Este Setembro 2019, prestes a terminar, assinala data importante para a vitivinicultura nacional , para a sintrense região vinícola de Colares em particular.
No já remoto 1934,foi publicada legislação relevante para a defesa da qualidade dos vinhos produzidos nas vinhas colarejas.
Com efeito, segundo decreto lei acima citado , no se capitulo II, artº 7º estipulava :
" Independentemente da marca de origem , é criada uma marca garantia para vinho de Colares, que será destinada aos vinhos cujo engarrafamento seja feito exclusivamente sob a fiscalização directa da Adega Regional ".
Reconhecimento oficial da importância da adega para garantir genuinidade e qualidade dos vinhos da região , e confirmar a báquica poesia de Francisco da Silva Passos, em louvor dos vinhos de Colares :
" Tinto "
O TINTO LEMBRA O DE CÓS
O DE FALERNO; O DE AJACCIO CUJO LOUVOR CANTA HORÁCIO
EM SUA DIVINA VOZ.
" Branco "
AGORA O BRANCO É SUPERNO !
TEM UM FLAVOR QUE PARECE
QUE A NATUREZA ESTREMECE NAQUELE LIQUIDO TERNO.
Com grande satisfação assinalo efeméride, brindo com uma taça de Colares , fazendo votos futuro dos nossos vinhos se apresenta promissor, devolva aos distintos e inegualáveis "caldos " colhidos na mais ocidental região da Europa, lugar de honra durante séculos foi seu. Viva vinho de Colares.
Estudo da toponímia e microtoponimia, não canso de chamar atenção é indispensável para conhecimento da história e tradições locais.
Alguns sítios adquirem denominação cujo significado só será possivel decifrar,utilizando ensinamentos da ciência que estuda os " sítios".
No concelho de Sintra, união de freguesias Almargem do Bispo, Montelavar , Pero Pinheiro deparei , casal " dos Gosmos ". Nome raro nem sei existirá outro semelhante. A curiosidade para tentar chegar ao significado, levou visitasse diversas ocasiões o local. Observei muito.Certo dia encontrei um pastor com rebanho de ovinos , e algumas poucas cabras; indaguei , se teria, porventura , escutado alguém ,esclarecendo o porquê.
Não foi muito frutífera a resposta, no entanto falou de antigos habitantes, donos das terras e matas circundantes.
A origem do topónimo estaria num alcunha, atribuído aquela gente.Com essa "pista", julgo ter encontrado a solução,
Gosmar é termo pejorativo e designa , quem fala demasiado , utiliza verborreia, discurso , falação. Também , gosma é característica dos que tentam usufruir de algo sem contribuir para isso, tal como ir a festas e eventos sem ser convidado, "andar a gosma ", pendura.
Assim casal dos gosmos, teria sido aplicado ao sitio , porque os seus moradores possuíam atributos e lata de passarem por aquilo que não eram e utilizarem esse " atributo " para enfrentar a " vidinha". A origem é de índole depreciativa .
A utilidade e importância do arvoredo manifesta-se por vezes em pequenos pormenores passam despercebidos a nossa atenção,tolhida pelo frenético frenesim de um quotidiano apressado.
As árvores são derrubadas por motivos fúteis e utilitarismo imediato, por tal motivo não alcançam fustes e idades significativas.No entanto quando plantadas ou espontaneamente surgem nas extremas de propriedades, os donos das terras , protegem arvoredo de modo a sua presença, assinale os limites das "possessões ".
Deparamos por esse motivo com verdadeiros tapumes arboreos formando sebes de porte significativo que ponteiam horizontes de renques vistosos. Parece impossível a pouco mais de 25 quilómetros de Lisboa, algures alfoz da terra saloia, Município de Sintra, observamos, ainda , paisagens com árvores em barda, delimitando courelas
Nos recondidos requebros da orografia Sintrense, deparamos ainda hoje com alguns sítios denominados " casais de ".
Sem pretensão dissertar sobre a temática relacionada com origem do topónimo lembro , casal designava povoado mais pequeno que aldeia , lugarejo, pequena gleba cercada , conjunto de casas, granja, fazenda.
Naquele âmbito se enquadram vários sítios em todas as freguesias do concelho de Sintra; consequência do avassalador processo de urbanização do território foram absorvidos pelos loteamentos , desregrados fizeram fortuna de " promotores imobiliários, do lote a lote ". Deixo isso de lado.
Ainda encontramos exemplos de antigos casais, em lenta e inexorável decadência tal qual este
Situação geográfica afastada de locais de pressão urbanística ou industrial, vai conduzir o que resta do casal a completa ruína.Sitio pitoresco, com abundante arvoredo circundante, não terá " destino " do casal de Cima e do Casal de Baixo, que durante séculos, resistiram na região de Mem-Martins; por causa do urbanismo , acabaram transformados, num só: os Casais de Mem- Martins.
Padre Diogo Vidal, ilustre padre da Companhia de Jesus, natural do lugar das Serradas , freguesia de Rio de Mouro, Município de Sintra, acerca do qual já escrevi neste " forum ", faleceu há trezentos e quinze anos.
António Franco no livro " Imagem e Virtude em o Noviciado de Lisboa ", publicado em 1714, relata passamento do padre Vidal.
" O Padre Diogo Vidal, veio depois a Portugal, e dai a Roma; voltou para o Oriente, no ano de 1704.
Na viagem morreu tão santamente como tinha vivido tantos anos. Sua morte foi na linha, porque encontrando-se a nau no Golfo da Guiné (...),os passageiros contraíram muitas e graves doenças (...), e destas acabou o Padre Vidal com morte de santo ". Seu corpo, depois lançado ao mar.
Assinalando a efeméride da sua morte, de algum modo resgato do esquecimento a memória de alguém que merece ser apontado como exemplo.
A feira das Mercês,e o muro do derrete, eram tradições arreigadas as quais o povo saloio durante séculos, deu vida colorido em festas de arromba que mestre Leal da Câmara , com seu traço talentoso, imortalizou em pinturas podemos contemplar na Casa Museu e Núcleo dos Saloios na Rinchoa, acervo cultural único por si só justificativo de uma vinda até ao " estado livre " como leal lhe chamou.
A estrada do Muro do Derrete, fica, no limite das freguesias de Rio de Mouro e Algueirão Mem - Martins, junto do muro de suporte do terrado onde ainda se celebra moderna feira evocativa
Na estrada perto do semáforo, cruzamento da Calçada da Rinchoa com Avenida Laranjeiras, existia casa destruída por um incêndio
A construção antiga ameaçava ruir , e causar danos materiais e humanos, por isso a Câmara Municipal de Sintra, procedeu , como devia a demolição do que restava daquilo que havia sido vistosa casa de veraneio.O camartelo camarário costuma ser pouco sensível a pormenores que deviam ter sido preservados.
Na parede exterior da casa, ainda fui a tempo de registar imagem de dois painéis de azulejos, um com nome da rua .
E outro com gravura representando Nossa Senhora da Conceição, de quem os primitivos donos deveriam ser devotos.
Contactei algumas pessoas no sentido de retirar estes azulejos e coloca-los, no muro fronteiro, a rapidez da acção demolidora, foi tal que impossibilitou salvar o espólio.
Fica para recordação este texto ,e " ilustrações "; mesmo de forma mitigada cumpri dever de cidadania, quem pretender recordar tem recurso passar por " tudo novo a ocidente ". A estrada sem qualquer adorno ou placa toponímica continua assim :
No tempo conturbado caracterizou o inicio do regime Republicano em Portugal, factos relacionados com a promulgação da lei da separação da Igreja e Estado,provocaram conflitos e querelas que duraram décadas.
No Município de Sintra , no seguimento arrolamento dos bens do clero,da Freguesia de São Pedro de Penaferrim, efectuado em 20 de Junho 1911, foi recordado a 7 de Junho de 1924, nota dirigida ao Ministro dos Cultos onde se refere " Consta que no lugar da Penha Longa, pertencente a condessa do mesmo titulo, na sua capela se venera imagem de Nossa Senhora da Saúde, propriedade desta paróquia ", Esta nota havia sido escrita em 1911.
O proprietário da Quinta da Penha Longa,visconde dos Olivais, em requerimento ao Presidente da Comissão Central da Execução da Lei da Separação, afirma dentro da quinta situada nos limites das duas freguesias São Pedro e Santa Maria no concelho de Sintra, existe a capela referida.
O visconde , escrevia " constando que a freguesia de São Pedro, projecta a seguir a festa anual que se realiza a 9 de Junho, derrubar várias árvores que são de minha propriedade e que ornam o recinto da capela, pretendo ser informado se o Estado, tem qualquer direito, á capela, e se a Junta pode mandar derrubar as árvores ou praticar quaisquer outros actos de subversão da propriedade que me coloquem na situação de obediencia".
O arrolamento de 1911, continha a informação que referi inicialmente, e tal facto segundo as entidades competentes " Não era propriamente um arrolamento, quanto muito elemento informativo ".
Assim apesar do povo ter acesso a capela para realizar festa anual honra de Nossa Senhora da Saúde, foram dadas indicações ao Delegado do Governo no Município de Sintra para fazer saber as Juntas de Freguesia.
" Neste caso o Estado não tem direito de propriedade da referida capela nem do arvoredo que a circunda e que orna a estrada que lhe dá acesso,não podem as juntas mandar reparar a capela ou autorizar qualquer entidade fazer reparações,sem que esta comissão central tome qualquer resolução sobre o assunto ",
A querela iria continuar, no entanto a decisão dos proprietários instituírem uma fundação e realizarem obras de beneficência relevantes, e situação política decorrente do golpe militar de 28 maio 1926, conduziu tudo terminasse a contendo dos donos da Penha Longa.Nossa Senhora da Saúde continua em privado a proteger a quinta, e também os paroquianos.