UM FERRADOR QUE TRATAVA DA SAÚDE EM SINTRA NO SÉCULO XIX
Face aos problemas relacionados com os cuidados de saúde, que são devidos á população, e que de amiúde são motivo de justas reclamações, tanto pela insuficiência das instalações para o atendimento, quer por falta de pessoal médico de enfermagem, e administrativo. Poucos farão uma pequena ideia de como seria prestada a assistencia sanitária aos habitantes de Cintra - como então se escrevia,nos anos 80 do século XIX, e por isso iremos contar sem qualquer comentário o seguinte: Quer Sua Magestade que o governador civil estranhe ao administrador do concelho (de Cintra), a indiferença com que ele tem olhado para o facto de se achar um simples ferrador tratando doentes, e exercendo a profissão médica, facto que sendo um crime punido pelo artigo 236º & 2º do codigo penal, ele tinha duplicada obrigação de reprimir, ou como autoridade de polícia, ou como sub-delegado do conselho de saúde, e que lhe ordene levante logo os autos de investigação necessários sobre os actos criminosos daquele individuo, aos quais se alude no relatório do comissario do conselho de saude, e os remeta ao ministério público,para instaurar o comptente pocesso criminal. E da execução desta portaria dará o governador civil oportunamente conta.
Paço,em 18 de Fevereiro de 1868--Duque de Loulé
Apesar de tudo o povo nem sempre quer saber dos avisos e recomendações e continua a proceder como se não houvesse problema algum quando é avisado. Curiosamente existe uma artéria a RUA DO FERRADOR, na zona de Albarraque Freguesia de Rio de Mouro. Terá alguma relação com a determinação legal enunciada? Não sabemos;pode ser uma homenagem ao "falso médico"e não é caso para estranhar. Atente-se no que escreveu ( António Ferro-1933), em entrevista que lhe concedeu o Professor Oliveira Salazar, o qual afirmou "Basta ver as reacções do nosso povo. diante dos grandes crimes (...) o primeiro movimento é de violência de rancor, quase ódio contra o criminoso, mas depois do julgamento quando há condenação aparece logo um movimento de compaixão, coitado ! Pobre homem! Bem basta o que já sofreu... A. Ferro perguntou ao Dr. Salazar: Mas isso não prova a bondade natural do nosso povo? resposta do ditador: "aquilo a que nós chamamos bondade natural não passa dum sentimentalismo doentio". Se calhar foi isso que deve ter "salvo" o ferrador, que tratava da saúde em Sintra aos "animais" de toda a espécie no ano da graça de 1868.
* Rua do Ferrador em Albarraque