Leal da Câmara, criador de beleza,homem de convicções espirituais,espírito amargurado e triste, costuma dizer-se , "todos os humoristas são tristes",além de talentoso caricaturista, desenhador de " saloios" para ganhar o sustento,Leal da Câmara,usou sempre as regras da geometria.
Podemos afirmar Leal , conhecia a letra " G ", procurando na gnose do martinismo, deísta, maneira deixar mensagem, de espiritualidade naquilo que desenhava.
Na urbanização concebeu para os terrenos da quinta grande na Rinchoa,deixou como " assinatura ", a praça octogonal no centro da urbe,
Circulo com 36 metros de diâmetro, numero preferido dos pitagóricos, considerado o da solidariedade cósmica, a soma dos primeiros pares com os primeiros ímpares (20 + 16 ), grande quaternário ,é também a soma dos cubos dos três primeiros números.
Multiplicando 36 por 10,numero da grandeza infinita obtemos 360,anuidade e principio de todos ciclos cósmicos,
Fantasiou forma octogonal para a " praça " oito é numero do equilíbrio perfeito, octogonal a forma da base de quase todas as pias baptismais,baptismo rito inequívoco da iniciação.
Atravessando canteiro avenida das pimenteiras,pimenta algo provoca ardor ou arde " sem se ver". Leal da Câmara, pela gnose ansiava subir escada de Jacob, passar de novo ao tempo homogéneo, não sujeito a contagem. Ascendia, quando voltava seria arcanjo protector contra o heterogéneo onde o tempo é mensurável , tem " duração ", dureza existencial , a qual seria mais suportável ,desvelando conhecimento. Fico por aqui, Leal da Câmara, um ser humano fascinante e misterioso.
O culto e devoção de Nossa Senhora de Nazaré, originário no Santuário da Nazaré, edificado na localidade do Sitio, cume da colina que coroa a vila piscatória.
Santuário onde afluíam maior numero de peregrinos de todo Portugal, antes da construção do de Fátima, após as aparições da Virgem Nossa Senhora, na Cova da Iria em 1917.
Lugar da mais arreigada dedicação Mariana de todo Oeste Peninsular, concretizada na manifestação de religiosidade popular, fervorosa imponente e grandiosa, do círio da " Prata Grande", no qual se integram freguesias sintrenses de São João das Lampas, Terrugem e Montelavar.
No final de Maio, mês por excelência de culto Mariano. Imagem peregrina de Nossa Senhora da Nazaré, aqui fica, com votos conceda a todos, as graças pretendidas.
Durante décadas dia 28 de Maio, era feriado,para comemorar " gloriosa " arrancada dos militares revoltosos,que saíram da cidade Braga, sob comando do General Gomes da Costa, com finalidade derrubar, sistema democrático parlamentar, instituir ditadura militar ; conseguiram.
Depois, foram quarente e oito anos, de governo autoritário presidido pelo Dr. António de Oliveira Salazar, que protocolarmente reservou para actos mais solenes como recepções e jantares, o Palácio Nacional de Sintra, vulgo , Palácio da Vila.
Isso são contas de outro rosário ,hoje, confinado,em reclusão quase monacal, decidi trazer a colação daqueles, legitimamente se revoltam contra sacrifícios a que somos sujeitos , por governantes democraticamente eleitos ;louvando o ditador e sua governança como exemplo de um período de abastança e felicidade,memória desse " entonces ".
Doutor Oliveira Salazar,no décimo aniversário da revolução de 28 Maio, num celebre discurso, afirmou:
Como era de esperar multidão , ouvindo a pergunta respondeu num só grito "TODOS ". demostrando vontade férrea ,acompanhar o chefe, sem olhar aos " mais duros sacrifícios e altos heroísmos e mais seguras dedicações ".
Tranquilos pois, seguindo ensinamentos do insigne governante, maioria da lusa gente, será indefectível ao lema " quanto mais sacrifícios melhor ". Estamos safos.
Para finalizar evocação, deveria escrever "A bem da Nação ", modo de concluir cartas de " correio oficial " na vigência do Salazarismo
Termino, só para contrariar retomando, antiga tradição republicana, " Saúde e fraternidade ".
O projecto urbanístico idealizado, genialmente por Leal da Câmara, tem particularidades que fazem dele, um caso ímpar em todo mundo.
No quadrante sul do "canteiro sagrado", encontramos a área onde artérias - todas avenidas - ostentam nomes de árvores de floresta, próprias para madeira, além de: Cedros, Robinias, Carvalhos, e outros.
Deparamos:
No lado norte, delimitado pela druida e mágica avenida das Aveleiras, observamos, ruas ostentando nomes de diversas árvores de fruto de caroço, como por exemplo: Nogueiras, Ameixoeiras, Amendoeiras e Oliveiras.
Podemos também encontrar:
De um lado temos "tábuas", elemento de construção, do outro, "frutos" , são alimento do corpo, ao meio, no lugar geométrico da virtude; o elemento espiritual da filosofia pitagórica. Rinchoa é local único, onde se desenvolveu experiência mística, "realizadora" produzida pelo esquadro, e o compasso de Leal da Câmara.
Além, muito além de talentoso artista plástico escritor e pedagogo, Leal da Câmara, acima de tudo, demonstrou ser conhecedor da gnose espiritual.
Astrólogo, membro do grupo " Planetário ", pitagórico, conhecedor profundo da geometria. e simbologia das figuras geométricas,adepto da corrente "fantasista ", não descurava oportunidade afirmar as suas convicções.
Numa esquina do pátio da casa onde viveu , na Rinchoa,estava colocado poste de cimento de um candeeiro de iluminação publica eléctrica.
Pouco antes de falecer, em 1948, poste seria deslocado daquele para outro local.Leal da Câmara, terá mandado, cortá-lo deixando encastrado no muro, a parte inferior .
Sátiro , irónico " realizador" preocupou-se deixar visível numero 400,marcado no poste , que designava o tipo de fabrico.
Leal da Câmara , nunca deu ponto sem nó; 400, segundo a simbologia da cabala, é o numero limite,similar também ao tau, derradeira letra do alfabeto hebraico, corresponde ao Mundo , último arcano do tarot.
Aqui reforça, limite da propriedade, está imediatamente sobre o marco da extrema.Nada é tão simples como aparenta, e Leal da Câmara seria tudo menos um Homem simples.
Na primeira metade do século XX, a Rinchoa, adquiriu fama como local onde era chique e distinto, assinalar factos importantes da vida social da época.
Num jornal regional,encontrei deliciosa noticia, digna de partilhar com os meus leitores.
"No dia vinte de Maio 1948, uma quinta-feira ,para comemorar as bodas de prata do seu matrimónio, o conceituado industrial em Lisboa,Sr.António Gomes, e sua esposa Dª Glória da Cruz Gomes, naturais da localidade de Cavaleiros de Cima, freguesia de Fajão,concelho de Pampilhosa da Serra,decidiram festejar aquela data em local apropriado.
Para o efeito convidaram dezenas de amigos, para um banquete, que ofereceram no restaurante MARIA TERESA, na aprazível localidade da Rinchoa, perto de Sintra, tendo os convidados,seguido para ali em vários automóveis.
O banquete decorreu,no meio de esfuziante alegria.A família Gomes foi muito cumprimentada."
Para terminar informo restaurante ficava na Calçada da Rinchoa, colina contigua ao edifico da agência bancária, na Rua da Choupaninha, de onde se desfrutava esplendorosa vista da Serra de Sintra.
Ontem como hoje, para celebrar a vida, e progresso, Rinchoa, é dos melhores sítios da Área Metropolitana de Lisboa; e também, depois da vila de Sintra, no concelho não há igual.
Por detrás deste castanheiro, na rua da Fonte ,era o restaurante.
Durante mais de um século romaria do Senhor da Serra, se realizava em redor da ermida do mesmo nome junto a vila de Belas no Concelho de Sintra, era a mais frequentada dos arredores de Lisboa.
Até no jornal da região beiroa, de onde sou natural,servia de tema para noticia.
Resido no Município de Sintra há mais de 45 anos, é muito mais do que metade da existência, daí gostei de ter encontrado no meu acervo arquivístico esta " memória, que gostosamente partilho.Acontecimento de uma segunda-feira, no longínquo 1913, nos primórdios do regime Republicano
Padre António Maria Rodrigues, natural de uma aldeia no concelho de Arganil. distrito de Coimbra ; durante 30 anos, capelão professor e regente do colégio escola profissional, da Quinta Regional de Sintra, instalada na Granja do Marques, onde está Base Aérea nº1, e na Tapada das Mercês, propriedades alugadas a herdeiros da Casa Pombal.Escreveu opúsculo intitulado " Apontamentos acerca da Agricultura em Portugal ",onde podemos colher preciosas informações sobre características agrícolas do campo no concelho de Sintra, principalmente, na Granja e campos envolventes.Datado de Maio 1906, em parte reproduzo, actualizando a ortografia, conservando a grafia " CINTRA " porque gosto muito.
"Dois ramos da industria são característicos de Cintra; a confecção das famosas queijadas,e a venda de flores. Em Colares 7 quilómetros ao poente de Cintra,produz-se saborosa fruta, excelente vinho de pasto e obras de verga; mas este vinho conhecido em todo país e mesmo no estrangeiro, raras vezes se encontra no seu tipo genuíno, a não ser em casa do lavrador.
As grandes pedreiras de mármore em Pero Pinheiro , Lameiras ( ... ), constituem a principal fonte de riqueza do concelho ."
Nesta época, qualidade do vinho de Colares, adulterada pela ganancia dos produtores, sabendo da facilidade de venda dos " caldos " colarejos,iam martelando a produção afim de venderem mistelas , desprestigiando a cada vez mais o vinho. A criação da Adega Regional de Colares, e acção do Dr. Brandão de Vasconcelos, permitiram inextremis salvar a renome do néctar das vinhas de Colares.O mármore já em 1906, principal fonte de riqueza do concelho.Continuando , Padre Rodrigues escrevia :
O visitante, ao retirar-se de Cintra,pela estrada de Mafra, notará logo de 2 quilómetros de distancia,o contraste que existe entre a pujante vegetação do lugar que deixou e o aspecto desagradável do campo que vai descobrindo.
Aqui não só a vegetação nos matos é raquítica, mas as próprias árvores que orlam a estrada ( freixos, olmos, e choupos ), são mal conformadas, inclinando-se para o sul, fustigadas pelo vento, quase permanente esta região.
A nortada, nossa conhecida, já na altura, "o pão nosso de cada dia"...
" Os terrenos da lavoura,depois de realizadas as ceifas de trigos ou favais que são a cultura geral entre os saloios, apresentam uma vista escura, triste, alternando com grandes montes de pedra de algumas pedreiras abandonadas ou em exploração.
A figueira e a ginjeira, são as árvores frutíferas, melhor resistem, a macieira, e a pereira, estendem -se ao abrigo dos muros, acima dos quais não conseguem passar.
A água é muito calcária, a gente bastante laboriosa e morigerada, mas ainda ignorante.
Referencia as pereiras em " bardo " e abundantes, corroboram significado e origem da minha investigação acerca do topónimo Rinchoa.
Termino reafirmando interesse e beleza do texto , permite conhecer melhor a evolução campesina da nossa terra.
Num recanto da Rua Cupertino Ribeiro, no casco antigo da freguesia, existe chafariz, ora seco , em cuja bica correu durante mais de um século agua mineral de elevado teor de ferro, popularmente dita " férrea".
A fonte mandada construir, pelo senado da Câmara de Sintra, reinado de Dona Maria II, para "O Bem Público" , seria demolida em 1971, por uma empresa industrial,durante execução de obras. Responsáveis tiveram cuidado de guardar as pedras, com as respectivas inscrições.
O povo da terra tinha, e continua tendo grande estima no histórico chafariz, sempre desejou voltar a vê-lo no local onde havia sido implantado.
O senhor Artur Duarte,colaborador do Jornal de Sintra, foi quem mais pugnou no sentido do chafariz ser reconstruido no devido lugar. Assim sucederia no final de 1973.
Com decorrer tempo voltou ficar degradado, atenção e carinho da actual Junta de Freguesia de Rio de Mouro,relativamente ao património historico, e tradicional da nossa terra,permitiu restaurar o fontanário.
Ficou incompleto desejo de todos; agua mineral, brotava na bica , canalizada a partir de nascente numa quinta das proximidades,precioso liquido que pertencia ao domínio publico ,deixou de correr.É pena, segundo antigas análises água posuia excelentes caracteristicas terapêuticas.
O chafariz completará 240 anos, em 2021, longa vida com menos atribulações, para emblemático ex-libris de Rio de Mouro Velho