Usualmente ouço dizer," é uma questão transversal", afirmação prova a saciedade estatuto intelectual de grau elevado, demonstrativa quem a profere é alguém de peso.
Mudando de assunto, nas localidades com mais ou menos população deparamos, lixo deixado a esmo junto dos receptáculos,em vez de colocado como deve ser no interior dos mesmos.Não cuidem, é hábito moderno,pelo contrário.
No Jornal de Sintra nº2006 de 21 Outubro 1972, assinado pelo cronista e historiador de Rio de Mouro e Mercês, Sr. Krusse Aflallo,seguinte apontamento intitulado " HOMENS E MULHERES VACAS E CÃES ". Apesar de ter sido há meio século, ainda se aplica, vejamos :
O lixo tem aliados em certos homens e mulheres e até cães (... ), homens e mulheres deitam lixo para ruas pracetas,praças e avenidas; enfim em todos os lugares,onde alguns desses homens e mulheres não tenham a consciência do mal que estão praticando, contra si próprios " O autor referia particularidade,de Rio de Mouro, a qual na fase final ainda observei, inúmeras vacas deambulavam pela urbe, "habitavam" numa vacaria existente onde está monumento a Leal da Câmara, na Rinchoa.
Continuava...
" Como em Rio de Mouro existem vacas que transformam certos lugares da localidade em autênticos « tentaderos» estas marram nos bidões, atirando-os ao chão, com natural derramamento de lixo que lá se encontra, por este não ter sido colocado nos contentores a isso destinados"
Hoje sucedendo o mesmo,significa que isso é devido a marradas de cornupetos contra os contentores?..mistério.
Quanto a cães naquele tempo, problema eram canideos vadios errantes, sem dono, enxameavam as ruas,hoje são cãezinhos levados levados, sim, na arreata pelos seus " tutores", urinando e cagando, pelos jardins, ao som do assobio que os donos fazem para o lado; como nada fosse.
Estamos conversados, falta de civismo , vem de longe , " pesada " herança dos tempos do António da Calçada da Estrela, cuja profícua acção deixou vincadas e duradoiras marcas na índole de muita Lusa gente, em todos aspectos do quotidiano, ao estilo do Ilustre Padre António Vieira, concluo . "é uma questão transversal ".Ora toma...
De modo mordaz escutamos amiúde expressão "esperteza saloia" com intenção pejorativamente atribuir ao povo saloio reduzida inteligência, Nada mais injusto e inadequado.
A propósito partilho com leitores acontecimento, ocorreu Março 1950 na povoação de Dona Maria, Freguesia de Almargem do Bispo , no município de Sintra e ilustra acto demonstrativo de apurada sagacidade e clarividência.
Grupo de vigaristas com amplo cadastro, reuniram-se na casa morador na aldeia, na presença de um pedreiro a quem fizeram uma proposta de conseguir enriquecer rapidamente, mediante realização de pequeno investimento.
Segundo os malandros, possuiam grande invento, uma máquina de fazer notas , tão perfeitas como as do Banco de Portugal , problema estava nos ingredientes para imprimir as notas eram caros, mas para quem tivesse dinheiro, era lucro certo.E mais diziam , não seria necessária uma fortuna,
O bom do homem, declarou tinha seis contos numa arca e duas vaquinhas , que poderia vender pois o negócio parecia aliciante.E perguntou aos vigaros seria possível ver a máquina fazer as notas.Os meliantes saíram e voltaram com uma caixa adornada de sinalizadores e outros artefactos luminosos e o ruído de um pequeno motor ;fizeram demonstração,da maquineta e" brotaram duas notas de vinte escudos, perfeitas porque eram verdadeiras , haviam sido colocadas no interior pelos " inventores ".
Impressionado o pedreiro , e demonstrando interesse próprio dos ingénuos ,disse para voltarem no dia seguinte , pois teria transaccionar as vacas e juntar dinheiro , e esfregava as mãos de contente com a perspectiva de se tornar de um dia para outro muito rico.
No dia seguinte os vigaristas voltaram.Foram recebidos pelo pedreiro, mal eles entraram fechou a porta da casa a chave.Depois agarrou numa picareta e de modo ameaçador ordenou : Fabriquem lá notas de 500 e 1000 escudos.
Como os malandrins só levavam duas notas de vinte escudos, responderam não traziam preparação para imprimirem notas daqueles valores. Nosso patrício com calma olímpica disse-lhes para saírem, e verem se conseguiam passar as notas.
Abriu a porta , quando os vigaristas se preparavam para sair , foram recebidos uma pequena multidão, munida de varapaus enxadas e ancinhos , lhes deu tareia que os deixou sem se poderem mexer.Duas mulheres haviam sido vitimas do " conto do vigário ",quiseram cortar as orelhas dos meliantes, a custo os presentes conseguiram evitar
Foram transportados ao hospital de Sintra, para serem tratados ; ficaram muito maltratados,recolheram depois aos calabouços da Policia judiciaria no Torel em Lisboa.
No fim de tudo o nosso pedreiro exclamava "Vão agora gabar-se que intrujaram um saloio ".Há 70 anos episódio foi muito comentado em todo Pais, se fosse hoje com as " redes" seria viral
Assim terminou , ficando patenteado "esperteza saloia" não é apanágio saloio; Ponham-se a pau.
Cumprem-se 50 anos,da data um grupo empresarial, adquiriu grande propriedade a Quinta do Grajal, onde pretendiam edificar fábrica de cervejas.
De facto,lideradas pelo Conde de Caria,conjunto de empresas, de bebidas, vidreiras , e importante cervejeira espanhola,associaram-se para instalar no concelho de Sintra,uma das maiores fábricas do ramo em Portugal ,
O projecto foi elaborado em Madrid; durou cerca 13 meses construção; a 2 de Agosto de 1972, iniciaram distribuição de cerveja em garrafa, e 20 Novembro ,em barril.
No fim de 1972, trabalhavam na Venda Seca, 394, empregados efectivos e 25 eventuais total de 419, pessoas, maioritariamente residentes nos arredores .
A nova cerveja de muito boa qualidade e excelente sabor,foi bem aceite pelos consumidores.
No período seguir a 25 de Abril de 1974 seria nacionalizada e integrada no grupo cervejeiro; com sede em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira.
Na quinta da Fonte do Cedro, junto da fabrica, laborou produtora de refrigerantes de óptima qualidade; cuja laranjada apreciava muito .
Antes do encerramento, na Venda Seca, existiu delegação da Casa do Pessoal da empresa que absorveu a unidade sintrense.
Memoria da fábrica , ainda hoje paragem de autocarros, na estrada perto da antiga entrada se denomina " CERGAL".
Ontem, vestuário , maquinas de escrever, cervejas, metalomecânica,química,e hoje em muitos outros sectores;concelho de Sintra,continua sendo dos mais industrializados do País.
Quem acintosamente, realçava carácter " dormitório " fazia pretendendo, esvaziar Sintra da sua maior riqueza, as pessoas, moro cá há 47 anos, gosto cada vez mais.
Vai uma cergal ? Em qualquer supermercado ou loja de bebidas de Sintra podem encontrar; bem vistas as coisas, nasceu aqui.
Leal da Câmara, era dotado de singular talento e erudição muito para lá da mestria das suas caricaturas e outras obras plásticas.
Na urbanização da Quinta Grande, propriedade que pertenceu ao antigo prazo de Meleças nos limites de Rio de Mouro e Belas; imaginada por si, além do fim mercantil, capitalista ou intenção de obter legitimamente benefícios patrimoniais, Leal da Câmara, deu asas a imaginação e conhecimento esotérico.
Há pormenores no traçado do plano urbanístico, onde podemos detectar vincada carga simbólica. O Mestre idealizou um largo ou praça octogonal, a forma mais comum da base das pias baptismais. Estaríamos, assim, perante intenção assinalar, sentido iniciático do seu trabalho, sempre reafirmado em todo projecto,
A forma octogonal escolhida, porque simbolicamente número oito (8),é o do equilíbrio cósmico.Também no tempo de Leal da Câmara, em 1932, foi construido na cidade japonesa de Yokohama, um centro para educação espiritual, considerado obra ímpar de arquitectura em forma de um octógono; que alberga no interior bustos de oito sábios do mundo.
Curiosamente a estátua erigida ao Marques de Pombal em Lisboa, tem esculpidas na base do leão e do homenageado os rostos de oito sábios, três na face esquerda, três na direita, um na face frontal e outro na da retaguarda. Oito sábios, o oito deitado é o número da grandeza infinita, neste caso da sabedoria infinita.
A planta octogonal desenhada, para lembrar, oitavo dia que é aquele seguinte aos seis dias da criação e Sabat judaico, simbolizando deste modo a ressurreição, não só de Cristo mas do próprio homem. O Homem novo, outro mundo de beleza e fraternidade em que Leal da Câmara acreditava.
Aqui deixou Leal, grande circunferência central qual "canteiro", destinado ao padre-mestre, guardado pelo "faia" do fuzil;insinuando, ardência da pimenta alimento do fogo perpétuo da fantasia.
Felizmente, Câmara Municipal de Sintra, no plano director municipal (PDM), preserva o "risco " inicial,assim ficará, espero para sempre!
Aqui está inscrita mensagem bela e fantástica ou não fosse imaginada por um "fantasista".
Esta provação ou castigo , porque estou a passar,é ocasião para relembrar significado de quarentena, afinal não deveria ser não de 14 dias,e sim de quarenta porque aquele numero segundo antiga crença, define fim de um ciclo .
Ao longo da historia da religião cristã, numero quarenta revestiu-se sempre de significado divino.
A quaresma prestes a findar, durante a qual se prepara a ressurreição pascal , dura 40 dias.Jesus apareceu aos discípulos, nos quarenta dias antes da Ascensão.Ressuscitou ao fim de quarenta horas de permanência no sepulcro; pregou quarenta meses no deserto,foi apresentado no Templo quarenta dias depois do nascimento.
Jean-Jacques Rosseau,afirmou, quarenta anos seria idade adequada para um político ser verdadeiro homem de estado.Talvez por isso Doutor António de Oliveira Salazar, só aceitou ser nomeado definitivamente Ministro das Finanças,quando entrou no quarentenário.
Moisés foi chamado por Deus ao completar quarenta anos.Buda começou a pregação aos quarenta anos.
Em resumo, quem sabe os sábios que orientam este nosso acto de punição, devem estar a espera de perfazer 40 dias para nos livrarem do confinamento obrigatório?.
Há precisamente quarenta anos, Março de 1980. na freguesia de Rio de Mouro, onde já morava na altura, sucedeu, episódio inusitado noticiado na primeira página do Jornal de Sintra.Chamo atenção onde está GT, deveria estar G3, arma de guerra muito " popular " naquele tempo.
Finalmente, ao fim de quarenta dias o morto está definitivamente morto, porque, só depois os restos mortais ficam, enfim, livres de qualquer sinal de vida.
Procurei com este texto contribuir para não morrerem de tédio, na falta de amêndoas pascais, deixo este " doce ". Quarenta é um grande "número"
Praia da Adraga,jóia do litoral Sintrense, considerada das mais belas praias do mundo; preferida da realeza portuguesa,no final da monarquia.
Com queda do regime monárquico, praia das areias limpas e mar cor de esmeralda, entrou em período decadente de romântica nostalgia, não só dos ilustres visitantes, mas também, quase inacessibilidade, devido caminho impraticável para movimento rodoviário.
Adraga senhorial e aristocrática, apesar do zeloso banheiro Fortunato,popular figura que cuidava do areal e armava filas coloridas de barracas e toldos, perdeu primazia a favor da " republicana " e burguesa Praia das Maçãs.
Finalmente em 1934, dupla de empreendedores José Soares e Claudino Lorido,inauguraram num terraplano a meia encosta, elegante pavilhão, dispondo ampla sala de jantar, caprichosamente decorada,proporcionando esmerado serviço de restaurante e bar. Um acontecimento muito comentado na altura, por ser arrojado e moderno
Infelizmente, acessos permaneceram ruins. o estacionamento difícil, projecto faliu.
Na década de 1970 , a " bolina " do crescimento económico da "primavera Marcelista " vem a surgir novo restaurante iniciativa do senhor Lourenço de que "descende " o actual, onde é possível degustar deliciosos bem confeccionados, pratos de carne ou peixe , com destaque para frutos do mar; atributos que contribuem para justa fama da acolhedora casa, de cujo recinto "banqueteal" se desfruta panorama, das arribas rochosas do areal e mar esmeraldino; acrescentando excelência do serviço, restauracional poiso atinge píncaros no universo gastronómico.
Os " visionários" de 1934, tinham razão quando apostaram no potencial do deste privilegiado recanto da costa Portuguesa;mas... os tempos eram outros.
Praia da Adraga, actualmente,é paradeiro, onde como em nenhum outro , podemos alimentar corpo e espírito; assim continue por dilatados tempos.Oxalá