Sou daqueles gosta de viver no concelho de Sintra,e concretamente na Rinchoa, freguesia de Rio de Mouro. onde moro preste a cumprir-se meio século. Vim para aqui por livre, expontanea vontade,posso afirmar uma boa decisão.
No entanto, em determinada ocasião do tempo histórico, centenas de habitantes de outra freguesia do Município Sintrense, tiveram de mover céu e terra, para pertencerem a freguesia de Nossa Senhora Belém de Rio de Mouro.
Presto homenagem a esses nossos avoengos, moradores na zona onde se situa bairro da Tabaqueira , Casal do Marmelo,restante território além do cruzamento da estrada Abrunheira, Tires, por haverem juntado a nós, assim dilatando, perímetro da freguesia. Bem hajam
A realidade é muito diferente da lenda. Assim acerca de sítios e regiões surgem ideias que um estudo objectivo e isento acaba por contestar com fundamento. A nossa terra, o concelho de Sintra é referido, no presente com justiça, como sendo,um território de clima ameno e de salubridade exemplar. No entanto ainda há pouco mais de um século, a situação em grande parte do mesmo devido ao deficiente abastecimento de água, era calamitosa. Quanto à rede de esgotos só no século presente, todos aglomerados ficaram servidos e acabaram as denominadas "fossas" que os serviços de saneamento regularmente, esvaziavam utilizando veículos apetrechados com sistemas de bombagem. O tifo foi muito frequente, e as pessoas de mais idade recordam-se de vários surtos, resultantes de condições de vida primitivas e do desleixo das autoridades municipais, que nem as posturas que aprovavam faziam cumprir.
Segundo documento a que tivemos acesso o quadro seria negro,senão vejamos:
Constando do relatório do sub-delegado de saude, mandado a Collares para investigar das causas da gravidade e da molestia epidemica que n´aquelas immediações grassava, e se a sua origem e effeitos se podem atribuir, em grande parte, à falta de policia que se nota nas povoações invadidas, e especialmente ao uso da agua inquinada de detritos animaes, pois que na AZOIA o povo usa das aguas de uma ribeira, que passa no meio da povoação,carregada de immundicias;no ALGUEIRÃO a fonte pública fica inferior a estrumeiras que inquinam a agua a ponto de no verão se lhe nota a côr,cheiro e gosto do estrume;na ABRUNHEIRA fica igualmente a fonte inferior ao tanque das lavadeiras,o que dá azo a que durante o estio a agua se corrompa.
Constando mais que nas povoações acima indicadas há nos pateos das casas grandes estrumeiras, e nas ruas dellas charcos e pantanos, e que estas causas reunidas concorreram para o desenvovimento das febres typhoides que ultimamente ali appareceram. E sendo indispensavel tomar as providencias precisas para que essas causas de insalubridade desappareçam, a fim de que não venha a renovar-se com maior com maior intensidade a molestia extinta: Manda sua Magestade EL-REI que o governador civil de Lisboa dê as ordens convenientes à camara municipal de Cintra, para que, com brevidade possivel, cuide de fazer construir chafarizes ou fontes nas povoações da Azóia,Abrunheira e Algueirão,por forma que as aguas de que ali se houver de fazer uso sejam puras e limpas, e não inquinadas de detrictos animaes. Que igualmente recommende á camara e ao administrador do concelho que dêem prompta execução ás posturas do concelho que vedam as estumeiras dentro dos povoados.
A situação descrita verificou-se em 1864, o abastecimento de água e a salubridade das povoações eram precários. Os chafarizes que se recomendava deviam ser construídos, seriam talvez, idênticos ao que ainda existe no Largo de D. Maria II, no Cacém, reproduzido na foto, inaugurado no ano de 1849. Por aqui se pode fazer uma ideia do que seriam as condições em que vivia a população no século de oitocentos. Quando nos referimos ao século XIX português, não podemos deixar de notar que relativamente à Europa da época o nosso atraso era abissal. Sintra ficava ás portas da capital, no resto do País seria muito pior, lembremos que a esperança média de vida era de cerca de 40 anos. Um dos factores que contribuiu para que aumentasse para o dobro este indicador, foi o de que hoje em Portugal, a totalidade da população dispõe de agua canalizada e esgotos no domicilio. No entanto, convém não esquecer de que politicas restritivas de cortes nas verbas que devem ser aplicadas na manutenção do que está feito, poderão em pouco tempo, provocar de novo situações que levaram séculos a erradicar. A isso chama-se retrocesso civilizacional, e não se pense que é alarmismo.