É quase um lugar comum afirmar Sintra, como um sítio ímpar cheio de "mistério" e fascínio, onde em qualquer recanto podemos deparar com novos motivos de interesse acentuando uma singularidade que nos encanta. Por diversas vezes temos neste espaço dado conta da presença de vetustos FREIXOS.
Observando com alguma atenção constatamos que no Município, e com mais evidência em toda a VILA DE SINTRA, existem magníficos exemplares. Sendo considerado pelos povos antigos como um símbolo da imortalidade guardador das brumas e da frescura, sem dúvida tem em Sintra um "habitat" perfeito!
Há poucos dias reparamos que na Calçada de S.Pedro, logo a seguir à curva apertada junto ao Casal da Penalva, quinta que pertenceu a um malogrado piloto Brasileiro da Formula 1, do lado esquerdo da via no sentido do Centro Histórico e Palácio da VILA, crescem seis FREIXOS porventura plantados na berma da estrada, quando foi alargada no ínicio do século XX. Provavelmente terá sido assim, porque meio escondido abrigado na sombra do freixial encontramos uma pedra, talvez, um marco com a inscrição 1900.
Os FREIXOS com as sua ramagem ocultam uma parede rochosa de imponente aspecto, que deve ter resultado dos trabalhos do alargamento.
Os FREIXOS apresentam troncos um pouco degradados sinal evidente de idade avançada. Quem sabe se não teriam sido plantados no ano gravado na pedra? Se for correcta esta suposição teríamos aqui um conjunto de velhas árvores com uma espécie de "certidão", atestando o dilatado tempo que alindam o local. Mais um sortilégio de SINTRA...
Nem todos gostam das árvores e algumas vezes não perdem um ensejo de demonstrar essa sua faceta. Sendo um património de especial relevância, as plantas requerem cuidados redobrados para poderem crescer e tornar-se frondosas e elementos marcantes da paisagem. Quando atingem grande porte e provectas idades ainda mais atenção exigem.
No nosso apontamento de 9 de Março de 2008, escrevemos sobre o fim triste de dois pinheiros mansos, seculares, que por serem árvores notáveis tinham sido cuidadosamente preservados pela CÂMARA MUNICIPAL DE SINTRA em 1972, quando foi emitido o alvará de loteamento da Urbanização da Rinchoa onde cresceram.
Posteriormente sem qualquer cuidado foram colocadas grossas lajetas que impermeabilizando o solo impediram a irrigação, como consequência secaram. Mas os autores de tal desmando não satisfeitos cortaram pela base um PLÁTANO com mais de trinta anos, só porque as suas fortes raízes fizeram levantar o "lajedo" asfxiante. O resultado de tudo isto é deprimente! Tivemos conhecimento que uma Autarquia no Norte de PORTUGAL tinha estabelecido um regime de coimas a pagar pelos responsáveis do abate injustificado de árvores na via pública ou por cortes exagerados nas podas.
Talvez não fosse descabido aplicar o mesmo aos responsáveis deste "arboricídio". Estas árvores, nomeadamente os pinheiros saíram vencedores da fúria de ventos e tempestades como o ciclone que varreu o Nosso País em Fevereiro de 1941, infelizmente pereceram pela incúria de quem não respeita as velhas árvores. Parafraseando um grande Português, o Sr. Engenheiro Ferreira Dias - o problema Português não é uma questão somente SILVÍCOLA é sobretudo, PEDRÍCOLA, porque o que abunda mais são os CALHAUS aos quais se não pode exigir sejam mais do que isso mesmo.
A pedra bruta nada sabe do significado das árvores de qualquer espécie. Mesmo assim nada desculpa este lamentável episódio.
As árvores além da sombra e da madeira, proporcionam as populações outros motivos justificando o seu plantio em determinados locais. Algumas espécies como o TEIXO serviam para assinalar os locais de enterramento dos fiéis junto de igrejas e Ermidas. Ainda hoje nas ASTÚRIAS, no Norte de Espanha, existem teixos milenares em adros e cercanias de templos.
Os Celtas consideravam o teixo uma árvore funerária. Outras crenças difundiram a ideia de que a sombra da figueira não é saudável porque segundo a tradição Judas que traiu CRISTO, enforcou-se numa.
Poderíamos evocar muitos outros exemplos, ficaremos pelas "mágicas" propriedades associadas aos FREIXOS. Referimos em anterior apontamento uma possível razão para se encontrarem estas árvores nas imediações dos locais de culto cristão. Deparámos com um robusto provavelmente secular, junto da IGREJA MATRIZ de Rio de Mouro no concelho de Sintra, cujo orago é NOSSA SENHORA DE BELÉM. Este templo foi mandado construir no século XVI pelos Frades Jerónimos do Mosteiro da Penha Longa fervorosos devotos da VIRGEM DE BELÉM.
O freixo que no presente se encontra na via pública deveria em tempos recuados estar no terreiro do adro. Segundo (Chevalier e Gheerbrant 1982) ao freixo atribuía-se a propriedade de afugentar as serpentes dos locais onde estivessem plantados.
Na Bíblia simbolicamente a serpente representa o pecado. Poderia ser esta outra das razões porque se plantariam freixos na envolvente dos Templos. Pretendia-se que tais sítios estivessem resguardados dos "Pecados do Mundo", para isso, um meio adequado seria recorrer ao "poder mágico" da árvore que as serpentes temem? O FREIXO é uma planta "virtuosa".
As árvores são elementos indispensáveis para compreender a cultura dos Povos.
Cada árvore notável destruída é algo que não se pode remediar porque com ela se esfuma um pouco da nossa memória colectiva. Proteger as árvores é um dever da CIDADANIA.
Coincidindo com o primeiro Domingo a seguir a primeira Lua cheia ,depois do EQUINÓCIO, chega a celebração da Páscoa. Umas vezes mais cedo, outras mais tarde, mas quase sempre em Abril dependendo do caprichoso deambular celeste do "espelho do Sol".
A Páscoa para os cristãos é a festa anual relativa a Ressurreição de Cristo, para outros povos tem significado diverso, podendo afirmar-se que a Páscoa é um ritual de "passagem" do tempo de privações e sacrifícios para outro mais abundante e promissor. A Páscoa tem um cariz profundamente associado ao campo e as actividades campestres.
Noutros eventos festivos há uma ligação entre a festa e uma árvore, como acontece no Natal.
Relacionado com a Páscoa não se conhece facto semelhante. No entanto, sempre que se aproxima esse período um pequeno arbusto conhecido popularmente por "pasquinhas ou pascoinhas", rapidamente fica coberto de pequenas flores brancas que os primeiros calores fazem desabrochar e com igual celeridade secam. Em Portugal este arbusto abunda de Norte a Sul, sendo possível encontrar muitos exemplares em todo o Concelho de Sintra.
As flores das pasquinhas são designadas em alguns locais, poeticamente, por "lágrimas".
Em concreto anunciam o tempo Pascal, por isso como "presságio" deixamos um espécime que encontramos num jardim público de SINTRA. As celebrações do homem têm uma grande "cumplicidade" com o decorrer da NATUREZA...
É natural surgirem incredulidades sobre o facto de escrever sobre as árvores. Sem tentarmos fazer "doutrina" acerca do tema, pensamos ser um veiculo apropriado para se compreenderem as questões que interessam resolver, no sentido de contribuirmos para um Mundo mais justo e fraterno.
Ouvimos dizer de amiúde que: "RUIM ÁRVORE NÃO DÁ BOA SOMBRA". Comparativamente quem dirige uma instituição ou um País, se não for pessoa capaz, vai causar com a sua incapacidade sofrimento aos que dependem do seu desempenho, quem dirige tem de ser uma boa ÁRVORE.
Associada ao poder não admira que os ricos usem o seu desafogo económico, para plantarem bosques de árvores raras nas suas propriedades. Em Sintra, as várias quintas existentes, são um exemplo disso. Os frutos e os ramos são alimento e calor para os menos afortunados. Acolhem os ninhos da aves, da sua madeira será o abrigo da nossa última viagem para o OCASO.
Simbolicamente pela árvore, muitas "estradas" se abrem, e permitem que por elas discorra o livre pensamento alheio, a preconceitos e ao fanatismo permitindo o exercício pleno da cidadania.
A árvore reúne em si todos os elementos: a água da seiva, a terra onde a fixam as raízes, o ar que as suas folhas agitam e ajudam a regenerar e o fogo que "nasce" da fricção dos ramos secos.Quase tudo se pode associar a árvore! Desde a origem das famílias, à ÁRVORE DA VIDA...
Escrever tendo as árvores como tema é reportar-nos ao pilar central suporte da nossa existência, e dispor dum imenso manancial de exemplos para melhor entendermos a humanidade.
Deixamos a imagem dum pequeno carvalho silvestre nascido numa mata Sintrense bem perto duma "floresta " de prédios de betão.