Quando era possível circular sem restrições, por todo lado sem receio algum zeloso cívico, mandasse parar, ordenado retorno a casa;durante passeio para conhecer recônditos sítios da Área Metropolitana de Lisboa,decidi visitar, antiga Vila de Canha no concelho do Montijo, onde nunca havia estado.
Conhecia por leituras, aqui crescem árvores de porte majestoso, de provecta idade,alimentadas por húmus de terrenos férteis.
Depois de visitar na localidade, a igreja matriz,e petiscarmos, umas deliciosas migas,voltamos a estrada, rumo a Vendas Novas.
A cerca seis quilómetros, em propriedade privada, devidamente protegido, encontramos, sobreiro porte magnifico, cujo tronco com diâmetro de 6,5 metros é segundo dados oficiais,o de maior dimensão medido em Portugal
Tivemos sorte,alguém estava por perto,e gentilmente, abriu a cancela permitindo, aproximarmo-nos da imponente árvore. Maravilhoso sobreiro,crescendo em local ermo,sem ruídos parasitas,propicio contemplação devida a tão extraordinário monumento vivo;tendo idade cientificamente testada de 250 anos
Só por si visitar este sobreiro , vale a pena sair dos itinerários principais....
Abril de 1914, foram conhecidos resultados do concurso aberto para apresentação de projectos destinados ao monumento a Marques de Pombal, a erigir em Lisboa.
O primeiro prémio seria atribuído a proposta apresentada ,em "maquete",pelos arquitectos Adães Bermudes, António Couto,e escultor, Francisco dos Santos.
Em primeiro plano,está retrato de Francisco dos Santos, um dos maiores escultores portugueses de todos os tempos, natural da localidade de Paiões , freguesia de Rio de Mouro, Sintra.
Ao centro figura, arquitecto Adães Bermudes, ultimo será, o também arquitecto, António Couto.
Acerca destes, protagonistas, do citado concurso, existe pormenor, interessante. Adães Bermudes, já possuia quinta, situada em Paiões, onde viria a falecer. António Couto, nasceu em Barcarena, tendo ficado órfão sendo criança, devido a falta de recursos de sua mãe, foi educado, na Casa Pia de Lisboa, onde seria condiscípulo de Francisco dos Santos.
Barcarena,actualmente freguesia do concelho de Oeiras, ficava próximo a Rio de Mouro, bem perto, porque, limites da autarquia, naquela época, terminavam na Ribeira de Barcarena,
Podemos afirmar , com certeza, ideia para concretizar projecto deste grandioso e belo monumento, glorificando, personagem controversa da História de Portugal, seria ,tambem, debatida em Paiões.
Monumento a Marques de Pombal em Lisboa, resultou do talento engenho e arte de artistas, nascidos na região saloia. Adães Bermudes, veio ao mundo na cidade do Porto, e repousa no Cemiterio paroquial da nossa freguesia. Havia elo que os unia foram membros da maçonaria.
Antiga importância industrial do núcleo urbano do vulgarmente referido como Rio de Mouro Velho, no concelho de Sintra, pouco resta. Ruinas de lagares de azeite, e vinho, reminiscências da importância agrícola, da região em tempo não muito distante; onde chegou existir sindicato da lavoura.
Sobressaindo na paisagem, altaneira chaminé da fabrica de tinturaria e estamparia, laborou desde 1771, até anos vinte do século passado.
As casas do bairro operário, ladeando antiga estrada de Lisboa-Sintra, completam lembranças do tempo, onde maioria da população residente na localidade ganhava parco pão, trabalhando arduamente, na fabrica, auferindo, como afirmou o dono do estabelecimento fabril, " salários baixíssimos ".
Memória, vestígio relevante, da história da nossa terra, merece; não sendo possível, adquirir o local onde se encontra, seja pelo menos, feito levantamento fotográfico,e inventariadas as características construtivas, como legado as gerações vindouras
Na década 1970, ganhou justa fama, na localidade do Recoveiro, cruzamento da estrada nacional EN 249, com estrada do Telhal, Municipio de Sintra, restaurante denominado ABEGÃO.
Amplas instalações com adega anexa, provida de bojudas pipas guardando deliciosa pinga, o ABEGÃO, distinguia-se por servir fabuloso cozido a portuguesa, acima de tudo, carne de porco a moda da feira das Mercês, em doses generosas , na tradicional "caçoila" de barro. A carne sempre fresca, de primeira qualidade,proporcionavam manjar único.
A Quarta-Feira almoço de cozido levava multidões, vindas de Lisboa e arredores para degustar a iguaria prato servida com as carnes separadas dos vegetais, em porções pantagruélicas,
Com a minha família fomos cliente assíduos, durante anos, normalmente ao jantar.A nossa assiduidade permitiu privar com os donos pessoas simpáticas, proprietária, cozinheira de mão cheia,
As sobremesas eram igualmente bem confeccionadas ; a nossa filha mais velha, "perdia-se" com a mousse de chocolate, jamais encontrada igual noutro sitio,
Vicissitudes dramáticas, levaram ABEGÃO, a ruína. Outra gente tentou reabrir o espaço, não tiveram êxito, era de esperar, o restaurante do Recoveiro foi único, inimitável, Deixou muita saudade. faz parte do nosso " álbum " de boas recordações...
No livro de leituras da primeira classe do ensino primário, do período do Estado Novo durante décadas 1950 e 1960 ,na pagina 88 havia lição intitulada, "O DIA DO SENHOR" no texto faziam elegia do valor simbólico do sino, e sua relação com pratica religiosa, referindo: "Obedientes a voz do sino, homens ,mulheres e crianças, acodem ao templo, para assistirem a missa "
Algumas vezes veio a memória este texto, quando visito capela, de São Marcos, situada no coração da antiga aldeia, durante séculos, pertenceu, a Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro, antes de passar a de Agualva-Cacém, no inicio dos anos 50 do século passado.
A capela tem singelo campanário, de rústica beleza,felizmente ainda é possível, aqui, manter o sino colocado no seu poiso, contrariamente a muitas aldeias, despovoadas do interior do País, onde com receio dos roubos os sinos foram retirados dos campanários.
No Portugal cavernícola do Salazarismo, tudo andava a toque de sino, fosse a rebate, para assinalar perigo,as trindades, e missa para rezar, a dobrar a finados anunciando a morte de alguém,ou repicar demonstrando contentamento quando se tratava de casamentos ou baptizados.
Gosto de vez enquanto visitar aldeia de São Marcos,admirando o sino da capela, relembrar a posição do badalo ,evoca tudo que está suspenso, entre a terra e o céu, e por isso som da campânula estabelece comunicação entre os dois.
A semelhança de Fernando Pessoa, que considerava o sino da igreja dos Mártires no Chiado, em Lisboa, sino da sua aldeia; por mim adoptei com a mesma intenção simbólica o sino da velha urbe de São Marcos, no concelho de Sintra.
Os incêndios florestais dos últimos anos, principalmente no centro e norte do País, tem dizimado, extensos povoamentos de espécies silvícolas,com predominância do pinheiro bravo,
Curiosamente, no sitio mais elevado da Rinchoa, 220 metros de altitude, freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra, junto reservatórios de agua, é possível, admirar notável exemplar, cujo tronco mede cerca de 2,4 metros diâmetro, a altura do peito.
Crescendo,no meio de zona densamente povoada, é caso raro, talvez único, em Portugal. Mais uma singularidade do nosso bairro. O fuste terá de envergadura cerca de 25 metros, Com estas características deverá ter idade aproximada 75 anos, longevidade significativa para pinheiro bravo.
Reminiscência de antigo pinhal, cobria, encosta e terrenos adjacente, é uma árvore silvestre, nascida espontaneamente, dádiva maravilhosa e pródigo da mãe natureza; merece ser conhecida e preservada. Lembrando cantilena popular termino: "ALTO PINHEIRO DA RINCHOA,DE VERÃO QUASE SECAS;NO INVERNO TREMES DE FRIO"
Antiga fabrica de estamparia e tinturaria, existiu em Rio de Mouro, Concelho de Sintra, foi oficialmente, fundada em 1771. Acerca deste estabelecimento fabril, primeiro laborar no Município; publiquei separata do artigo de minha autoria, inserto na revista Sintria, cujo conteúdo tem sido aproveitado por gente sem princípios, utilizam o que escrevemos sem citarem fonte, enfim.
No inquérito de 1881, o proprietário Filipe José da Luz, respondeu,afirmando fábrica , havia sido fundada no principio do século XIX,primitivo dono, José da Silva,tendo acompanhado a família real quando fugiu para o Brasil,causa das invasões francesas, vendeu a fábrica ao seu avô.
Sabemos agora oficialmente a fábrica nasceu em 1771.
Comemoram-se este ano 250 anos, resolvi assinalar efeméride,prometendo voltar ao assunto, com mais informação acerca deste importante património, da história da nossa terra. A fabrica produzia lenços estampados de tão elevada qualidade,eram comercializados sendo de Alcobaça, e afinal produzidos aqui.
A fábrica estava situada de fronte do adro da Igreja de Nossa Senhora de Belém , em Rio de Mouro,( velho ), apresentando aspecto exterior como mostra a imagem até ser demolida, infelizmente, na década de 1980. Foi depois metalúrgica de alumínios, e hoje estúdio de gravações áudio visuais.
Uma data importante que não devia passar sem justificada referencia.
Leal da Camara, como já escrevi e demonstrei seria membro da carbonária, a exemplo do seu grande amigo, Aquilino Ribeiro.
A urbanização idealizada para a Rinchoa, foi concretização de "fantasia" baseada nos ideais da carbonária. Mestre Leal da Camara deixou "encriptada" a intenção, convencido se alguém afecto a ditadura Estado Novista, pudesse imaginar tal coisa, teria problemas.
O ideário carbonário, postula sendo denominada "maçonaria florestal", os seus membros deveriam conhecer pelo menos três espécies de árvores e respectiva madeira , a saber :
Acácia espinhosa de cujos ramos havia sido feita coroa de espinhos, colocada sobre a cabeça de Jesus, quando expirou na Cruz. O ulmeiro de cuja madeira teria sido feito o ataúde de Jesus Cristo, finalmente, a figueira onde Judas o traidor segundo as escrituras, arrependido se enforcou.
Para não dar " pistas " Leal da Camara atribuiu nome avenida das Acácias, avenida dos Ulmeiros; depois por via das dúvidas passou a Choupos.
Finalmente, não deixou que Figueira, fosse nome de qualquer artéria da urbe, para continuar a preservar segredo,
No entanto, denominou Avenida das Olaias, a rua defronte da sua casa. Olaia, igualmente, conhecida por árvore de Judas; assim, figueira de modo " fantasiado ", de acordo com a sua propensão fantasista, está contemplada.
Também, este nome, sempre presente a porta de sua casa, não deixava esquecer facto um perigo dos "amigos ", é a traição.
E assim demonstro, até numa simples urbanização nem tudo é tão simples como aparenta.
No final década 1970, em Rio de Mouro, entre outros de nomeada,existiu, sediado no antigo, casco urbano da freguesia, localidade hoje conhecida por Rio de Mouro (velho), restaurante conhecido em toda a região de Lisboa, frequentado por gente jovem, trabalhadora com algum poder de compra.
Ao fim de semana, normalmente, ao jantar, havia sessão de fados. Comia-se bem naquela casa, vinho muito bom,proveniente da zona de Alcoentre - Aveiras, "pomada" de estalo. A cozinha aprimorada, doses de comida generosas servidas, ambiente com toque rústico, descontraído, ocasionavam algumas vezes ," casa cheia ", necessitando marcação de mesa.
Encontrei, nas arrumações para entreter, cofinamento, factura de jantar,dia 13 Abril de 1974 doze dias antes da Revolução de Abril.
Refeição partilhada com minha mulher, nesta data morávamos na Rinchoa a menos de um ano, no entanto conhecia local havia mais tempo.
Nessa altura conduzia o meu primeiro carro, Datsun 1000, verde escuro, quatro portas radio, comprado em "primeira mão", com "fundos próprios" ,permitia mobilidade, sem depender de transportes públicos.
Estabelecimento, ficava na Rua Cupertino Ribeiro margem, esquerda, da ribeira de Rio de Mouro, junto da ponte na antiga estrada Lisboa - Sintra, quase no inicio da subida do Alto Forte.Chamava-se "Arre-Macho".Mudou,mais tarde, nome para Almocreve,encerrando definitivamente, no começo do presente século .
Do lugar, ficou saudade, das refeições a base de grelhados, do ambiente;a fama do sitio,alcançava quatro cantos da Grande Lisboa, contribuindo para guindar Rio de Mouro a estatuto de local onde seria possível degustar gastronomia de qualidade.
Aspecto do extinto. no entanto nunca esquecido ; " ARRE- MACHO ".