Na época pós-pombalina e final do antigo regime até implantação da Republica;Rio de Mouro foi local de residência ou veraneio de importantes figuras da sociedade portuguesa.
Uma dessas personalidades seria Florêncio José da Silva, Marechal de Campo do exercito liberal.
Personagem controversa, havia nascido em Oeiras,na década final do século XVIII. Assentou praça muito jovem,tendo participado na guerra peninsular.Teve carreira militar com rápida ascensão a postos superiores da hierarquia.
Quando deflagrou o conflito que originaria a guerra civil,tomou o partido dos liberais defensores da nova ordem constitucional,emigrando para ilha Terceira nos Açores,para se juntar as forças de D.Pedro IV.
Não acompanhou ida do exercito liberal para o continente, ficando na Ilha de São Miguel com a patente de major como governador militar.
Acusado pela Camara de Ponta Delgada , de estar de conluio ,com desertores e realistas que provocavam distúrbios e roubos, foi expulso da ilha.
No continente não teve qualquer contratempo ,pois ninguém valorizou o que lhe era imputado.
Terminadas as lutas liberais, vamos encontra-lo, morando em Rio de Mouro,residindo na sua Quinta da Gravata, onde em Novembro de 1854,lhe furtaram um relógio e um "grilhão em ouro",mais dinheiro vivo,tudo num valor aproximado de 20.000, reis, equivalente actualmente a 2 milhões de euros.
Em face da importância do roubo, fez queixa ao cabo de ordens Felisberto Antunes,que apresentou auto ao regedor da paróquia, Francisco Firmino, o qual encaminhou ocorrência, para o administrador do Concelho de Sintra.
Não sabemos desfecho final deste episódio; parece que tudo se resumiu ao conselho de mudar as fechaduras das portas da habitação.Facto estranho atendendo ao estatuto do queixoso.
A freguesia de Nossa Senhora de Belém em Rio de Mouro, durante séculos foi a mais importante de todas as do termo da vila.
Neste território do Município de Sintra,possuíam propriedades,normalmente belas quintas,algumas das mais abastadas famílias do Portugal de oitocentos.
Já escrevi neste espaço,acerca de algumas,no entanto ainda há muito para desvendar.
Um dos grandes do Reino senhor de extenso domínio neste rincão Sintrense, foi o Visconde de Beire, Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Miranda e Figuerôa, casado com D. Maria Helena de Sousa Holstein,irmã do Duque de Palmela.
Beire, freguesia do concelho de Paredes, no distrito do Porto, onde este titular detinha Quinta do Paço da Torre, adquirida por herança paterna.
Uma das filhas do Visconde de Beire, casou com Conde de Resende,desse matrimónio nasceu Dona Emília Maria de Castro, viria a casar com o escritor Eça de Queiroz. Por herança recebeu quinta de Vila Nova, em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião que Eça imortalizou no livro " A Cidade e as Serras".
Em Rio de Mouro Visconde Beire era senhor do Casal de Francos, com sua azenha, matas, vinhas e terras de trigo, que arrendadas proporcionavam bom rendimento.
No casal existiu casa onde o visconde e seus familiares, por vezes se refaziam do bulício citadino.
Sendo a esposa de Eça herdeira do Casal,talvez numa visita que o imortal escritor, porventura, haja feito ao sitio,tenha relembrado a escrita de parceria com amigo Ramalho Ortigão," O mistério da estrada de Sintra".Quem sabe?
Além da família Lara da quinta da Fonte Nova, dos Andrade da Quinta do Pinheiro, Visconde do Tojal, Visconde de Benagazil, podemos acrescentar agora Visconde de Beire, atestando a importância social e económica da nossa terra até a implantação do regime Republicano em 1910.
Retomando a temática deste empreendimento, tributário do canal principal do aqueduto das aguas livres, já referido neste espaço,vou lembrar hoje,mais características desta obra,
Depois de receber as aguas das nascentes da chamuscada e do molhapão,o aqueduto antes da aldeia da Venda Seca, aduzia precioso liquido,vindo do poço da quinta do grajal.
Esta nascente vertia agua de excelente qualidade,que foi também aproveitada para outros fins. Famosa agua da fonte do cedro, era base de deliciosa laranjada designada "fonte do cedro",durante muito tempo vendida em lojas da area da grande Lisboa.
Mais tarde cerveja com a marca "cergal", seria laborada com a mesma agua,sendo bebida de muito boa qualidade.As aguas da nascente foram contaminadas com infiltração de efluentes prejudiciais que devem ter tido origem em qualquer obra levada a cabo nas imediações.
Prosseguindo ao longo do traçado, passada Venda Seca, depois de atravessar a estrada de Belas a Mafra,pela serra da carregueira,engrossava caudal do aqueduto agua vinda por conduta própria do Casal do Broco, alturas da quinta da fonteeireira.
Finalmente o aqueduto da mata ligava com denominado das Aguas Livres,no sitio do Casal do Pelão,abaixo da quinta das Aguas livres.
Investigar significa busca permanente na busca de um melhor conhecimento acerca das coisas e dos factos; algumas vezes aquilo em determinado momento achamos ser o mais azado, vem a revelar-se com decorrer da busca incorrecto.
Vem a propósito toda esta temática,de ao texto que escrevemos neste sitio,relativo a sitio maravilhoso da Freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra, conhecido pelo rio dos Veados.
Na altura,escrevi que a origem do topónimo deriva da existência de veados ou gamos. No entanto, igualmente referi no local existem muitos vestígios de antigos "passadouros" para possibilitar passagem a vau, com caudal reduzido a pessoas e carros de tracção animal.
Hoje pela manhã voltei ao local e fiquei com a certeza, o rio ali tem o nome de VIADOS, e não de Veados.
Viado é um caminho, trajecto, viador dizemos referindo-nos a quem vai de viajem, caminhante,transeunte, alguém que peregrina.
Deste modo os locais onde onde viador transpõe a pé um curso de agua a vau, são os VIADOS. Daqui provem igualmente o termo viaduto.
Veados são outra coisa. Assim está tudo certo e perfeito.
O aqueduto das Aguas Livres,emblemática obra de engenharia , mandada construir pelo Magnânimo rei D.João V de Portugal, o qual gastou os recursos do erario publico, até a exaustão,de tal sorte, quando faleceu seria necessário contrair emprestimo para lhe fazerem as exéquias.
O aqueduto capta as principais nascentes no território hoje Município de Sintra sendo a principal no Olival do Santíssimo;foi preciso encontrar mais agua ao longo do percurso, para garantir um caudal suficiente para mitigar a sede aos lisboetas,já que no século XVIII, para lavar as ruas da cidade imundas e fétidas, com suínos a solta pelas calçadas,não havia agua suficiente.
Para o efeito foram construidos aquedutos secundários tributários do principal; um deles é o da Mata, denominado assim porque tem origem no sitio da Mata, junto da ribeira de Vale de Lobos, pouco adiante da localidade do Telhal.
Para reforçar caudal de agua aduzido,foram feitas captações por meio de poços no aquífero subterraneo, o primeiro dos quais da Chamuscada, continua, actualmente, ser utilizado.O segundo era o do Grajal junto da aldeia Venda Seca.
O aqueduto da Mata, entronca com ramo principal ,vindo da banda das terras de Dona Maria, no casal do Pelão, perto da quinta das Aguas Livres.O traçado desta obra é quase totalmente enterrado, no entanto junto a quinta do Molhapão é visível pequena parte da arcaria.
Parece algumas vezes por ocorrências trágicas que se vão verificado amiúde, determinados sítios,são cobertos por assombramento.
Na antiga estrada Lisboa Sintra, adiante da paragem do Alto do Forte,entre Rio de Mouro e Ranholas,diversos factos de final infeliz ali verficados,contribuíram para dar má fama aquele, durante seculos, um ermo.
O primeiro desses eventos , falecimento súbito de uma senhora viajante; sentiu-se mal, devido a solidão do lugar não foi possível socorro; seus filhos em memória desse infausto acontecimento, mandaram erigir cruzeiro que ainda lá existe.
No livro Mistério da Estrada de Sintra, de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, colocam inicio do enredo a " meia distancia do caminho entre S.Pedro de Sintra e o Cacém, num ponto que não sabemos o nome (...), sitio deserto como todo caminho através da charneca".Sem dúvida no trecho do caminho que identificamos.
Na década de 1930, acidente de automóvel perto do local onde funcionou durante muito tempo a estalagem " A Toca ", vitimou jovem e talentoso escultor Roque Gameiro, e sua esposa. Este artista natural da Amadora era filho do celebre aguarelista do mesmo apelido.
No romance de José Cardoso Pires " A Balada da Praia dos Cães", o crime que serve de temática da obra, foi prepertado também por estas bandas.
Não sabemos assombração já terá passado; que dá que pensar lá isso dá...
A flora do parque urbano da Rinchoa, Rio de Mouro , Sintra, tem características que indiciam estarmos na zona de transição do Portugal do Sul vincadamente mediterrâneo, seco, e o do Norte Atlântico e húmido.
Uma das espécies que polvilham o espaço do parque, é o medronheiro, arbusto perene de madeira dura folhas coriáceas, flores brancas e frutos de cor alaranjada ou também vermelha-viva. Desses frutos depois de fermentados se faz aguardente de gosto peculiar.
O medronheiro,em algumas regiões de Portugal,denomina-se ervideiro,ervado ou érvedo.
Este medronheiro que fotografei, tem muitas dezenas de anos, avaliar pelo tronco e altura. Neste momento tem abundante floração e os frutos vão ganhando coloração.
Atendendo a época do ano,parece estranha esta situação. Neste Mundo em que vivemos tudo é estranho.
As abundantes águas novas caídas nos últimos dias recarregaram as nascentes aqui por estas ocidentais paragens da grande Olisipo.
Nas antigas terras do prazo de Meleças, mais tarde Quinta Grande, no exacto local onde a Ribeira de Vale de Lobos toma a designação de Fitares, na ponte que une a Rua da Quinta Grande com a Avenida das Nogueiras, na Rinchoa o caudal do curso de água apresenta agora ar que lhe proporciona a origem do precioso liquido quando brota de nascente.
Para tornar ainda mais idílico o repousante o quadro, o leito da ribeira foi recentemente limpo e despojado da vegetação inútil que entrava livre caminho das águas; enfim, tudo parece justo e perfeito.
É tudo por agora desde este encantado rincão de Sintra que é a Rinchoa, na freguesia de Rio de Mouro, onde fará para o ano meio século habito com muito gosto e sentimento de pertença.
Na linha divisória das freguesias de Algueirão Mem-Martins, e de Rio de Mouro, Município de Sintra, na rotunda área comercial do Alto das Mercês,deparamos com uma artéria denominada : Rua da Chamuscada.
Seguindo a direcção indicada pela seta,verifiquei,a via termina junto a estaleiro de materiais de construção,e seguindo-se terrenos de matos e arvoredo.
No entanto até a pouco mais de um século,não seria assim; no espaço hoje ocupado por quintas e construção de moradias; até ao Recoveiro, Baratã, e Pexilgais,existia um dos grandes olivais dos arrabaldes de Lisboa, celebre OLIVAL DA CHAMUSCADA.
Por estas bandas abundava e abundam aguas subterrâneas,amiúde brotando a superfície,como a famosa fonte do Pinhal do Escoto.
Na Chamuscada,seria aberto profundo poço cuja agua através de canalização subterrânea servia para alimentar o aqueduto da Mata, que por sua vez transportava o precioso liquido para o Aqueduto das Aguas Livres destinado mitigar a sede aos Lisboetas.
Tão abundante era a nascente daquele poço que nem durante a grande estiagem de 1856 secou.
Recordando a Chamuscada resta placa toponímia, e agora este apontamento porque até as cartas geográficas editadas pelos serviços da Camara Municipal de Sintra, indicam erradamente "chamusca " no lugar do verdadeiro topónimo.
No já distante 1957,dia 2 de Junho, seria inaugurada com pompa e circunstancia a instituição que serve de titulo a este apontamento.
Estiveram presentes,o Ministro da Educação , Dr. Leite Pinto o presidente e vice presidente da Camara Municipal de Sintra,respectivamente Dr. César Moreira Baptista e Capitão Américo Santos,alem do vereador do pelouro municipal da cultura e grande dinamizador da obra,o Professor Doutor Joaquim Fontes; claro a viúva de Leal da Camara Dona Júlia e muitos outras individualidades, nomeadamente o visconde de Asseca.
A noticia do Diário de Lisboa, remetida telefonicamente para a redacção, refere justamente carácter pitoresco da nossa singular Rinchoa.