A urbanização da Rinchoa desenhada por Leal ds Câmara, entre outros aspectos que iremos referir futuramente é um repositório dos ideais e influencias que contribuíram para a singularidade da sua obra.
Como anteriormente chamamos a atenção, Leal teve uma preocupação devidamente fundamentada na escolha do nome das árvores para denominar as artérias da Rinchoa. Um dos exemplos mais interessantes é o da AVENIDA das TÍLIAS. Sabemos que esta árvore é uma das mais profundamente simbólicas da mitologia germânica, a sua flor perfumada ainda hoje enche de encanto a principal avenida de Berlim "Unter den linder".
Significa a profunda admiração que Mestre Leal, devotava à cultura alemã. Foi um acérrimo inimigo do belicismo Prussiano, no entanto fazia sempre a destrinça entre o imperialismo alemão e a contribuição do pensamento dos intelectuais daquele País, para o progresso da humanidade.
A avenida das tílias foi projectada de modo que o seu eixo em perspectiva se encontrasse com o do Palácio da Pena,obra do rei germânico D. Fernando II.
A esta admiração pela cultura alemã era também perfilhada pelos seus amigos, Acúrsio Pereira em discurso de homenagem póstuma a Leal, escreveu sobre ele: "LOHENGRIN não partiu definitivamente na sua maravilhosa concha nacarada arrastada pelo manso ruflar das asas de uma pomba branca", trata-se de uma alusão à bela composição de Wagner. A avenida das Tílias com a silhueta do castelo da Pena ao fundo, é uma deliberada opção de Leal, no sentido de realizar mais um das suas frequentes fantasias, que enigmaticamente encontramos, em muitas das suas criações. Enfim mais um mistério da Rinchoa, não só no sentido de uma encenação, mas também uma marca de algo transcendental e divino.
A notícia correu célere, o nosso amigo e grande Pampilhosense José Augusto Veiga Nunes de Almeida presidente da Câmara de Pampilhosa da Serra durante, vários mandatos faleceu. Apesar das nossas diferenças de opinião,tive com ele as mais cordiais relações. Sem qualquer tipo de dúvida a sua actividade como Autarca e dirigente do corpo de bombeiros, foi de tal modo notável, que iniciou o processo de modernização que o concelho da Pampilhosa da Serra, hoje apresenta. Teve dedicados continuadores, no entanto quem lançou as sementes e desbravou o caminho isso foi ELE.
Não posso deixar de referir o apoio e interesse com que acompanhava as minhas pesquisas sobre a História da Pampilhosa, jamais esquecerei a palestra que proferi em 1989, no salão nobre da Câmara Municipal que disponibilizou para o efeito com todo o entusiasmo e guardo como grata recordação a sua presença como um dos assistentes.
Partiu ainda novo, infelizmente para os que são mais queridos, e para mim que jamais ouvirei a sua pergunta cada vez que nos encontravamos na Pampilhosa: "Então Júlio como anda a tua mãe?", a qual dedicava especial carinho.
Não poderei acompanhar, o teu percurso final até a última morada no cemitério da Terra que tanto amavas, por isso resolvi escrever estas linhas. Zé Augusto Adeus. Na galeria dos mais ilustres naturais da Pampilhosa da Serra é teu por direito e merecimento um lugar de relevo.
Numa das deambulações em busca do património arbóreo desconhecido de Sintra, deparamos com um freixo, crescendo em plena liberdade quase se não dá por ele, apesar de estar em espaço aberto, fica no entanto, dissimulado entre árvores mais pequenas .Talvez por isso o seu enorme tronco não sofreu as incisões dos canivetes, que alguns usam para "perpetuar" devaneios românticos, sem atenderem que cada árvore, como todos os seres vivos não deve ser maltratada. A raiz mergulha num arroio próximo, esta particularidade e a terra fértil contribuíram para que fosse possível atingir o fuste grandioso que apresenta. Na tradição germânica o freixo (yggdrasil), "permanece imóvel, de pé, invencível. Nem as chamas,nem os gelos, nem as trevas o abalam." Parece ser o caso. Na opinião de quem sabe calcular a provável idade das árvores,terá cerca de duzentos anos.
Observando os seus ramos notamos que são mais grossos que o tronco de muitas árvores. Aqui, ajusta-se plenamente o que Eça de Queirós, escreveu nas sua obra Prosas Bárbaras "balançando os ramos, (o freixo) parece lançar ao povo curvado das plantas, das ervas e das relvas, a sua bênção soberba". Por isso se justifica o título.
A antiga estrada(EN 250-1) que liga Belas à sede do Concelho de Sintra, foi traçada atravessando a Serra da Carregueira. Um pouco adiante do Quartel do Regimento de Infantaria nº1, passando a curva da Tapada dos Coelhos, rectificada para se abrir a auto-estrada A16, a estrada torna-se estreita, porque surge uma ponte, construída para permitir o atravessamento da regueira da Tala, cuja nascente ocorre no interior da Quinta do Molhapão, percorrendo depois um pequeno curso até desaguar na Ribeira da Jarda, junto à ponte medieval da Rinchoa, nas imediações da estação ferroviária de Mira-Sintra Meleças. Centenas de automobilistas circulam diariamente pelo local desconhecendo o facto de transitarem sobre uma elegante construção, que resultou num belo trabalho de cantaria. O bom estado de conservação, advêm do projecto ter sido bem executado. Foi construída no inicio do século XIX, sobre ela passaram e passam, pessoas e mercadorias, de importância relevante para o desenvolvimento da região. Por ter sido pensada para um determinado tipo de tráfego, só possibilita a passagem de um veículo de cada vez, ainda bem assim o esforço sobre a ponte atenua-se. Nem pensem alargá-la; uma obra de arte como esta deve ser preservada porque faz parte do património sintrense. Deixamos as fotos para ser ver tal como está, assim quando passarmos no local e tiveremos de parar, cumprindo as regras da circulação não encaremos o facto como contratempo, mas sim um contributo para a PONTE DA TALA continuar de boa "saúde" por muitos anos. Vindo do lado de Meleças, fica depois do semáforo existente na via, designada Avenida Dr. António Nabais, fundador dum prestigiado colégio situado nas proximidades.
O conjunto urbano da Freguesia de Massamá no Concelho de Sintra, está edificado sobre terrenos de grande aptidão agrícola, que a construcção imobiliária, infelizmente destruiu. Durante séculos este pedaço da grande Lisboa, foi zona de quintas,uma das quais a QUINTA DO PORTO, pertenceu no século XIX ao Visconde de Azarujinha. No perímetro do "porto" existiam as propriedades do "cerrado do galego, almarjão de cima, almarjão do brejo, terra da carapuça, terra da barraca, terra da mata". Além destas detinha a "terra da gorda" no sítio da barota (actual Massamá norte).
Não se pense que estes prédios rústicos eram do Visconde da Azarujinha desde tempos imemoriais, nada disso, os bens vieram à sua posse na qualidade de herdeiro universal de sua mãe Dona Libania Carlota de Freitas que os comprou a António Gonçalves Lobato, conforme escritura de 26 de Novembro de 1870.
O visconde de Azarujinha de seu nome António Augusto Dias de Freitas, nasceu a 15 de Fevereiro de 1830, em Lisboa, filho dum abastado comerciante, António Dias de Freitas e da Senhora acima citada. O titulo de visconde foi mercê de EL-REI D. Luís dada em 2 de Agosto de 1870, mais tarde seria Conde com o mesmo título. Foi prospero empresário e proprietário. Membro da Câmara dos Pares do Reino, teve foro de fidalgo cavaleiro da Casa Real, por alvará de D.Luís,assinado em 30 de Setembro de 1862. Ao ser empossado membro da Câmara dos Pares Do Reino foi elaborado
o seguinte registo:
Nome:Visconde de Azarujinha
Idade:40 anos
Estado: casado
Emprego ou profissão: proprietário
Morada: Largo Conde de Pombeiro Lisboa
Contribuição paga:150$862 Réis
A contribuição paga correspondia a cerca de 10% de um rendimento colectável,ou seja um milhão e quinhentos mil réis, uma fabulosa fortuna para altura.
Massamá estava integrado na Freguesia de Nossa Senhora da Misericórdia da Vila de Belas. O senhor Lobato deve ter adquirido as terras quando da venda dos bens dos Conventos extintos pelo regime Liberal, durante séculos os donos destas herdades foram os monges do Convento de Santos-o-Novo da cidade de Lisboa. Gonçalves Lobato era também um rico comerciante, e proprietário de grandes domínios no Alentejo. A especulação fundiária que antecedeu o "boom"urbanístico no concelho de Sintra, beneficiou maioritariamente os "novos ricos" que o liberalismo fomentou, os comerciantes que dispunham de liquidez, realizaram óptimos negócios. Isto das "privatizações" foi sempre uma mina, para alguns. A Quinta do Porto, ficava ao cimo da "urbanização da quinta das flores", incluia quase tudo o que hoje se designa "Massamá" com exepção do Casal do Olival.
Uma das mais distintas e solarengas propriedades do concelho de Sintra é a denominada quinta do Molhapão situada na Freguesia de Belas, no lugar da Tala, perto da estação ferroviária de Mira Sintra- Meleças.Trata-se duma herdade com séculos de história, e sobre a qual se tem escrito alguma, prosa com o seu quê de fantasioso. Relacionado com a quinta apuramos que tinha bons pomares e dava bastante trigo.
No ano de 1822, a fruta produzida: limões, peras, figos e laranjas era vendida na Rua das Portas de Santo Antão nº106 em Lisboa. Domicilio hoje, de um conhecido restaurante. Nesta rua, fica o palácio que foi dos senhores da quinta, o chamado palácio Alverca, na actualidade, edifício sede da Casa do Alentejo.
A quinta do Molhapão abundava em água, que esteve para ser aproveitada e canalizada directamente ao aqueduto das Águas Livres construído entre Belas e Lisboa. No subsolo e em todo o vale da Ribeira de Vale de Lobos existe a grande profundidade um dos maiores lençóis aquíferos de Portugal. Quase no final da Monarquia (1905) o Visconde de Alverca, requereu que a sua propriedade fosse sujeita ao regime florestal, o que foi concedido. Contigua à quinta ficava a herdade do Minhoto; a Rua que existe na Tala com esse nome indicava o caminho. A quinta do Molhapão e o Minhoto em conjunto tinham uma área de 288 hectares, 100 dos quais eram de pinhal, 100 de cultura e 88 de charneca. Estes últimos o dono obrigava-se a arborizá-los no prazo de 20 anos. Era uma medida acertada porque sendo Meleças centro produtor de cal e onde laborava um forno, que necessitava de significativas quantidades de lenha, fazia todo o sentido. No entanto, as vicissitudes da História, alteraram tudo.
Em 1914, já na vigência do regime Republicano, José de Sá Pais do Amaral, Visconde de Alverca solicitou que fosse retirada do regime florestal aquele seu imóvel, o que foi concedido, conforme decreto nº340, publicado no Diário do Governo ñº 29 de 28 de Fevereiro do citado ano. A Quinta do Molhapão está classificada como imóvel de interesse concelhio nos termos do regulamento do PDM de Sintra em vigor.Por agora vamos, molhar pão noutro azeite,como quem diz:terminamos.Oxalá tenhamos dado "novidades".Acerca da origem do topónimo voltaremos a escrever.