Amiúde deparamos com a expressão "as árvores morrem de pé" e sendo verdade irrefutável, não deixa igualmente apropriado dizer, também perecem de velhice.
Nas "peregrinações", percorrendo os sítios do nosso quotidiano neste "terrunho" ocidental face ao "pai" Atlântico, Oceano bravio, símbolo da nossa identidade nacional. Encontramos com frequência árvores autóctones das latitudes setentrionais, onde o território da mãe Pátria Portuguesa se queda. O freixo é das mais abundante por estas paragens, na toponímia localidades como Freixial, Freixoeira, atestam o facto. Árvore do mundo, para os povos germânicos os deuses reuniam-se sob a copa do freixo, sempre verde, é um símbolo da perenidade da vida. O freixo tem o ciclo vegetativo, diferente das outras árvores, na Primavera demora a ficar com novas folhas viçosas e no Outono perde a folhagem repentinamente, antes das outras árvores.
No entanto só no aspecto das folhas, o freixo se comporta de modo frágil, a sua madeira resiste ao fogo e inclemências do clima, apesar de sujeita a ventos fortes, tem força suficiente para permanecer na verticalidade.
Um dia reparamos num freixo que cresce, na localidade de Algueirão, dito Velho. Plantado no Largo do Freixo, apesar da distinção toponímica parece desejar ser ignorado. As marcas da sucessão das estações deixadas no fuste, provam a vetustez centenária. Na época outonal, despido de folhas e decrepitude marcada no caule, o freixo de Algueirão-Velho, tem aspecto duma árvore velhinha, a exigir um pouco de atenção. Com alguns cuidados, talvez, continue durante mais tempo a cumprir a nobre função de elemento identitário da paisagem urbana. Oxalá a autarquia da Freguesia de Algueirão Mem-Martins, meta mãos à obra.
A definição usual que encontramos num dicionário relativa ao vimeiro é "designação comum de algumas árvores e arbustos da família das salicáceas das quais se obtém o vime". Das varas flexíveis do vimieiro, podem fazer-se atilhos, cestos, cabazes, artigos decorativos, mobiliário e atar ou amarrar, por exemplo as vides das videiras. A utilização do vime para este fim ainda hoje se verifica e antes do advento do plástico era exclusivamente ao seu uso que recorriam os vinhateiros. Actualmente para produção de vime recorre-se a plantações extensivas como sucede na região espanhola da "alcarria",em plena "Mancha".
O vime é obtido em boa medida de um arbusto do qual de cortam as varas flexíveis. Quando falamos de vimes ocorre-nos o arbusto. No entanto por vezes aquele consegue atingir significativo porte arbóreo. Um dia destes deparamos na campina do Sabugo no Município de Sintra, um vimieiro com alguma envergadura, vegetando exuberante e solitário, na margem de um arroio, "habitat" preferido desta espécie vegetal. Na antiguidade ao vime atribuía-se carácter sagrado e protector dos nascimentos. Os berços normalmente eram feitos de vime. Moisés foi encontrado num cesto de vime vogando sobre as águas do rio Nilo.
Quem sabe se foi por crença nesse poder divinatório do vime, que os viticultores o utilizavam como atilho das varas da videira para garantirem o bom unhamento dos pampanos ou sarmentos das vides indispensáveis para germinarem cachos de uvas e obterem boa colheita? Neste caso o vimieiro de folhagem amarelecida pelas brisas outonais, assumiu o papel de atilho não duma qualquer vide, mas da nossa atenção.
Na antiga estrada real de Lisboa a Mafra, passando por Belas, actualmente denominada estrada nacional 117, entre as povoações de Sabugo e Morelena, deparamos com o sítio de Palmeiros.O que resta do primitivo povoado, fica pouco afastado da estrada junto ao caminho vindo do lado da aldeia de Cortegaça. Esta via corresponde a um antigo trajecto que ligava Sintra a Palmeiros. Quem circula na E.N.117 não repara nem relaciona, este "descampado", com as suas reminiscências jacobeias.
Palmeiro,quer dizer: pessoa que vai em romagem ,peregrino, romeiro. No percurso das peregrinações durante a idade média existiam albergarias ou pousadas para descanso do peregrinos, cujo funcionamento estava a cargo de indivíduos chamados "albergueiros" ou membros de instituições religiosas, as confrarias. Esta albergarias destinavam-se a repouso e alimentação dos romeiros pobres, principalmente aqueles que dirigiam para Santiago de Compostela, grande centro de romagem ao longo da idade média europeia.
Na região oeste de Portugal há notícia de albergarias em Mafra, Cheleiros, Alcainça, Azueira, S.Pedro da Cadeira, Enxara do Bispo, Sapataria etc. No concelho de Sintra, Palmeiros e Fonte da Aranha, perto da ermida de Nossa Senhora da Piedade da Serra, no cimo do Vale de Lobos. A zona antiga da aldeia de Palmeiros dispõe duma fonte junto a um regato que corre quase todo ano, deveria ser por aí a localização do albergue. Nas Caldas da Rainha por determinação da rainha Dona Leonor, os romeiros a São Tiago podiam descansar uma noite no Hospital que ali fundou.
Palmeiros significa local onde os peregrinos podiam descansar recuperando forças para prosseguirem a jornada da sua devoção, quase sempre, para Compostela. A toponímia é repositório de belas e evocativas memórias e um "caminho", para conhecimento e descoberta que o símbolo do peregrino a Compostela: o bordão a vieira e cabaça, sintetizam perfeitamente.
Em 1924, foi publicado por Cezar dos Santos o livro: "O Desprezado", no qual o autor inseriu um conjunto de reflexões atribuídas a Gomes Leal, poeta e panfletário, proferidas no tempo da 1ªguerra mundial, durante a ditadura de Sidónio Pais, época de grandes dificuldades e miséria para a maioria da população, tal qual hoje. Dizia o poeta: "Ah que série de ilusões vai este desventurado povo atravessando pois está a sendo governado por burros e analfabetos...que série! Que homens! Meu caro amigo, eles matam-nos à mingua e a fome. São incapazes de terem sentimentos humanos. Quadrilhas! Quadrilheiros! Se João Brandão hoje fora vivo, teria animo e força para atingir a chefia deste Estado que sossobra. Quadrilhas! Quadrilheiros! Pois donde vêem as fortunas que ostentam esses maltrapilhos de ontem por esse país fora?". Acerca de "Cintra", Cezar Santos escrevia "Quem há aí que não conheça a "Cintra" de hoje aos domingos? A bêbeda "Cintra", a povoação dos pic-nics! Toda ela é inferior á superioridade da serra altaneira que a domina e a esquece". Os governos local e nacional também esquecem o bem comum, governando sem rei nem roque, fazendo tudo para que os nossos dias sejam tristes, sem esperança. Somos um povo "Despresado". Oxalá após as próximas eleições autárquicas, quem liderar o Munícipio, para além da Sintra dos "Palácios" dos pinic-nics e turistas low-cost,se interesse ,finalmente,pela outra,habitada por milhares de pessoas,sacrificadas por pesados impostos municipais, utilizados,sem cerimónia. para alimentar as vaidades e "prebendas" duma vetusta e retrograda minoria para a qual só é Sintrense quem vive na Sintra (Vila), considerando o restante território concelhio, unicamente, uma fonte de rendimento, onde se deve investir o mínimo possível. Basta de "DESPRESISMO". Concordando com Gomes Leal declaro: "Reservo a minha alma para o silêncio. Nele viverei humilde e ignoradamente. Não me preocupa já a politica. Estou muito diferente do que era".Continuarei a escrever aqui, como dever de cidadania. Valerá a pena? Este texto foi elaborado há mais de um ano.Algo mudou? quem souber responder diga.Por mim infelizmente parece que não.