No dia 21 do último mês passou mais um ano sobre o falecimento de Leal da Câmara, ocorrido em 1948. Costuma afirmar-se que alguém só morre de facto, quando está completamente esquecido. Apesar do reduzido número de pessoas ter assinalado a efeméride, "o mestre" continua na lembrança da gente do sítio onde viveu e deixou "marca": a RINCHOA no concelho de Sintra.
Leal da Câmara foi inumado no cemitério paroquial de Belas na sepultura de sua mãe, falecida em 1930. Como preito ao ilustre finado, colocou-se sobre a pedra que cobre campa rasa, coroa de flores, em ambiente de respeitoso silêncio.
O acto contou com presença dos presidentes do agrupamento de freguesia de Queluz-Belas: Paula Alves e da freguesia de Rio de Mouro: Bruno Parreira e algumas outras pessoas entre as quais o autor desta nota. Cerimónia simples, por isso de grande significado.
Em entrevista concedida a um periódico dois anos antes da morte, LEAL, afirmava: "ainda acabo saloio". Não sabemos se terá sido assim, terminou os dias na região saloia que tanto estimava, é verdade... merece a nossa recordação e reconhecimento pelo legado.
Em Setembro de 2013, encontrei pela primeira vez um gigantesco carvalho, que cresce na antiga quinta grande de Meleças situada na Rinchoa,limites das freguesias de Rio de Mouro e de Belas no Município de Sintra , área metropolitana de Lisboa, Portugal.
Desde dessa altura quando desponta, finalmente, o tempo primaveril, como sucedeu hoje, um sol luminoso e quente adorna o dia, depois de persistentes temporais de chuva vento e frio,fui qual romeiro visitar a árvore.Talvez seja das minhas remotas origens asturianas,o carvalho impressiona-me pela majestade do tronco e espessura da folhagem.Árvore poderosa símbolo de força, aliás a palavra latina "robur" que significa carvalho, quer dizer força, a grandiosidade da sua copa assemelha-se á cobertura de um templo.
No meu anterior apontamento escrevi: a casca que falta no tronco, devia ter sido utilizada no curtimento de peles. Poderá ser; hoje observando com mais atenção , posso afirmar a árvore deve ter sido atingida por um raio, que danificou o tronco e secou muita ramaria.
O exemplar é robusto, resistiu, apresenta aspecto de grande vigor vegetativo. Medi o perímetro do tronco á altura do peito (PAP), verifiquei a dimensão de 2,95 metros. O tronco de um carvalho em condições favoráveis de solo e água , como é o caso, cresce cerca de 6 cm por década a idade deste será de cerca 450 anos.Oxalá continue motivo de inspiração sabedoria e força que os nossos antepassados celtas atribuíam ao carvalho. A mais antiga árvore do rincão sintrense aonde está.
Belas sede de concelho até 1855, actualmente integrada na união de freguesias de Queluz-Belas, município de Sintra, destino de veraneio e repouso da nobreza e burguesia da capital do reino e cabeça de marquesado. O título teve origem num real decreto da Rainha Dona Maria I de Portugal em 1801. O derradeiro titular na vigência do regime monárquico desta distinção,nasceu na vila de Belas a vinte e oito de Julho de 1878, domingo,pelas cinco horas da manhã, filho legítimo do marquês de Belas, D. António de Castelo Branco natural da Freguesia dos Anjos na Cidade de Lisboa e Dona Maria da Piedade de Lacerda de Almeida e Vasconcelos natural de São Pedro do Sul, distrito de Viseu, casados canonicamente. Neto paterno de D. José Castelo Branco Correia e Cunha Vasconcelos e Sousa e Dona Maria Francisca Luísa de Sousa,condes de Pombeiro, materno do senhor Paulo Correia de Lacerda Lebrim e Vasconcelos e Dona Caetana da Cunha Almeida e Vasconcelos. Baptizado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Misericórdia de Belas em dois de Agosto de 1878, foram padrinhos o avô materno e tia paterna Dona Rita de Castelo Branco, solteira, moradores em Belas. Ambos sabiam escrever, assinaram o termo do baptismo. Acto celebrado pelo reverendo presbítero Gualdino de Amaral e Sá.
Teve esmerada educação, oficial do exército pertenceu à arma de cavalaria serviu nos regimentos de lanceiros 2 de Lisboa, cavalaria 9 na invicta cidade do Porto atingiu o posto de tenente, aficionado de equitação e da tauromaquia,tradição de família. Implantada a República, na sequência da revolução de 5 de Outubro de 1910, foi viver para Itália acompanhando sua mãe, dama da Rainha Dona Maria Pia de Sabóia.Após a morte da Rainha, em Turim no ano de 1911 regressou a Portugal. Monárquico convicto participou em todas as tentativas para restaurar o regime deposto. Instaurada a ditadura militar, em 1928 foi reintegrado no exército, logo passado á reforma. Dedicou-se aos negócios ,em Portugal e Roménia. Industrial de conservas de sardinha proprietário de fábricas na cidade portuguesa de Setúbal.Patrão com preocupações sociais, muito estimado pelos operários e operárias das suas empresas, carinhosamente o apelidavam "Marquês Sardinheiro" faleceu em Lisboa a 16 de Maio de 1965, curiosamente o mesmo dia da semana do nascimento. Está sepultado em Santarém. D.José Inácio de Castelo Branco Correia da Cunha Vasconcelos e Sousa, Par do Reino, fidalgo da Casa Real, 4º marquês de Belas, 10º conde de Pombeiro, visconde de Castelo Branco, 22º senhor de Pombeiro e 16º senhor de Belas. Na pia baptismal recebeu o nome de José Inácio de Loyola. De "Loyola" desapareceu, desconhecemos o motivo.
Desvendamos um enigma acerca das razões que levavam, suas Majestades a procurarem estadias em Sintra. Além das particularidades de beleza e clima ameno da terra, existiam outras igualmente relevantes para rumar à encantadora Sintra. A "porcaria " de Lisboa, como se pode aquilatar por um edital da Câmara Municipal de Lisboa de 1798. O documento dá razão ao escritor Eça de Queiroz, o qual em 1871, no livro"Uma Campanha Alegre (p.186,187) escrevia:
"Lisboa é a cidade mais suja da Europa. A própria Constantinopla, com o torpe desleixo turco, a própria Atenas, com a indolente miséria grega-são mais limpas:e se não fosse o Tejo que lhe faz uma certa toilette, e este sol maravilhoso que tudo a alegre e doura-Lisboa, aqui ao canto, junto ao mar, como um cano, seria a sentina da Europa"
Não admira a escolha de Sintra e seu termo, como local de morada e veraneio da Corte, nobreza e burguesia endinheirada. Primeiro as vilas de Belas Sintra, e Queluz com os seus palácios, depois as" insignes" quintas de Rio de Mouro e Colares. Para fugir duma cidade nauseabunda, nada melhor que o ar lavado, veigas de amena frescura e fertilidade característicos do território a ocidente da capital portuguesa, à sombra encantadora da serra do Monte da Lua ou Sintra. Leia-se com atenção a recomendação da edilidade Lisboeta, e meditemos na desdita para o povo constrangido a viver numa urbe onde varas de porcos "vadiavam" pelas ruas fossando na imundice. Nesta época as capitais europeias, alindavam-se graças a planos de urbanização, concretizados pelos governos respectivos, transformando-se em cidades modernas e salubres. O atraso de Portugal era endémico, as elites dirigentes um espelho da capital do seu império.
O interior do território português é referido de amiúde por causa da sua crescente desertificação humana,e também, porque as aldeias vão definhando. Algumas já não existem, outras estão em risco disso. Contudo, este fenómeno também se verifica no litoral, onde, igualmente, podemos encontrar exemplos de povoações, desaparecidas. Com o decorrer do tempo deram origem a lendas e quimeras.
No concelho de Sintra detectamos uma situação cujo conhecimento poderá interessar a alguns dos que nos visitam. Os factos são: No antigo termo de Sintra, fronteira com o extinto concelho de Belas, existiu um povoado com alguma importância. Acerca dele têm sido publicados vários estudos, atribuindo às ruínas no local, origem remota,com mais insistência,do período da dominação romana. Não contestamos essa possibilidade, porque não somos "especialistas" na matéria. Alertamos para o facto de em Portugal, ser costume afirmar, normalmente, algo antigo é romano ou do tempo dos "mouros".
Estas reflexões ocorrem-nos a propósito de Rocanes, topónimo de singularidade encantadora, hoje transformado numa pedreira e ponto de referência em cartas cartográficas, assinalado entre Massamá Norte e o Casal de Colaride no território Sintrense. Rocanes, em 1610 era uma Aldeia, referida como tal em documentos da época. Os moradores cultivavam as terras desde o cume do monte, encosta abaixo, até a Ribeira do Papel, onde ficava a Azenha de Rocanes funcionando,talvez, no Inverno, quando o caudal de água, era suficiente. No restante tempo do ano, os habitantes utilizavam o moinho de vento do povoado,"o moinho velho de Rocanes".
Rocanes sofreu grande destruição com o terramoto de 1755, além disso por sucessivas aquisições das propriedades circundantes os Rocanenses,tiveram de procurar outras paragens, os novos senhores não permitiriam a sua presença. Rocanes desapareceu, os vestígios que vão surgindo devem representar vários períodos históricos, no entanto, uma coisa é certa: Rocanes, uma aldeia como tantas outras, sofreu as consequências das vicissitudes do tempo, caindo no olvido. Por momentos deixou de ser uma aldeia perdida, devido a este singelo apontamento....
O aboletamento,era uma acção que obrigava a alojar em casas particulares os militares, nas povoações onde não existissem instalações para o efeito, porque Belas fica situada num importante entroncamento de estradas, por onde transitavam amiúde contingentes de soldados, era frequente pernoitarem na Vila pelo que os habitantes eram chamados ao dever de os aboletar, o que causava incómodos de toda a espécie.
Quando foi extinto o concelho de Belas em 1855, a Câmara municipal de Sintra, para desonerar os habitantes daquele encargo, deliberou mandar disponibilizar instalações para o efeito. No entanto por falta de manutenção, em 1880 fazia-se eco;
"a casa que serve de quartel para a tropa que transita por Bellas, se acha em péssimo estado, e que estão também inteiramente arruinados os utensílios e as enxergas que por conta da câmara de Cintra ali foram colocados". As câmaras municipais não tinham obrigação de preparar aquartelamentos para as tropas em transito. Por isso: "Como o quartel que a câmara de Cintra estabeleceu em Bellas não tem as condições necessárias para o aquartelamento da tropa há de esta ser aboletada". Uma medida correcta que talvez por falta de meios acabou ingloriamente. Os recursos financeiros dos municípios foram sempre parcos. O municipalismo português teve sempre muitas competências,e pouco dinheiro para as exercer.Mais uma prova de que os governos do tempo actual não inovaram muito porque seguem os "tiques" do liberalismo do século XIX.
Não sabemos se a Câmara Municipal tomou alguma medida. O quartel estava situado no largo central de Belas onde hoje está o edifício da Junta de Freguesia. Pelo marco quilométrico da foto verificamos que Belas ficava, sensivelmente a idêntica distancia de Lisboa, Mafra, dizemos nós, também de Sintra.
A antiga estrada(EN 250-1) que liga Belas à sede do Concelho de Sintra, foi traçada atravessando a Serra da Carregueira. Um pouco adiante do Quartel do Regimento de Infantaria nº1, passando a curva da Tapada dos Coelhos, rectificada para se abrir a auto-estrada A16, a estrada torna-se estreita, porque surge uma ponte, construída para permitir o atravessamento da regueira da Tala, cuja nascente ocorre no interior da Quinta do Molhapão, percorrendo depois um pequeno curso até desaguar na Ribeira da Jarda, junto à ponte medieval da Rinchoa, nas imediações da estação ferroviária de Mira-Sintra Meleças. Centenas de automobilistas circulam diariamente pelo local desconhecendo o facto de transitarem sobre uma elegante construção, que resultou num belo trabalho de cantaria. O bom estado de conservação, advêm do projecto ter sido bem executado. Foi construída no inicio do século XIX, sobre ela passaram e passam, pessoas e mercadorias, de importância relevante para o desenvolvimento da região. Por ter sido pensada para um determinado tipo de tráfego, só possibilita a passagem de um veículo de cada vez, ainda bem assim o esforço sobre a ponte atenua-se. Nem pensem alargá-la; uma obra de arte como esta deve ser preservada porque faz parte do património sintrense. Deixamos as fotos para ser ver tal como está, assim quando passarmos no local e tiveremos de parar, cumprindo as regras da circulação não encaremos o facto como contratempo, mas sim um contributo para a PONTE DA TALA continuar de boa "saúde" por muitos anos. Vindo do lado de Meleças, fica depois do semáforo existente na via, designada Avenida Dr. António Nabais, fundador dum prestigiado colégio situado nas proximidades.
Aldeia de A-da-Beja, na actualidade integrada no Concelho de Amadora, no distrito de Lisboa pertenceu ao Concelho de Belas até 1855, quando este foi extinto, em resultado da reforma administrativa promulgada por Passos Manuel. Depois dessa data, foi anexada ao concelho de Sintra, do qual foi separada em 1979 ao ser criado o municipio Amadorense. A aldeia está implantada num local, de onde se disfruta amplo panorama, que abarca grande parte da cidade de Lisboa e arredores, incluindo o estuário do rio Tejo,e a Serra da Arrábida na margem sul do mesmo rio.
Os terrenos circundantes eram apropriados para a cultura de cereais. Como consequência da abundancia de água, existiam quintas bastante produtivas de hortaliças e frutos. Lembrando este aspecto, ainda hoje deparamos na rendondeza com nomes realacionados com o precioso líquido: Fonte das Avencas, Fonte Santa entre outros. A aldeia, sendo uma povoação que tinha limites, com a Freguesia de Benfica, termo de Lisboa suscitou durante séculos a cobiça de alguns poderosos, que tentaram, por vezes incluir o sítio na lista dos seus domínios; para vincar a quem devia ser atribuia a posse, o nome do povoado surgiu como afirmação de pertença. Os factos são os seguintes:
A Infanta D. Brites, mãe de D. Manuel I, Duque de Beja deixou algumas das suas propriedades as freiras do Convento de Nossa Senhora da Conceição daquela cidade alentejana, entre elas o rendimento da Igreja Matriz da Vila de Belas, e as terras onde surgiu a Aldeia objecto deste apontamento. Sempre que era referido primeiro o casal e depois a aldeia, era costume dizer: "é das de Beja", significando que pertencia as monjas do citado convento. Com o andar do tempo ficou A-da-beja, que diga-se de passagem deve ser único em Portugal.
Na Freguesia de Belas, concelho de Sintra, existe um sítio onde desde tempos imemoriais e segundo a tradição, se tem procedido a trabalhos de pesquisa e extracção de minerais preciosos. O local denomina-se Monte Suímo, a sua situação é a que consta no mapa que ilustra este texto.
De acordo com uma descrição do seculo XVIII (1741), um pouco da sua história é a seguinte:
"No termo desta vila (Belas), há um monte minado por baixo chamado comummente as Minas do Suímo; é bastantemente cavado; entrando-se nele com luz,com o reflexo dela parece que está a gruta armada, e guarnecida de galões de ouro, que forma uma vista muito agradável". No século XVI as minas eram propriedade da mãe do Rei D. Manuel, a Infanta D.Brites,que as deixou por herança aquele Monarca.
Actualmente o Monte Suímo está integrado no perímetro militar da Serra da Carregueira, deste modo a visita ao sítio não é possível. As lendas que se contam acerca das minas, são suficientes para despertarem o interesse de muita gente, que adoraria poder frequentar o local. Quem sabe se devidamente desentulhado, com acompanhamento de guias qualificados e salvaguardando o carácter castrense do Monte, talvez pudesse surgir ali uma atracção turística, susceptível de gerar receitas que por certo, ajudariam à manutenção dos aquartelamentos e do campo de tiro da Carregueira? Além disso como a altitude desta elevação é de cerca de 290mts, do cume deve avistar-se um magnifico panorama, sobre a Serra de Sintra e o mar.
Na impossibilidade duma observação "in loco", oxalá consiguamos despertar a curiosidade dos leitores.
No final da Monarquia, o Povo em Portugal vivia em em condições de tal modo precárias, que estavamos muito abaixo de qualquer País Europeu da época.
Na revista ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA nº335 de 22 de Julho de 1912, a propósito duma reportagem sobre um episódio conspirativo contra o novo regime implantado em 5 de Outubro de 1910, pode ler-se que "No Casal da Carregueira perto de Belas foram apreendidas armas e alguns conspiradores". A reportagem é ilustrada com diversas fotos uma das quais retrata os caseiros da dita propriedade. É um documento elucidativo do que seria a vida no campo em Portugal. Notemos que estas pessoas viviam as portas de Lisboa. Aqui aplica-se sem contestação o princípio: Uma imagem vale por mil palavras...
Foto de: Empresa Pública do Jornal O Século, Joshua Benoliel, lote 02, cx. 01, negativo 06