A Mocidade Portuguesa Feminina era uma organização instituída na vigência do regime salazarista do chamado "Estado Novo" (1926-1974).O seu objectivo era educar as jovens das classes dirigentes para serem boas donas de casa, esposas carinhosas e católicas devotas amigas dos pobrezinhos.
A M.P.F. para realizar os seus fins, assumia-se como sendo para jovens "nacionalistas" e da classe dirigente. Promovia diversas acções uma das quais era a edificação de "nichos" com a imagem de Nossa Senhora normalmente colocados no cruzamentos dos caminhos como eram antigamente as "alminhas e cruzeiros" a M.P.F. cultivava um tradicionalismo de índole ruralista presente em toda a ideologia do regime. As filiadas da Mocidade consideravam-se donzelas de Nossa Senhora.
Com o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 a Mocidade foi extinta e muitos dos "nichos" foram destruídos, praticando-se um verdadeiro atentado contra um facto da nossa história recente, que deveria ser preservado para conhecimento dos vindouros sem preconceitos... Das muitas centenas que existiam por todo o País o que se encontra na Rinchoa no final da Avenida dos Carvalhos no cruzamento da Rua das Casuarinas é dos poucos existentes. Merece ser conservado como testemunho dum tempo que marcou o quotidiano de milhares de portugueses do qual sem paixões devemos cada vez mais conhecer os factos. É de realçar o cunho tradicional e elitista da citação em latim.
O estudo da M.P.F e a sua influencia na educação das "meninas e moças" do Portugal da ditadura foi objecto dum magnifico trabalho da Doutora Irene Flunser Pimentel galardoada com o Prémio Pessoa de 2007.
Mais um dos motivos de interesse de Sintra e da Rinchoa.
Um dos ex-líbris da Vila, o Palácio Nacional com as suas enormes chaminés, tinha um visual diferente de agora. Na actualidade tem um terreiro fronteiro ladeado por uma praça, cujo conjunto é relativamente recente, datado de 1930.
Antes da implantação da República em 1910, o acesso ao Palácio da Vila fazia-se por um portão situado em frente do actual Café Paris. Uma vez demolido, foi colocado no topo do Palácio onde existe uma esguia palmeira. A coluna Neo-Manuelina visível no postal ilustrado deslocaram-na para o Largo da Misericórdia.
O terreiro referido, foi denominado (Rainha D. Amélia) por decisão da Câmara Municipal, como "contraponto" à Praça da República, que designa o espaço exterior anteriormente baptizado com o nome daquela rainha.
Esta "história" é explicada por José Alfredo da Costa Azevedo no seu livro "A Vila velha" (ronda pelo passado).
Mais do que as palavras as imagens mostram as modificações realizadas ao longo de 100 anos.
Será um exercício interessante, descobrir as diferenças das alterações operadas no decurso de um século. É indesmentível que a imponência e a beleza do Palácio foram realçadas.
Numa próxima visita a Sintra, os leitores terão um acrescido motivo para admirarem melhor uma terra única e sedutora: ONTEM "CINTRA" E HOJE "SINTRA"...
Os acontecimentos de 1 de Fevereiro de 1908, que determinaram o assassínio de D. Carlos I e do Príncipe herdeiro Luís Filipe, provocaram grande impacto em todo o País.
A Câmara Municipal de Sintra, a exemplo de outras, reuniu extraordinariamente para marcar posição perante o sucedido.
Sendo Sintra uma Vila frequentada pela "Família Real", é interessante divulgar o que a Câmara Sintrense deliberou.
A acta da reunião extraordinária do Município realizada em 10 de Fevereiro de 1908 reza o seguinte:
"Nesta Vila de Sintra, Paços do Concelho e Sala das sessões da Câmara Municipal, reuniu em sessão extraordinária, a Comissão Administrativa do Município, sob a Presidência do Senhor Visconde de Tojal, achando-se presente os Vogais Senhores Francisco Gonçalves da Silva, Alfredo Cambournac , Henrique dos Santos e José Maximino C. Barros, estando também presente o Senhor Administrador do Concelho Visconde da Idanha. Aberta a sessão, era meio dia. O Senhor Presidente declarou que convocava esta sessão extraordinária, para hoje, por ser o primeiro dia útil depois dos tristíssimos acontecimentos do dia um do corrente em Lisboa, para dar conhecimento à Comissão de que, logo no dia dois ao ser conhecido aqui o nefasto atentado, que vitimou Sua Majestade El-Rei D. Carlos, Sua Alteza o Príncipe Real D. Luís Filipe, dirigira telegramas a toda a "Família Real" em nome do Município, manifestando o seu sentimento pela perda que enlutara o País, telegrama de que já recebeu os agradecimentos, que apresenta à Comissão, e de que esta tomou conhecimento.
Que não obstante estar cumprido esse dever, e de ter já ido pessoalmente ao Paço, acompanhado duma numerosa comissão de proprietários e comerciantes de Sintra, e, inscrevendo-se no registo das condolências, propunha que na acta desta sessão se consignasse...
O profundo sentimento do Município, pelo infausto acontecimento, e o seu protesto contra o infame atentado que roubou as vidas preciosas de D' El-Rei e do Príncipe Real, que fazendo esta proposta, estava convencido de interpretar o sentir geral de todos os Munícipes , tanto mais que o Concelho de Sintra, deve à Família Real", especial predilecção, demonstrada, pela honra da sua permanência aqui, todos os anos, por larga temporada, o que tanto têm concorrido para o desenvolvimento do seu comércio e da sua riqueza, predilecção e dedicação de que ainda há muito pouco tempo foi dada eloquente prova, por Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia, dignando-se aceitar a presidência da "Liga Promotora dos melhoramentos de Sintra", que tanto deve concorrer para o engrandecimento do Concelho. Que por todos estes factos, e, por outros que se abstêm de relatar, e são do conhecimento da Comissão, propunha que do voto de sentimento aqui consignado, se desse conhecimento à Família Real", e que na igreja paroquial de S. Martinho, se celebrasse no dia 21 do corrente, vigésimo dia depois do atentado uma missa de requium " sufragando as almas de Sua Majestade e Alteza Real, convidando-se oficialmente todo o funcionalismo público do Concelho a assistir a esse acto de cuja celebração se dará publicidade para que todos a ele possam assistir. O que tudo foi aprovado, por unanimidade, deliberando mais a Comissão que todas as despesas com essa cerimónia religiosa, fossem particular e individualmente pagas pelos respectivos vogais.
Tendo-se associado a todas estas manifestações o Senhor Administrador do Concelho. Foi seguidamente encerrada a sessão".
A acta:
Nem todos os presentes assinaram a acta. Ninguém usou da palavra, além do Visconde do Tojal.
O facto das despesas da missa terem sido assumidas pelos membros do executivo, demonstra o receio de reacções dos Munícipes . Esta acta revela, que em Sintra a influência do ideal Republicano era notório , e, que os monárquicos já não assumiam com convicção a defesa do Regime. Para além da morte lamentável de dois seres humanos o que morreu em 1 de Fevereiro de 1908, foi a monarquia, apesar de formalmente só o ter sido em 5 de Outubro de 1910.