Fernando Formigal de Morais, simpatizante do Partido Republicano Português (P.R.P.) presidiu a Comissão Administrativa designada para dirigir a Câmara Municipal de Sintra, imediatamente à implantação do regime republicano em Portugal, consequência da revolução eclodida no dia 5 de Outubro de 1910. Seu pai Domingos José de Morais, mandou construir a escola "Morais", a qual chegou a dispor de uma banda filarmónica privativa. O estabelecimento de ensino foi depois oferecido a edilidade sintrense a qual ainda pertence. Para homenagear Formigal de Morais a Câmara Municipal de Sintra, na presidência do Dr. Fernando Seara, deliberou atribuir á escola básica de Varge Mondar Freguesia de Rio de Mouro, o seu nome. A cerimónia teve lugar em 5 de Outubro de 2010, integrada nas comemorações do centenário da implantação da República Portuguesa. Outros factos relativos á vida de Formigal de Morais, são do conhecimento mais ou menos generalizado.Curiosamente durante pesquisa no âmbito de trabalho académico, encontramos no jornal "A Comarca de Arganil" de 24 de Junho de 1909 a notícia seguinte:
"Na acreditada casa de novidades Baeta Dias,da Rua Augusta 23 a 25 -Lisboa, foi na quinta feira (17),inaugurada uma exposição de cravos. É uma exposição realmente interessante, que muito honra o cultivador Sr. Fernando Formigal de Morais, de Cintra. Tem apresentado ali exemplares lindíssimos que têm sido muito apreciados pelos numerosos clientes"
O conteúdo não deixa dúvidas quanto à identidade do "cultivador" e local da floricultura. O dono da loja era natural de um dos concelhos da então comarca de Arganil, formada além daquele, mais Góis e Pampilhosa da Serra. A actividade de floricultor deste destacado membro da elite sintrense do século XX, seria desconhecida ao divulgarmos esta ignorada faceta honramos a sua memória e cumprimos um dever...
A revolução Republicana iria ocorrer daí a um ano o fervoroso adepto da República, plantava cravos, sem cogitar a proximidade do dia que ambicionava chegasse. Lembremos a flor de 25 de Abril de 1974. Será que os cravos pressagiam mudanças políticas? Quem sabe? pelo sim pelo não, vamos todos cultivá-los.
Algumas vezes por feliz acaso a toponímia das artérias duma povoação,é fonte preciosa de informação para se desvendarem aspectos relevantes da sua história.
A aldeia do Sabugo,integrada na associação de freguesias de Almargem do Bispo ,Montelavar e Pêro Pinheiro, no municipio português de Sintra,situada junto á antiga estrada real de Lisboa a Mafra,passando por Belas,mantem importantes vestígios do casario primitivo,caracterista que faz desta povoação uma das mais pitorescas da região saloia.A actividade agricola foi predominante durante séculos, reflexo disso, ainda existe no Sabugo um posto de venda de produtos agricolas,propriedade da Cooperativa Agrícola do Concelho.Porque era ponto de passagem os almocreves e viajantes, aproveitariam para descansavam as suas montadas na aldeia, razão pela qual a vereação da Câmara Municipal de Sintra, deliberou mandar construir no ano de 1782, fonte e bebedouro aproveitando uma copiosa nascente.
A água alimentava também o tanque de um lavadouro onde as mulheres aldeãs lavam roupa, sua e dos fregueses de Lisboa clientes das "lavadeiras" do Sabugo.Esta faina foi o ganha pão de gerações. Curiosamente o rancho folclórico da aldeia denominava-se "lavadeiras do Sabugo".Para transporte da roupa de e para Lisboa utilizavam-se carros puxados por gado muar, mais a miúde os rústicos "burros saloios" que mestre Roque Gameiro imortalizou nas suas aguarelas.Para acondicionar a carga os jericos eram "equipados" com albarda,ou seja uma cobertura cheia de palha que se colocava no dorso das bestas de carga,tipo de sela grosseira geralmente de estopa. Os artesãos frabricantes deste utensílio eram conhecidos por "albardeiros".No Sabugo este ofício deveria ser importante.Na localidade deparamos com "Travessa dos Albardeiros".A necessidade desta profissão resultaria do elevado numero de animais de carga a albardar.Um bom exemplo da utilidade dos topónimos para investigar as comunidades rurais.
Um meu simpático leitor enviou-me um interessante comentário, acerca dum apontamento sobre os castanheiros. Estou de acordo que o castanheiro, é uma árvore da flora primitiva do nosso País, e por esse motivo é espontâneo em grande parte do território, nomeadamente na Beira Interior. Assisti a algumas operações de enxertia de castanheiros bravos. A doença da tinta foi uma das causas do declinio dos soutos, a outra foi o abandono e o avanço do plantio do pinheiro bravo. Felizmente começaram a surgir novos soutos e o futuro da espécie é promissor, pelo que teremos muitas castanhas no futuro. A propósito de castanheiros é intressante referir um exemplar que vegeta num vale profundo das montanhas do centro dePortugal.
Quando o padre Francisco Cortez comprou estas terras em 1746, este exemplar já existia. Como consequencia do solo que suportava as raízes ter sido arrastado durante anos pelas águas do regato que corre próximo, o castanheiro esteve em risco de perecer. Em 1961, ,o então proprietário filho dum sobrinho do Padre construíu um muro de suporte e afastou acorrente do tronco salvando-o, o exemplar apresenta hoje um excelente vigor. Foi uma das últimas tarefas que o meu avó Augusto executou, pois faleceu em Dezembro de 1961.
Curiosamente os meus avós materno e paterno nasceram neste Vale, em casas de quintas já desaparecidas. O meu Avó paterno João Fernandes Carloto, nasceu em dia de Reis de 1886 e viveu até aos 93 anos com uma lucidez e memória notáveis. Ambos os meus queridos antepassados, sabiam ler e escrever, e por isso aprendi muito com eles um desses ensinamentos foi o do respeito e admiração pelas árvores.
Quando me refiro a um castanheiro penso sempre neste. Em anos de boa produção, dá muitas dezenas de quilos de castanhas. Quem sabe se com estas novas tecnologias, os meus avós lá onde porventuracontinuam as longas conversas que tiveram à sombra desta árvore, possam tomar conhecimento deste escrito e ficarem a saber que o Castanheiro da Barroca continua de boa saúde. As árvores são uma fonte de inspiração, e quantas vezes nos proporcionam belas e ternas lembranças que sem elas facilmente olvidariamos.Infelizmente o castanheiro sofre um processo de progressivo abandono.Em agosto de 2014 o aspecto da árvore e do chão onde vegeta mete dó,uma pena.As árvores também necessitam de carinho e sensibilidade dos donos para cuidarem delas.Pobre castanheiro caíu em mãos que o não merecem.