Iniciamos hoje o roteiro das aldeias cujo topónimo situação geográfica, características urbanísticas e paisagísticas despertaram a atenção.
Começo pela Codiceira que integra a freguesia de São João das Lampas no Município de Sintra, área Metropolitana de Lisboa. Estende-se o casario do aglomerado por zona relativamente extensa do planalto das Lampas. É povoação de existência secular , em 1758, segundo as memórias paroquiais "pombalinas" albergava 33 moradores , sofreu danos provocados pelo terramoto de 1755.
O significado do nome foi objectivo que procurei alcançar, depois de pesquisa aturada encontrei solução.
Codiceira deriva de codesso, arbusto da família das giestas, nomeadamente das de flor branca também conhecidas por giestas das sebes. Destes codessos confeccionavam-se vassouras para varrer o chão,utlizar na construção e "rarer" os fornos. Na região da Codiceira abundava planta de nome "ESTORMO", espécie de urze, com maior grau de dureza, com a qual os habitantes faziam vassouras. A existência de "vassoureiros", está documentada. O termo codeço designava as vassouras "codessais". Assim o topónimo surgiu para apelidar a terra onde se faziam vassouras,indepentemente serem ou não de codessos.
Codesso, grafia coeva, passou a codeço, oralmente o "é" das palavras pronuncia-se como "i", finalmente por sucessão de "acidentais" deslizes fonéticos chegamos a CODICEIRA, aldeia das vassouras. Varremos, uma dúvida, não para debaixo do tapete.
No dia 25 de Julho de 1827, a princesa Dona Francisca Benedita viúva do príncipe quase rei D. José seu sobrinho, inaugurou o Asilo dos Inválidos Militares de Runa, concelho de Torres Vedras. Era aniversário da princesa, cumpria avançada idade de 81 anos, concretizava promessa que fizera para honrar a memória do marido.
A obra projectada e construida sob responsabilidade do arquitecto José da Costa e Silva, é o maior edifício existente em Portugal para fins exclusivamente civis.Começada em 1792, trata-se de edifício rectangular com 99 metros de frente e 61 metros de lado. Incluía as instalações assistenciais, igreja na parte central, oposto a frontaria o palácio residencial da princesa Benedita. Na construção e estatuária foram utilizados mármores de Pêro Pinheiro, Sintra, e mármore negro extraído perto de Runa, em Pêro Negro.
Implantada num vale aberto e plano entre colinas de montes arredondados, emerge no meio de vinhedos e terras de cultura, grandiosa construção, vista de longe impressionam, força das linhas arquitectónicas e a beleza do conjunto. Nota-se. foi projectado com sabedoria.
No oeste português quase escondido da curiosidade de quem passa, está uma das mais impressionantes e misteriosas obras edificadas em Portugal.
A frontaria de 3 corpos, ostenta 11 conjuntos de 3 janelas cada um, ao centro a igreja tem 3 janelas a qual se acede por escadaria de 7 degraus. Um Belo e único monumento.
Sabia vagamente da existência de castanheiros com séculos de idade, vegetando na Província de Trás os Montes. Decidi procurar um dos mais recônditos, foi encontrá-lo, na aldeia de Vilarinho da Lomba, concelho de Vinhais , pleno parque natural de Montesinho.
Almoço em Vinhais, estrada fora passamos Sobreiró de Cima, Gestosa , Quirás alcançamos Vilarinho da Lomba, em tarde quente de Verão. No largo principal do povoado,encontramos habitantes da aldeia, todos homens entrados na idade. Perguntamos onde ficava castanheiro secular do qual ouvíramos falar.
O nosso interlocutor ouviu com atenção e remata : " esse castanheiro é meu, dizem tem 600 anos ". Levanta-se do banco aponta o sítio onde estava; cerca de um quilómetro da aldeia.Vou a pé ao encontro da árvore, depois de alguma dificuldade, chego ao local. Não posso descrever a emoção. fotografado o castanheiro, observado com atenção , voltei ao largo. Troco algumas palavras com os presentes , agradeço atenção, retomo a estrada a caminho de Moimenta da Raia. Isso é matéria para outro apontamento.
Vilarinho da Lomba, exemplo de outras aldeias do interior profundo de Portugal, agoniza, testemunhos desse agónico percurso não faltam.
O castanheiro continuará, a não ser que algum incêndio o destrua. Já não dá fruto; a sua imponência basta para justificar merecer continuar vivo.