A ocidente há sempre novidades, gostaríamos de partilhar uma delas com quem nos "visita".
No já distante dia 2 de Fevereiro de 1935, realizou-se no então denominado Aeródromo da Granja do Marquês, aqui em Sintra, a cerimónia de recepção de uma nova unidade de avião destinada á Força Aérea da Armada. Por essa altura, na Europa, parecia que os ventos estavam de feição para as correntes politicas totalitárias e antidemocráticas, em Portugal os sentimentos germanófilos iam ganhando adeptos. Na Assembleia Nacional aprovou-se a lei contra as sociedades secretas visando sobretudo a maçonaria, que motivou um artigo de Fernando Pessoa insurgindo-se contra tal deliberação, publicado no Diário de Lisboa de 4 do mesmo mês. O Estado Novo "legitimado" pela Constituição Política de1933, assumia que acima de tudo se devia glorificar o seu líder. Até o Presidente da República General Carmona na sessão inaugural da Assembleia Nacional na sua mensagem afirmava"é de elementar justiça destacar a acção altamente patriótica e tão eminentemente notável, do Presidente do Conselho,António de Oliveira Salazar".
Como na ideologia do Estado Novo, a primazia devia ser dada à "existência de um Exército e de uma Armada valorizados pela posse de uma técnica perfeita e suficientemente providos de meios materiais".Dado o desafogo do Tesouro Público ter sido alcançado aqueles meios poderiam ser adquiridos, isso foi feito, assim na data referida um Sábado,poisou em Sintra uma aeronave para equipar as Forças Armadas. Os destinatários da mesma atribuíram-lhe, como homenagem "ao mago das finanças" o nome: Salazar.
E aqui fica desvendado o local onde o ditador primeiro "aterrou",há precisamente 75 anos.
Foto Propriedade do Arquivo Nacional Torre do Tombo
Título: O avião Salazar ao aterrar na Granja do Marquês, em Sintra.
Antes e após o 5 de Outubro de 1910, a Praia das Maçãs era sítio de veraneio de simpatizantes e, depois da revolução de personagens marcantes do regime republicano. Na Praia das Maçãs ou simplesmente: "A Praia", como a designavam os sintrenses, ocorreram episódios interessantes. Para quem desejar conhecer com pormenor, sugiro a leitura do livro do ilustre sintrense - José Alfredo da Costa Azevedo "Velharias de Sintra VI" p.p.99-182.
Curiosamente na revista ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA nº 398 de 6 de Outubro de 1913, pode ler-se :"Os civis que guardam a casa da Praia das Maçãs onde está veraneando o chefe do Governo (Dr. Afonso Costa), de há muito verificavam que vultos misteriosos passam, nos atalhos próximos buscando ocultar-se como a espreitarem a residência. De dia para dia foi-se apertando a vigilância tendo uma noite descoberto que cinco indivíduos faziam a costumada manobra depois de terem enterrado alguma coisa na areia, e que se verificou depois ser uma mala de bombas". O atentado como se sabe fracassou, repare-se que quem vigiava a casa eram civis. Nos primórdios da República a desconfiança dos novos dirigentes na eficácia das forças da ordem, fez com que se formassem comités de de defesa que assumiam a missão de garantir a segurança dos líderes republicanos.
A casa de veraneio de Afonso Costa é referida como sendo o antigo Hotel Levy. O que José Alfredo afirma ser o Hotel Royal. Como a "Ilustração" é da época deve estar correcta. Não restam dúvidas que tudo isto se passou na Praia das Maçãs. A foto é elucidativa...
Título: "A casa da praia das Maçãs (antigo hotel Levy), onde habita o Chefe do Governo, e que os sindicalistas Miguel Gaião, Jaime Granja e mais três, procuravam atacar". Empresa Pública do Jornal O Século, Joshua Benoliel, lote 08, cx. 01, negativo 11
No final da Monarquia, o Povo em Portugal vivia em em condições de tal modo precárias, que estavamos muito abaixo de qualquer País Europeu da época.
Na revista ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA nº335 de 22 de Julho de 1912, a propósito duma reportagem sobre um episódio conspirativo contra o novo regime implantado em 5 de Outubro de 1910, pode ler-se que "No Casal da Carregueira perto de Belas foram apreendidas armas e alguns conspiradores". A reportagem é ilustrada com diversas fotos uma das quais retrata os caseiros da dita propriedade. É um documento elucidativo do que seria a vida no campo em Portugal. Notemos que estas pessoas viviam as portas de Lisboa. Aqui aplica-se sem contestação o princípio: Uma imagem vale por mil palavras...
Foto de: Empresa Pública do Jornal O Século, Joshua Benoliel, lote 02, cx. 01, negativo 06