O largo principal aldeia de Albarraque, freguesia de Nossa Senhora de Belém em Rio de Mouro, município de Sintra, ostenta designação de:
Simples recordatória de alguém, na qual não foi colocada qualquer informação acessória, ajudando identificar porquê da homenagem. Infelizmente por detrás da atribuição do nome está motivo trágico e muito triste, no seu tempo comoveu Portugal Inteiro.
No dia 16 de Outubro de 1966, um domingo, realizou-se na Praça do Campo em Lisboa, uma corrida de touros, organizada por iniciativa do grande aficionado, João de Castro, cujo produto revertia a favor do Orfanato Escola Santa Isabel, sediado em Albarraque.
O cartaz da corrida, composto por figuras destacadas do universo tauromático, entre elas novilheiro espanhol, famoso Paco Camino.
Um cavaleiro do cartel, Joaquim José Correia, popularmente conhecido por "QUIMZÉ", natural de Évora, residente na Cova da Piedade, no entanto, vivia também no concelho de Sintra, onde os pais possuíam propriedades, nas quais os seus cavalos eram assistidos, sob orientação de um amigo. conhecida personagem do mundo taurino.
Na corrida "Quimzé" montou o melhor cavalo da sua "quadra" denominado de:Tirol.
Quando lidava um touro "Rio Frio", cavalo resvalou na areia da praça, molhada pela chuva o cavaleiro caiu sob a montada, sendo depois colhido, brutalmente, pelo novilho, ficou inanimado. Conduzido ao Hospital de São José não resistiu às lesões; faleceu cerca das oito horas da noite, no dia que completava vinte e um anos de idade. Foi grande comoção em todo País, o corpo seria velado por milhares de pessoas na Basílica da Estrela em Lisboa.
A Câmara Municipal de Sintra, acolhendo proposta da Junta de freguesia de Rio de Mouro,na época presidida por Henrique José Barata, deliberou atribuir nome do desditoso cavaleiro ao largo "grande" de Albarraque; artéria próxima do Orfanato Escola Santa Isabel
Na singeleza da placa toponímica, não se vislumbra a tragédia que serviu de pretexto à sua colocação, fica aqui a sua "explicação".
Referi neste "sitio" a tradição de artesania do ouro e da prata ,referenciada no século XVIII,no Município de Sintra, nomeadamente em Sacotes e Rio de Mouro.
Relendo ,Pinho Leal o seu "Portugal Antigo e Moderno" ; reparei novamente no que escreveu acerca da igreja matriz de Nossa Senhora de Belém, passo a citar "Nesta igreja matriz há uma custódia de prata dourada, que em 1877 foi vendida por engano (!), ao sr. visconde de Monserrate, porém , a força de reclamações tornou a vir de Inglaterra , para onde tinha ido.Esta custódia é um primor da arte de ourivesaria, e obra de grande merecimento ".
Sabemos a Paróquia de Rio de Mouro,era circunscrição eclesiástica de fracos proventos, por isso seria difícil,mandar executar custódia de custo elevado,como parece ser o caso.Talvez tenha sido oferecida a Igreja por ourives oriundo de Rio de Mouro.!?
Em 1721,exercia profissão,de ourives na cidade de Évora,José da Silva , natural do lugar de Francos; segundo apurei detentor de apreciável fortuna,aliás, deu a dois sobrinhos igualmente, naturais de Rio de Mouro, dote necessário a obtenção de ordens sacras, na Arquidiocese Eborense.Terá sido quem executou e ofereceu a sagrada alfaia a igreja matriz onde havia sido baptizado?
Ilustro texto com uma página do processo de um dos candidatos ao sacerdócio, atrás referido.
Em anterior apontamento escrevi acerca da aldeia de Sacotes,no município de Sintra,chamei atenção para importância daquela localidade no comercio e manufactura do ouro.
No prosseguimento de investigações sobre aquela temática, estou de posse de elementos fidedignos para afirmar que pela proximidade e continuo territorial na freguesia de Rio de Mouro, também existiu no século XVIII,núcleo de artesãos que trabalhavam ouro e a prata; naquele tempo considerava-se ourives todo aquele trabalhava ouro e prata.Assim , denominado do ouro ou da prata conforme, matéria prima utilizada.
Natural do lugar de Francos encontrei individuo, chamado José da Silva, mestre renomado , ourives do ouro na cidade de Évora onde possuía estatuto de homem de fortuna, rendimento profissional deveria ser significativo.
Em Meleças possuíam quintas vários ourives estabelecidos na Rua dos Ourives do Ouro. situada na freguesia de São Julião em Lisboa.A profissão de ourives era respeitada e sigilosa.
No assento de óbito que publico,é interessante constatar estatuto social de pessoas ligadas a "arte".A viúva de um ourives ausente no Brasil, morreu na casa de uma sobrinha naquela localidade, sepultada na igreja de Rio de Mouro, sendo o corpo conduzido " de caixão a cova " revelador de meios de fortuna, no entanto , não fez testamento , porque , como é escrito não possuía bens para deixar, as despesas do funeral, suportadas pela sobrinha.
Não teria bens ao luar, e sim dinheiro; já nesta data, havia preocupação de "fugir" ao fisco, dinheiro tal qual hoje , quase não é taxado, contrariamente a heranças de propriedades.
Outra particularidade a juntar a história do termo de Sintra, Rio de Mouro, terra de ourives do ouro.