A CÂMARA DE SINTRA E O REGICÍDIO
Os acontecimentos de 1 de Fevereiro de 1908, que determinaram o assassínio de D. Carlos I e do Príncipe herdeiro Luís Filipe, provocaram grande impacto em todo o País.
A Câmara Municipal de Sintra, a exemplo de outras, reuniu extraordinariamente para marcar posição perante o sucedido.
Sendo Sintra uma Vila frequentada pela "Família Real", é interessante divulgar o que a Câmara Sintrense deliberou.
A acta da reunião extraordinária do Município realizada em 10 de Fevereiro de 1908 reza o seguinte:
"Nesta Vila de Sintra, Paços do Concelho e Sala das sessões da Câmara Municipal, reuniu em sessão extraordinária, a Comissão Administrativa do Município, sob a Presidência do Senhor Visconde de Tojal, achando-se presente os Vogais Senhores Francisco Gonçalves da Silva, Alfredo Cambournac , Henrique dos Santos e José Maximino C. Barros, estando também presente o Senhor Administrador do Concelho Visconde da Idanha. Aberta a sessão, era meio dia. O Senhor Presidente declarou que convocava esta sessão extraordinária, para hoje, por ser o primeiro dia útil depois dos tristíssimos acontecimentos do dia um do corrente em Lisboa, para dar conhecimento à Comissão de que, logo no dia dois ao ser conhecido aqui o nefasto atentado, que vitimou Sua Majestade El-Rei D. Carlos, Sua Alteza o Príncipe Real D. Luís Filipe, dirigira telegramas a toda a "Família Real" em nome do Município, manifestando o seu sentimento pela perda que enlutara o País, telegrama de que já recebeu os agradecimentos, que apresenta à Comissão, e de que esta tomou conhecimento.
Que não obstante estar cumprido esse dever, e de ter já ido pessoalmente ao Paço, acompanhado duma numerosa comissão de proprietários e comerciantes de Sintra, e, inscrevendo-se no registo das condolências, propunha que na acta desta sessão se consignasse...
O profundo sentimento do Município, pelo infausto acontecimento, e o seu protesto contra o infame atentado que roubou as vidas preciosas de D' El-Rei e do Príncipe Real, que fazendo esta proposta, estava convencido de interpretar o sentir geral de todos os Munícipes , tanto mais que o Concelho de Sintra, deve à Família Real", especial predilecção, demonstrada, pela honra da sua permanência aqui, todos os anos, por larga temporada, o que tanto têm concorrido para o desenvolvimento do seu comércio e da sua riqueza, predilecção e dedicação de que ainda há muito pouco tempo foi dada eloquente prova, por Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia, dignando-se aceitar a presidência da "Liga Promotora dos melhoramentos de Sintra", que tanto deve concorrer para o engrandecimento do Concelho. Que por todos estes factos, e, por outros que se abstêm de relatar, e são do conhecimento da Comissão, propunha que do voto de sentimento aqui consignado, se desse conhecimento à Família Real", e que na igreja paroquial de S. Martinho, se celebrasse no dia 21 do corrente, vigésimo dia depois do atentado uma missa de requium " sufragando as almas de Sua Majestade e Alteza Real, convidando-se oficialmente todo o funcionalismo público do Concelho a assistir a esse acto de cuja celebração se dará publicidade para que todos a ele possam assistir. O que tudo foi aprovado, por unanimidade, deliberando mais a Comissão que todas as despesas com essa cerimónia religiosa, fossem particular e individualmente pagas pelos respectivos vogais.
Tendo-se associado a todas estas manifestações o Senhor Administrador do Concelho. Foi seguidamente encerrada a sessão".
A acta:
Nem todos os presentes assinaram a acta. Ninguém usou da palavra, além do Visconde do Tojal.
O facto das despesas da missa terem sido assumidas pelos membros do executivo, demonstra o receio de reacções dos Munícipes . Esta acta revela, que em Sintra a influência do ideal Republicano era notório , e, que os monárquicos já não assumiam com convicção a defesa do Regime. Para além da morte lamentável de dois seres humanos o que morreu em 1 de Fevereiro de 1908, foi a monarquia, apesar de formalmente só o ter sido em 5 de Outubro de 1910.