O nome de alguns sítios, deriva do coberto vegetal abundante no presente ou passado, característica de tal modo vincada origina a designação.
No concelho de Sintra, curso de água vindo dos montes e colinas do Vale Mourão, da margem esquerda, a jusante da povoação de A-dos-Francos, freguesia de Rio de Mouro, entra no Rio dos Veados conhecido por: " REGUEIRA DOS AGRIÕES", porque nas margens crescerem tufos verdejantes daquele vegetal.
Consumido nas sopas e saladas, rico em minerais, principalmente ferro. Originário da Europa, cultivado em Portugal, um pouco por todas regiões, também na de Lisboa , concelhos de Sintra e Loures, são maiores produtores. Curiosamente, as águas que escorrem para o curso de água, provêm das colinas onde se situam antigas minas de ferro de Asfamil; já referidas neste "blog".
Contrariar o labéu dos "chiadeiros", acerca da condição suburbana dos sítios da actualmente considerada "grande Lisboa" ou área metropolitana da margem norte do Rio Tejo, é acto de cidadania, reposição da verdade acerca daquilo que entendemos por "suburbano".
O cariz "anónimo" das localidades, servia de pretexto para acentuar, factores de distinção negativa, aleivosamente atribuídos para identificar os sítios permite, a quem chega ou passe, que deixe de ter sentido a frase "nem sei como se chama isto aqui".
Serra das Minas é "bairro" da freguesia de Rio de Mouro, município de Sintra. O actual Presidente da Junta, recentemente reeleito com maioria clara do eleitorado, tem desenvolvido acção "governativa" com objectivo de realçar aspectos de identidade e tradição da freguesia, tem conseguido, os eleitores, demonstraram apreciar o trabalho realizado. Um exemplo, colocação numa das entradas do bairro, informação toponímica apropriada.
Completando, deixamos o significado de "SERRA DAS MINAS": a designação não se reporta minas de extracção minério, sim captações de água, antigamente abundante naquela zona, como se pode constatar pela nascente ainda brota, no pinhal do parque urbano que embeleza a "Serra".
No século XIX, opulenta quinta do Bastos, da qual resta a pequena quinta da Presa, recebia água para rega de diversas minas existentes nos montes ou pequenas serras circundantes, na margem direita da ribeira de "rio de mouro". Esta particularidade deu nome ao sitio.
A condição suburbana não é facto de ordem geográfica, mas de carácter social, a cidade de Lisboa, no seu interior tem "bolsas" de suburbanidade. Não há "chiadeira" que apague. Nós por aqui estamos em processo municipal de profunda requalificação urbanística, vamos paulatina e firmemente erradicando a "suburbanidade" originada no "cartel bancário-pato bravista", dominou mercado da construção de habitações nas ultimas décadas do século passado, e primeira do presente.
A mui antiga freguesia Nossa Senhora de Belém em Rio de Mouro, erecta por vontade dos frades da ordem de São Jerónimo do Convento da Penha Longa, donos e senhores da maior parte das terras da região, foram ao longo dos séculos aforando e vendendo propriedades depois transformadas em opulentas quintas pelos seus proprietários.
Até criação das freguesias de Algueirão Mem Martins e Agualva Cacém, década de 50 do século XX, Rio de Mouro foi a mais povoada e rica de todas as freguesias do termo da Vila de Sintra.
O território de Rio de Mouro fértil, coberto de valiosas florestas, além da beleza forneciam lenha indispensável ao dia a dia dos moradores.
Um prova ficou na toponímia em Rio de Mouro as quintas mais ricas ostentavam e algumas ainda ostentam nomes de árvores e vegetação: Quinta das Sobralas, Quinta do Olival, Quinta do Ulmeiro, Quinta do Pinheiro, Quinta do Zambujal,Quinta de Fetares (hoje Fitares), Quinta de Entre-Vinhas e outras que porventura existem e não lembro.
Rio de Mouro é um belo sítio para viver, mal grado opinião de ilustres "novos ricos", além do dinheiro nada podem revelar. "Deus os ajude e a nós que não nos desampare ", sentença sábia da nossa querida avó materna.
Quando se demanda antiga Vila de Colares, utilizando a denominada estrada velha de Sintra que serpenteia a falda da serra, borjando quintas vizinhas do parque de Monserrate, por altura do sitio da Eugaria, deparamo-nos com rua ostentando placa informando direcção: GIGARÓS.
O topónimo deve ser único em Portugal, por isso desde há muito investigamos no sentido de decifrar significado. Percorremos encostas e várzeas das cercanias, finalmente conseguimos solução.
Sabido a aptidão das terras colarejas para produção de frutas e vinho. O transporte e acondicionamento daqueles produtos agrícolas (maçãs, limões e uvas), fazia-se desde época recuada em canastras ou gigas, normalmente redondas ou rectangulares, feitas de tiras de castanheiro, ou vimes.
O castanheiro abundava nas encostas da serra de Sintra, no termo da Vila de Colares, ainda hoje no sítio da Urca é possível, observar vestígios dos antigos soutos. O vime encontra-se nos terrenos adjacentes ao Rio das Maçãs.
Em GIGARÓS confeccionavam GIGAS, vocábulo significa, localidade onde se faziam aqueles utensílios,e habitavam artesãos que os elaboravam.
Conseguimos objectivo sem ser necessário "arrear a giga".
A Feira de 2017, já lá vai, decorreu com animação a contento de quem demandou o velho terreiro "pombalino", bem organizada pela Câmara Municipal de Sintra, secundada pelas Juntas de Freguesia de Rio de Mouro e Algueirão Mem Martins.
No programa paralelo da "feira" tive ensejo dia 21 de Outubro por volta das quatro da tarde, proferir despretensiosa "palestra" relativa a aspectos pouco conhecidos da história do secular evento. Satisfeito tive prazer falar para audiência, atenta em número razoável, neste tipo de "função".
A narrativa realçou o carácter peculiar da feira no âmbito concelhio e região de Lisboa. Durante décadas a frequência do "certame", numerosa, abertura do Caminho de ferro na década de oitenta século XIX, possibilitou levar ao planalto dezenas de milhares de pessoas.
Gente das classes populares,onde se misturavam, pedintes,saltimbancos, circo pobre,prostitutas "acampadas no pinhal do escoto", carteiristas, como celebre "faquir" de alcunha, com cabra amestrada, que subia um escadote, originando concentração de "otários" alguns dos quais deixava sem as carteiras.
Petisco da feira "carne de porco as Mercês", servido em caçoila de barro, em vez da suína procedência, certas ocasiões, era de burro. Bebia-se agua pé, "marada", vinho proveniente de Torres Vedras, e redondezas, principalmente do Zambujal, Cacém da propriedade do republicano Ribeiro de Carvalho, bebedeiras de monta ocasionavam "arraial" de pancadaria.
Jogavam a "laranjinha" a dinheiro, consultavam-se cartomantes, namoro no muro do derrete, podia acabar em casamento...
Feira dos saloios, arreigada na tradição do lugar, resistiu a tentativa do Marquês de Pombal, também Conde de Oeiras, pretendeu passá-la para a sede do condado.
No conjunto das romarias da região alfacinha, Atalaia no Montijo, Senhora da Rocha Linda-a-Pastora, Nossa Senhora do Cabo Espichel Sesimbra, as Mercês assumiu sempre cunho popular remediado e Republicano a partir do final do século XIX.
Leal da Câmara fixou na tela traços pitorescos e rudes da feira, satirizando saloios, a quem apelidava "esses animais nossos irmãos em São Francisco". O figurino actual, próprio para visita de famílias, na pacatez e arrumação do espaço podem tranquilamente "feirar", oxalá continue por muito tempo.
Feira das Mercês na verdade deveria ser Feira de Rio de Mouro, nasceu prosperou, quase findou nesta freguesia. Até para o ano se Deus quiser,na capelinha de Nossa senhora das Mercês, ou no pátio da Senhora Marquesa.