Em apontamento publicado neste "blog" no dia 2 de Julho de 2007, escrevi acerca da origem do topónimo Rinchoa. A natureza quando não condicionada pelo ímpeto modelador da acção humana, tende a conservar ou recuperar "territórios" e particularidades, que caracterizaram desde sempre os sítios.
O processo de ocupação urbanística desregrada modificou o aspecto da fauna e flora de grande parte do Município de Sintra. No entanto, bastou um hiato, uma travagem inesperada na "gula" dos especuladores imobiliários, e eis que lentamente, vão "ressurgindo" muitas singularidades que se julgavam perdidas para sempre.
Na Rinchoa as pereiras bravas, origem do topónimo do lugar, lenta e seguramente estão de volta à terra de onde as pretenderam erradicar.
Deixo foto de uma pereira brava carregada de "rinchoas", que nasceu espontaneamente nas traseiras de prédio em plena encosta.
Em 20 de Junho de 2008, publiquei, um post com titulado: "As Magnificas Tílias da Rua do Juncal na Rinchoa", o texto era ilustrado com a foto de duas tílias, uma delas pelas características e porte era centenária. Uma década volvida e a tília centenária, acabou assim...
Árvore sem doença conhecida, aparentemente sem causar dano algum. Um néscio deve ter movido influencias e a tília foi derrubada. Mais palavras para quê? Fico triste e manifesto a minha repulsa por tão injustificado arboricídio.
Durante séculos o abastecimento de águas as populações rurais de Portugal, foi deficiente , sendo por isso frequentes epidemias de febre tifóide.
O concelho de Sintra , malgrado ser próximo da capital, apresentava o mesmo nível de carências. Em 1865, grassou grave epidemia. cujas causas foram atribuídas a insalubridade de águas para beber; procedeu-se a inquérito do qual resultou informação interessante : " Na Azoia, a caminho do Cabo da Roca,o povo usa as águas de uma ribeira, que passa no meio da povoação, carregada de imundices; no Algueirão a fonte pública fica inferior a estrumeiras que inquinam a água ao ponto de que no Verão se lhe nota a cor, cheiro e gosto de estrume; na Abrunheira fica igualmente a fonte inferior ao tanque das lavadeiras o que dá azo a que durante o estio se corrompa "
" Nas povoações acima indicadas há nos pateos das casa grandes estrumeiras, e nas ruas delas charcos e pântanos , e que estas causas reunidas concorrem para o desenvolvimento das febres tifóide que ultimamente ali apareceram."
Foi ordenado a Câmara municipal de Sintra para fazer construir chafarizes ou fontes nestas e noutras povoações .E se proibissem estrumeiras dentro dos povoados.
Foram construidas algumas fontes, diversas de " chafurdo " ,e a problemáticas das febres tifóde recorrentes, manteve-se até não há muito tempo, sobretudo em pequenas aldeias do campo " saloio".
Em várias procedeu-se a abertura de poços de onde a água era extraída através de bombas manuais, de restam exemplares como o da foto, e que coroa poço já seco.
A questão do abastecimento de água de qualidade a todo o Município de Sintra e concelhos circunvizinhos só ficou resolvida com as alterações sociais e políticas da Revolução de 25 Abril 1974.
Amiúde surgem iniciativas para encontrar no "terrunho" pátrio maravilhas disto e daquilo, agora decorre para "encher" tempo estival de antena de estação televisiva, uma destinada a divulgar especialidades ditas "doces" em cada distrito que pelos visto não foram ainda extintos como já deveriam ter sido, acompanhando os "defuntos" governos civis. Na Grande Lisboa, além das propaladas "gulosices" pastelares, há alguns doces pouco referidos, no entanto, dignos de figurarem na galeria dos maravilhosos doces de Portugal.
Refiro-me a uma pérola do universo "docelar" , antigo e muito delicioso de seu nome "Fofo de Belas", esse mesmo, orgulho da antiga e nobre vila de Belas, no Município de Sintra. Sou apreciador da iguaria, fabricada segundo bem guardada receita, desde 1850 tempo em que ainda existia o concelho "Belanense".
Acompanhado com cálice de vinho moscatel o "fofo" assume ainda sabor mais requintado. Continuem pesquisar e elaborar a lista de doces maravilha, este doce Sintrense, não deixará lugar cimeiro onde se encontra, assumindo sem qualquer contestação cognome: "Fofo de Belas, Marquês de Todos os Bolos da Casa Lusitana".
Ouvimos com frequência afirmações do tipo: "antigamente havia mais segurança e respeito no comboio da linha de Sintra". No entanto estudamos a problemática e constatamos, não era bem assim.
Deixando de lado as condições de transporte com passageiros dependurados nas portas, e outras situações de "aperto", no interior das carruagens, deparávamos quotidianamente situações como a relatada no "Jornal de Sintra" precisamente, em Julho de 1968.
Apesar da censura vigente saiu, texto da local, cada um retire as ilações que quiser, porque neste como em outros aspectos nem ontem era "paraíso" nem hoje é "inferno". Meditemos pois...
No roteiro do prego e do bitoque na "zona demarcada de Rio de Mouro-Rinchoa", um dos estimados e frequentados estabelecimentos encerra no próximo 1 de Agosto.
O café TETI situado na Rua das Murtas na Rinchoa, onde durante 24 anos o Senhor Domingos, proprietário e "artesão" dos deliciosos pregos e bitoques, regalo da clientela fiel que o conhecia desde do Restaurante Arco Íris e "centro de formação" onde aprendeu a mestria para confeccionar a iguaria, e se lançar no seu próprio negócio.
Um Homem simpático, e afável, figura popular e considerada em todo o Município Sintrense. Segundo apurei há 54 anos que exerce a sua útil e deliciosa actividade, é natural precise descansar. Desejamos ainda desfrute de algum tempo para com sua mulher que acompanhou desde a primeira hora do TETI, e que possam ter direito a ócio merecido. Como cliente vou ter saudades do "poiso" bitoqual, tudo tem um começo e um fim, é bom que assim seja. Até sempre Senhor Domingos.
A imagem fixou o conjunto dos cedros que dão sombra a Rua das Murtas.
Aproveitei manhã soalheira de um Verão ameno e pouco caloroso , para deambular com o meu neto , pela artérias do burgo onde habitamos, ridente Rinchoa, No Município de Sintra.Objectivo definido : conhecer árvores de grande porte desde que sou morador há cerca 45 anos aprendi a admirar e visitar de vez em quando.
Passamos junto de algumas felizmente , continuam viçosas e vetustas, O primeiro "desaire " , sucedeu na Rua Fonte adiante da Fonte do Rouxinol, queria falar-lhe, de eucalipto quase centenário robusto altivo, crescendo em propriedade privada mas sombreando a via publica , de onde podíamos admirar o caule formidável da árvore, e.. avistamos ! ...
Pergunta directa e seca " avô quem fez isto ?", disse não sabia,ainda há seis meses estava ali grande eucalipto. Continuamos o nosso caminho com promessa iríamos " visitar " uma tília centenária. Avançamos até a Rua do Juncal no cume do monte onde se espraia casario da Rinchoa, Chegados deparamos outro " desastre"
Restava da vetusta tília, um tronco saudável, " grandioso " , fica consolo a outra companheira da derrubada , continua , não sei até quando a alindar a rua. Esta tília cortada sem dó nem piedade estava na via pública.Fui conversando com o neto não sabendo que dizer,antes de cortar qualquer árvore notável é possível podar reduzir a copa, conservar o fuste, Em Portugal desde tempo da " loucura " imensa da gesta dos descobrimentos , há habito de deitar abaixo arvoredos a eito para construir " naus catrinetas " , sem procurar preservar espécimes merecedores serem admirados por sucessivas gerações.
Derrubar arvore secular sem motivo aparente e justificado é acto de extremada incultura.No nosso País é " normal " ninguém se indignar. Tenho pena muita pena destes " amigos " que desapareceram , e o meu neto também; até rematou . Avô , porquê ?
A vila de Sintra, depois da implantação da República entrou num período de letargia, a espaços sofria " abanões ", a ver se saia do estado que havia mergulhado. Exemplos o casino cujo projecto de gorou,algumas unidades hoteleiras, e no alvor do regime do Estado Novo, intento de instalação do teleférico até a Pena.
O primeiro pedido entrou na Câmara Municipal de Sintra, feito pelo engº Freire Sobral, por volta do final dos anos tinta do século passado.A eclosão da segunda guerra mundial, motivou abandono da ideia.
Decorridas três décadas ,em 1968, alvor do Marcelismo, é retomado projecto, chegando a ser aprovado superiormente, o anteprojecto, agora apresentado por empresa estrangeira, que se propunha empreender a construção do teleférico sem encargos para o Município ou para o Estado, tendo a contrapartida de concessão para explorar comercialmente o novo meio de transporte.
Agora ia ser concretizado o sonho, de tal modo que o Jornal de Sintra em Julho de 1968,apresentava em paragonas na primeira página:
Grande entusiasmo, sem consequências como sabemos, noticia de rebate falso, enfim parece que a " moda " das noticias " fabricadas " não é de hoje. Penso o " honrado " periódico Sintrense não deve ter sido o autor; alguém deve ter " soprado " infelizmente o teleférico, não saiu do papel
Numa das estremas do Município de Sintra, com o vizinho de Mafra,fica situado um povoado aldeão,dos mais recônditos e " longínquos " de todo território concelhio.
Aldeia hoje parcamente habitada, já possuiu igreja entretanto desaparecida. O enquadramento paisagístico e largueza de horizontes,transmitem ao lugar atmosfera singular.Pertence administrativamente a união de Freguesia de Almargem do Bispo , Montelavar , Pero Pinheiro.
São João das Covas, redodeado por inúmeras colinas no cimo das quais , se erguem ruínas de antigos moinhos os ventos fortes deste quadrante do rincão Sintrense, os faziam rodar.Terra de trigo e vinhas,a aldeia merece uma visita.Não conhecia, hoje cumpri desejo antigo e fui lá.
Há cerca de dois séculos , Novembro de 1820, " Gazeta de Lisboa ", informa ." pelo juízo da Executoria do Concelho da Real Fazenda e casa do mesmo tribunal se hão- de (...) arrematar umas casas , com arribanas palheiros, quintal . tudo murado em volta. sita em Varge Mondar ".
Refere-se ao sitio do mesmo nome situado na freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra.Ficamos a saber da exploração agro pastoril da zona , no inicio do século XIX. o termo " arribanas " designava , choupana onde se recolhia o gado, normalmente coberta de colmo ".
Reminiscências do tempo de rebanhos e pastores , com conotação rústica e ancestral que não deixa de ser interessante. Os vocábulos e toponómios são fonte de ensinamentos.