Como complemento do que escrevemos sobre a fonte pública da Rinchoa, iremos referir um outro interessante aspecto, relacionado com a mesma:
A água da fonte "não só chegava para a pequena quantidade de moradores" - na época que estamos a reportar-nos a população do lugar não chegava a 80 habitantes" - as sobras iam encher um grande lavadouro público onde as mulheres, lavam a roupa, dando um ar pitoresco a essa parte da Rinchoa". Pelas informações que obtivemos o lavadouro situava-se numa pequena baixa, entre as actuais ruas da Fonte e do Vale, um pouco adiante da imponente sobreira que originou o nosso post de 6 de Novembro de 2007.
No local hoje ocupado com algumas hortas, para rega das quais se aproveita o que resta das águas da fonte, encontramos num dos morros que ladeia a pequena depressão onde existiu o lavadouro: um decrépito castanheiro e um viçoso carvalho negral, que devem ter proporcionado fresca sombra nos dias de calor, que sempre ocorrem neste rincão do concelho de Sintra.
A faina das lavadeiras, constituía um motivo, pelo qual gente de Lisboa e doutros sítios, se deslocava à Rinchoa, para observar o quadro.Como escreveu, o Mestre Leal da Câmara: "não havia amador fotográfico que não registasse no seu KODAK, o gracioso aspecto desse lavadouro".
A urbanização desenfreada dos anos 70 e 80 do século passado,alterou duma forma irreversível a paisagem, essa já não podemos fazer voltar, no entanto a memória e a alma dos sítios ainda a conseguiremos preservar, tornando conhecido o que na voragem dos anos se perdeu.
Quando no apontamento que escrevemos acerca do Rio dos Veados, referimos a azenha da Louceira a propósito dum acidente ocorrido na zona durante o século XVIII, do qual resultou o afogamento do moleiro da "moenda";desta restam umas ruínas na margem esquerda do curso de água, no entanto, das obras hidráulicas realizadas para permitir conduzir o caudal necessário a movimentação das mós ainda é possível observar um açude implantado no leito do rio.
Curiosamente esta construção está situada num local onde confluem os limites dos concelhos de Sintra, Oeiras, e Cascais e também os das freguesias de Rio de Mouro, Porto Salvo e S. Domingos de Rana. A partir daqui o ribeiro passa a denominar-se Ribeira da Lage, tomando o nome do povoado um pouco abaixo na direcção da foz.
Relembremos que se dá o nome de açude "a uma construção de terra, pedra, cimento, etc. destinada a represar águas a fim de que sejam usadas na geração de força, na agricultura ou no abastecimento, pode também, designar-se por represa". O da Louceira é de pedra e está bem preservado, como se observa na foto.
Pela envolvente e localização seria um sítio ideal, para construindo uma ponte pedonal, integrada nos caminhos adjacentes, possibilitar a abertura de um percurso para caminhadas,não só estreitando as relações de vizinhança dos moradores das redondezas, mas também observar o açude. Daqui lançamos um apelo aos Presidentes das Juntas de Freguesia citadas, para que em conjunto estudem a melhor solução para que o AÇUDE DA LOUCEIRA, possa ser visitado, trata-se duma queda de agua que parece impossível,mas existe bem no centro dos três concelhos mais urbanizados de Portugal. Oxalá, um dia seja uma realidade este desejo.
A Ocidente o terriório de Portugal entre outras riquezas, é formado por massas rochosas, das quais sobressai o mármore. Esta rocha ornamental, abundava na zona de Montelavar, onde durante séculos, foram extraídas e trabalhadas muitas toneladas que decoram edifícios como: o Convento de Mafra, as casas do Parlamento Nacional, a Câmara Municipal de Lisboa, pois "os mármores das pedreiras de Montelavar no concelho de (S)Cintra, eram lindíssimos".
Uma actividade,base de importante fonte de rendimento, e origem duma toponímia peculiar. Assim, Montelavar quer dizer local onde existe uma LAVARIA ou LAVRA, para extracção de um mineral ou inerte, neste caso pedra. No concelho de Oeiras ocorre um topónimo "LAVEIRAS", perto de Caxias ,onde existiu uma grande pedreira. É interessante notar junto dos dois sítios o topónimo MURGANHAL,que segundo alguns ,significaria local de murganhos ou ratos do campo, deste modo, murganhal seria sinónimo de "rataria".
Além de ser possível acabar com os roedores, e desse modo,também com o nome, o nosso estudo conduziu a uma interpretação do topónimo mais plausível. Murganho é a designação que se dava aos restos inaproveitados da debulha nas eiras, quer dizer que tudo o que sobra é murganho, e como é sabido no trabalho de aproveitamento da pedra, ficam muitos pedaços que não servem para nada,por isso colocados como entulho nas imediações das instalações onde é trabalhada. MURGANHAL, quer dizer local onde se depositam os restos, e não esquecer que em castelhano "um rato" é um pedaço. Montelavar e Laveiras, sendo terras de pedreiras, deviam ter o seu Murganhal, como de facto têm.Sobre este significado já aqui escrevemos,este apontamento é uma achega mais.
Quem diria que o mármore sintrense, nos levasse aqui. Nada melhor para ilustrar este texto, que recordarmos o ilustre e genial escultor Francisco dos Santos sintrense que trabalhava o marmore com mestria, o seu cinzel transformava um tosco calhau em objecto de encantadora beleza.
Se permitem por hoje já partimos muita rocha, e na ausência de murganhal, onde colocar o murganho da nossa cantaria, temos de ficar por aqui.
A administração local,considerada como um conjunto de entidades cuja função principal é exercer o poder político numa determinada circunscrição administrativa,tem sido descrita em Portugal,desde tempos recuados,numa perspectiva que,porventura ,alimentou no imaginário nacional a ideia de que sendo uma emanação dos usos e direitos consignados nos forais representava a forma de governo mais adequada à resolução dos problemas das populações e ao fomento do desenvovimento das comunidades ,Fernandes(2010,p.17)
Na prática o povo era tido em pouca monta quando se tratava de tomar decisões,algumas das quais ,por certo, nem sonhava.Agora que devido ao programa de resgate da dívida pública, se irá discutir a questão de extinguir, ou não, Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais deixamos,como curiosidade,um exemplo que se passou em 1840.Naquele ano foi apresentado no Parlamento o seguinte:
Requerimento das Câmaras Municipais dos concelhos de CASCAIS e OEIRAS,que pedem a extinção destes concelhos e a sua anexação ao de Lisboa; e dos habitantes da Freguesia de Almargem do Bispo que pretendem ser desanexados do concelho de Sintra,e unidos ao de Lisboa.
O povo teria conhecimento desta iniciativa,que não resultou?.No entanto demonstra, que a elite dirigente considerava que as autarquias referidas não tinham viabilidade como poder autónomo e sim vantagem em juntar-se ao Município da Capital do Reino.Curioso , para meditar nos tempos que aí virão...
O curso de água que nasce na serra de Ouressa nas proximidades de Mem-Martins, e que desagua no Rio Tejo em Santo Amaro de Oeiras, era conhecido, consoante os sítios por donde passa. No seu percurso fazia mover várias Azenhas e uma Fábrica de Estamparia, a qual foi objecto dum estudo de nossa autoria, publicado na revista SINTRIA I-II (1982-1983), a fábrica foi demolida e aquele trabalho é testemunho importante para o conhecimento da "Real Fábrica de Rio de Mouro" fundada em 1790, por Joaquim da Silva.
Voltando à ribeira, esta depois da povoação de Francos onde existia uma Azenha de duas mós, inflecte na direcção de Asfamil, antes de chegar ao sopé desta povoação, era conhecida como RIO DOS VEADOS, pela mesma razão dos "gamolares" da vila de Sintra de que falamos a propósito da origem do topónimo Galamares.
No século XVIII ainda existia o povoado. Devia ser de fundação remota. Fomos em busca de vestígios que porventura tivessem ficado, da aldeia só existe a memória que os habitantes das redondezas conservam.
Em consequência duma grande cheia ocorrida há alguns anos o leito do rio modificou-se na confluência com a Regueira de Asfamil. As "passadouras" de pedra foram destruidas, assim como a inscrição que lembrava um episódio ali ocorrido,por isso deixamos o texto publicado no "Memorial de Oeiras" (1860):
Em os 23 de Novembro de 1793 Assoccedeo por causa da cheia ser grande afogar-se
neste rio Vital Prodêncio.P.N.A.M.
O protagonista deste trágico acontecimento era moleiro da azenha cujas ruínas se encontram um pouco abaixo no lugar da Louceira. Este trecho da ribeira é de grande beleza, sendo um dos mais recôndidos locais do Concelho de Sintra, que aqui faz fronteira com o de Cascais. Custa a acreditar que estamos a 20 km do centro de Lisboa. Sem dúvida que para quem gosta da natureza e dos seus encantos um passeio para admirar o RIO DOS VEADOS, merece uma "caçada".
O nome das localidades é difícil de decifrar, em alguns casos quando não há certezas recorre-se à "lenda" ou à "tradição" para justificar o que é duvidoso. Vejamos um exemplo: Rio DE MOURO no Concelho de Sintra.
Uma das hipóteses inserida no "Memorial Histórico ou Colecção de Memórias Sobre Oeiras", vai no sentido seguinte:"Rio de Oeiras nasce acima do pequeno Lugar de Fanares, aqui lhe chamam rio das enguias, à saída da Quinta do Basto entra em uma ponte de boa cantaria por cima da qual passa a Estrada Real de Sintra. Aqui tem o nome de Rio DO Mouro, que o transmite a este lugar, onde segundo a tradição morreu o Mouro Albaráque Governador do Castelo de Sintra ou Cyntia, fugindo na ocasião da sua conquista por D.Afonso Henriques. Outros dizem que o dito Mouro, fora morto no Lugar que tem o nome de ALBARRAQUE e o enterraram nas margens deste Rio".
Para reforçar a "tradição" o autor alterou: Rio de Mouro para Rio do Mouro. Continuando: "Quase a chegar ao Sítio de Asfamil lhe dão o nome de Rio dos Veados. Passa pelo Lugar da Laje e correndo com nome de Oeiras...ele se mistura no Oceano".
A nossa versão,alicerçada no estudo da região onde corre o curso de água demonstra que aqui, os topónimos Mouro e Mourão coexistem. Mourão deriva de "parede" "muro grande" e também de lajes de pedra que se colocavam verticalmente em redor das eiras para proteger o cereal do vento e dos animais. Essas pedras designam-se Mouros ,sendo utilizadas nas vinhas para suportar as varas da empa das vides.
No caso do nosso Rio, desde tempos recuados os proprietários dos terrenos adjacentes, no troço compreendido entre a quinta da Preza e Francos, desviaram o curso obrigando o rio a correr entre Mouros ou Mourões de lajes e mais tarde entre muros para aproveitarem as terras férteis de aluvião.
Esta obra hidraulica ainda hoje se pode observar:ver imagem. Deste modo, RIO DE MOURO significa: RIO QUE CORRE ENTRE MOUROS ou MUROS ALTOS. A lenda não é mais forte que a evidência,só por falta de estudo se tem mantido.
Neste caso, a lenda, como justificamos, é uma fantasia.