vegetal, resistente e perene.
Uma dádiva de Deus onde o tempo parece ter pousado.Não é símbolo antigo de passado remoto , é raiz, aqui mesmo agora, no coração da ridente "capital" do estado livre da Rinchoa , como em tirada genial Leal da Camara apelidou.
Deixamos, não imagem da sobreira ,mas de renque de amadas árvores fixei não muito longe do sitio hoje descrevi.
Hoje, dia dedicado a relembrarmos a conservação da natureza, devendo celebrar, árvores, trilhos, e a fauna; é mister celebremos também, capacidade de transformar o que parecia perdido, em algo belo útil e vivo.
O parque urbano da Rinchoa, merece ser apontado como exemplo do que foi feito com sucesso.
Durante anos este espaço situado na freguesia de Rio de Mouro, no Município de Sintra, bem no centro da grande área metropolitana de Lisboa, seria ocupado de modo desorganizado, com hortas improvisadas, barracões inestéticos, muito entulho e detritos de toda a ordem.
Um local onde a natureza lutou sempre para não ser sufocada.Hoje estamos na presença de um recinto adornado de árvores centenárias e vegetação nativa, aberto a população , onde a natureza tornou a respirar sem peias , e onde as pessoas voltaram encontrar possibilidade de fruir o espaço natural.
Este parque urbano demonstra como é possível recuperar espaços negligenciados, indevidamente apropriados e devolve-los á comunidade, mais naturais, mais limpos,mais humanizados.
Aqui passeiam agora, pessoas,correm crianças, cruzam-se vizinhos, neste parque crescem árvores, flores silvestres, quem sabe ? também amizades...
Neste dia especial o parque urbano da Rinchoa, testemunha que conservando a natureza, proporcionamos locais onde em comunhão com o meio envolvente podemos viver melhor.
A Camara Municipal de Sintra que alocou meios para se concretizar desejo da população da freguesia de Rio de Mouro, e o executivo da Junta que soube pugnar pelo anseio dos fregueses são credores da nossa gratidão. O parque urbano foi aberto há quase uma década. A imagem que captei mostra o principio do parque, durante trabalhos de limpeza do espaço.
Leal da Câmara não desenhava por entretimento, desenhava por necessidade interior , como quem escreve para não explodir. As suas caricaturas foram espelho reflectindo acidez da política e dos costumes do primeiro quartel do século passado.
Foi um mestre da sátira faceta que soube esgrimir com elegância e mordacidade incomuns.
Chamaram-lhe fantasista, mas seria , talvez,mais apropriado apelida-lo : pensador gráfico, o seu traço denunciava o ridículo a corrupção,mas igualmente sugeria liberdade e lucidez.
A coruja que adoptou como símbolo ex-libris, não era só elemento decorativo, mas também, identidade; coruja representa sabedoria, e igualmente isolamento , introspecção.
Leal da Camara parecia compreender para ver com clareza é preciso perscrutar no escuro.
A vida pública pode ter-lhe dado em algumas ocasiões, certa notoriedade, mas interiormente, a melancolia nunca o abandonou.
Na sua casa da Rinchoa, encontrou um pouco de paz,ou pelo menos distancia do tumulto dos centros urbanos.Ali entre objectos pessoais, desenhos,e manuscritos, sentimos ainda,a presença da tal coruja vigilante.
Actualmente Leal da Camara é quase esquecido pelo grande público.A sua obra é uma lição de coragem estética e intelectual , um lembrete de que riso quando bem apontado é uma forma de aplicar justiça.
Aqui na Rinchoa, a coruja ainda espreita calada mas atenta; e este seu admirador sincero ,não perde ensejo de o recordar sempre que uma oportunidade surge tal qual agora quando passa mais um aniversário do seu falecimento , ocorrido em 1948.
No coração de Rio de Mouro,dito antigo, ou talvez inapropriado Velho, ergue-se um templo que funde fé comunidade, e identidade, a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Belém.
Foi o cardeal D. Henrique, tio avô do infeliz rei D.Sebastião, quem encomendou esta construção que a partir de 1563, acolheu os frades da ordem de S.Jerónimo, vindos do Mosteiro da Penha Longa, onde a devoção á Virgem de Belém. era viva, afastando qualquer confusão com os Jerónimos de Lisboa, e reforçando uma ligação espiritual unido a Serra de Sintra ao Tejo.
A igreja formada por nave única de arquitectura maneirista, escorreita, resistiu ao terramoto de 1755, e as inclemências do tempo.
No seu interior destacam-se a pia de água benta, ao estilo manuelino, o que segundo alguns historiadores, parece demonstrar igreja mais antiga do que a data 1563, gravada na pedra sobre a porta principal.
Além desta pia destacam-se, imagem gótica de São Brás, um baixo relevo da Anunciação, e altar mor em talha dourada , singulares testemunhos do cruzamento épocas e estilos.
Todavia. o que torna este templo especial é a ligação profunda entre a pedra e a gente que o frequenta.Todos meses de Julho, a comunidade de Rio de Mouro antigo,reúne-se no adro para celebrar a sua padroeira com procissão música gastronomia e encontros inter geracionais, rituais que fazem ecoar pelo vale onde corre o rio do topónimo, a devoção começada há quase 500 anos.
A inauguração do novo hospital de Sintra, marca inicio de uma nova etapa para o concelho - uma etapa em que os cuidados de saúde passam a estar mais próximos , mais acessíveis e humanos.Esta obra representa mudança profunda não só no sistema de saúde publico local,mas também na qualidade de vida de quem vive trabalha e sente orgulho na condição de ser sintrense.
Durante anos população enfrentou exasperantes tempos de espera para atendimento, cansativas deslocações e serviços sobrecarregados pela afluência de utentes.Estas situações agravavam o sofrimento de quem precisava ajuda rápida.
Com este novo hospital, Sintra, deixa para trás essa realidade e abraça o presente onde o cuidado com as pessoas está verdadeiramente no centro da acção política.
A qualidade de vida não se mede apenas pelo que possuímos, mas pelo modo com vivemos.Viver num concelho onde a saúde é tratada como prioridade é viver com mais dignidade tranquilidade e esperança, a população saí da situação de desespero, isto é de espera sem perspectiva.
Sintra está a transformar-se num território onde cada vez mais vale a pena viver, um concelho onde o Município aposta na saúde no bem estar, proporcionando quotidiano mais tranquilo e digno aos habitantes do concelho.
Este hospital não é apenas um edifício é um factor de mudança a qual começa agora nas pequenas e grandes histórias que aqui vão acontecer.