O tempo primaveril, convida a passear pelo campo que na região sintrense nesta altura, apresenta um aspecto de grandiosa e garrida coloração. Árvores cobertas de folhas, parecem reclamar a nossa atenção para a beleza da sua ramaria.
Um destes dias num rincão cheio de evocações históricas, e "senhor " de um coberto vegetal, que lembra a fechada mata de outros tempos, deparamos, uma árvore de grande porte, que nos impressionou. Cresce num recôndito do Casal da Granja, entre os sítios do Telhal e a Serração, afloz de Almargem do Bispo no Município de Sintra.Nesta quinta esteve para ser construída a "cidade do cinema" Foi por acaso que o "descobrimos",cresce no interior da propriedade, numa das extremas, por isso é visível de fora, a sua copa, imponente atinge um diâmetro perto de 15 metros.
Trata-se de um carvalho alvarinho, nome científico "Quercus-Robur", apresenta uma "cobertura" larga arredondada e extensa,vegeta em terreno argiloso e húmido,sem qualquer outra vegetação em redor,condições ideais para alcançar notável fuste. O tronco inclinado pela acção dos ventos dominantes, serve de suporte a uma "hera" também antiga a julgar pelos grossos caules que abraçam o roble. A longevidade desta espécie pode atingir de 500 a 1000 anos. Encontramos um novo "amigo" certamente duplamente centenário. A partir de agora, iremos visita-lo sempre que possível.Antigo e impressionante e belo.
A nove de Abril de 2008, escrevemos nesta "tribuna":
"O freixo da Tala encontra-se junto da placa indicativa da localidade à esquerda da estrada vindo de Mira - Sintra". Encontrava-se porque a vetusta árvore do concelho de Sintra, definhou e teve de ser abatida.Resta a memória, e um vazio difícil de preencher no local onde há sete anos parecia ser "eterno".A placa toponímica também desapareceu.A memória do freixo da Tala,faz parte do acervo do "tudo de novo a ocidente", e só por isso a nossa labuta vale a pena.
Muita gente associa a Rinchoa, uma das mais airosas localidades do Município de Sintra, a Leal da Câmara que aqui viveu cerca de três décadas. O burgo no entanto foi moradia de outra gente igualmente ilustre, e refúgio de foragidos da segunda guerra mundial que aqui buscaram paz e tranquilidade. Igualmente a Rinchoa pela pureza do seu ar acolheu antes da descoberta de eficazes medicinas, adultos e crianças que buscavam cura para doenças pulmonares. Desse tempo "resiste" lembrança da pensão Maria Teresa, edificada perto do local onde hoje há um agencia do Banco do Estado. A Rinchoa é referida em obras de renomados poetas e escritores de Portugal. Fernando Assis Pacheco (1937-1995) no livro "cuidar dos Vivos" editado em 1963, deixou-nos:
Quando colho uma flor, sei que a entendo quase, Inebria-me Recorda-me coisas, transforma as minhas noites é uma flor como há um sol e uma época em que a mãe nos traz dentro de si. Mas sei também que em certas horas os carcereiros despem a farda e vão á RINCHOA, e a Linda- a - Velha
comprar cestos á beira da estrada
com morangos e cravos. Não posso com tanta ironia
Para apreciar a Rinchoa é "mister" que as pessoas se dispam de preconceitos e venham fruir a paisagem e o bulício de uma terra mais povoada e melhor sortida de comodidades indispensáveis a um quotidiano citadino que várias cidades portuguesas, capitais de "distrito". A depreciação "chocarreira", em tempos propalada por alguns que ganham a vida fazendo "graçolas" não é justa nem apropriada e magoa aqueles que como nós aqui vivemos há muito tempo, não por "desgraça" e sim por gosto a uma terra que é a nossa. Da Rinchoa a vista alcança o oceano e por isso não é um subúrbio anódino, porque nos subúrbios nunca se vislumbra o mar. Actualmente no burgo está em curso um projecto de divulgação de arte pública aproveitando espaços livres nos muros e paredes para impedir a sua ocupação com "agressivos" grafites. Este "mural" mandado executar pela Junta de Freguesia de Rio de Mouro, é baseado em "cartão" de mestre Leal da Câmara inspirado nas antigas tradições da feira das Mercês que ainda se realiza na Rinchoa. O "bairro" brevemente, estará ainda mais bonito.
Há locais que pela situação geográfica características topográficas coberto vegetal e ambiente, são propícios a recolhimento e a meditação. Durante séculos tais "paragens" serviram de guarida a romeiros que as visitavam na crença de comunicar com o além, e obter protecção divina.
A vegetação abundante e frondosa,assumiu sempre enorme fascínio nas populações.Leite de Vasconcelos 1905, pg. 108 escreveu: "Entrar num bosque, rico de árvores seculares e gigantescas, onde a grandeza dos vegetais causa espanto e as próprias sombras infundem mistério, era para os antigos...fonte de ensinamento religioso."
Um local com as características enumeradas podemos encontrá-lo, na antiga extrema dos concelhos de Sintra e Loures a poucos quilómetros do centro de Lisboa: a capela dedicada a Nossa Senhora dos Enfermos. Segundo as memórias paroquiais elaboradas em 1758 e referentes a Almargem do Bispo "a ermida de N. Senhora dos Enfermos, santa muito milagrosa, está na quinta do secretário de estado Tomé Joaquim da Costa Corte Real". Acerca deste personagem coligimos alguns elementos: havia sido nomeado em 1756 para a secretaria de estado da Marinha e Ultramar, substituindo Diogo Mendonça Corte -Real, destituído por decreto do rei D. José I de Portugal, acusado de conspirar contra Sebastião José de Carvalho e Melo,Ministro do Reino, foi degredado para Mazagão no norte de África e depois encarcerado na fortaleza das Berlengas, vindo a falecer no convento de São Bernardino dos Franciscanos de Peniche, para onde D. José comovido com a sua sorte autorizou a transferência.
Na actualidade a presença de um cruzeiro na entrada da povoação, simboliza a religião cristã praticada no santuário.No entanto carvalhos seculares a mata das cercanias, e a fonte de água com propriedades terapêuticas,e o vale aberto em cujo fundão se edificou a capela,seriam motivo de atração de índole religiosa, antes de surgir a romaria muito concorrida, e onde peregrinavam anualmente habitantes de Lisboa que para o efeito formaram um "círio".
Na quinta viveu Francisco de Olanda,figura impar do renascimento em Portugal; sem dúvida paragem singular onde podemos detectar o carácter sagrado que no decurso dos séculos os habitantes de território dilatado, atribuíram ao "Sítio".
O Sol, simboliza a luz do conhecimento, e poderosa fonte de energia. Durante séculos a sombra da sua claridade projectada sobre um "mostrador" de pedra, indicava as horas do dia, marcando o ritmo dos trabalhos quotidianos.
A beira dos caminhos no umbral das casa solarengas ou das rústicas oradas o relógio solar era apropriado para as pessoas saberem " a quantas andavam". A evolução ciência e da técnica fez declinar a importância dos relógios solares.
Actualmente deparamos de vez em quando com algum exemplar esquecido num ermo qualquer. Neste a haste metálica cuja sombra indicava as horas desapareceu, e deste modo o "medidor" do tempo da insigne quinta, onde resiste erecto, está avariado apesar de ostentar símbolo nobiliárquico, serve unicamente para tema de um pequeno apontamento e quem sabe para alguma reflexão de quem "passa" por aqui.