Na falésia grandiosa da costa litoral sintrense, no tramo entre Cabo da Roca e a estrema com vizinho concelho de Cascais, ficava um forte militar integrado no sistema defensivo da barra do Rio Tejo.
Dissemos ficava porque no sitio da Direcção Geral do Património lemos : " Na actualidadeapenas se conservam alguns troços e parte da abóbada, e do paiol elementos por demais escassos de uma tão importante fortificação da nossa costa a ocidente de Lisboa ".
O que resta da antiga construção foi declarado imóvel de interesse publico, por decreto-lei nº 28/82 D.R. 1ª serie nº47 Este documento altera anterior designação de " Fonte da Roca " como erradamente se chamava, para " Forte da Roca ", fixando definitivamente o nome actual.
A edificação inicial é do seculo dezassete. Numa ocasião calcorreei caminho com intenção de visitar o sitio, segui vereda a partir da aldeia da Azóia ; ia só estava muito vento retrocedi; talvez ainda lá irei um dia ; quem Sabe ?
Num antigo mapa deparei com indicação do forte.
Planta original do forte guardada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Durante séculos o abastecimento de águas as populações rurais de Portugal, foi deficiente , sendo por isso frequentes epidemias de febre tifóide.
O concelho de Sintra , malgrado ser próximo da capital, apresentava o mesmo nível de carências. Em 1865, grassou grave epidemia. cujas causas foram atribuídas a insalubridade de águas para beber; procedeu-se a inquérito do qual resultou informação interessante : " Na Azoia, a caminho do Cabo da Roca,o povo usa as águas de uma ribeira, que passa no meio da povoação, carregada de imundices; no Algueirão a fonte pública fica inferior a estrumeiras que inquinam a água ao ponto de que no Verão se lhe nota a cor, cheiro e gosto de estrume; na Abrunheira fica igualmente a fonte inferior ao tanque das lavadeiras o que dá azo a que durante o estio se corrompa "
" Nas povoações acima indicadas há nos pateos das casa grandes estrumeiras, e nas ruas delas charcos e pântanos , e que estas causas reunidas concorrem para o desenvolvimento das febres tifóide que ultimamente ali apareceram."
Foi ordenado a Câmara municipal de Sintra para fazer construir chafarizes ou fontes nestas e noutras povoações .E se proibissem estrumeiras dentro dos povoados.
Foram construidas algumas fontes, diversas de " chafurdo " ,e a problemáticas das febres tifóde recorrentes, manteve-se até não há muito tempo, sobretudo em pequenas aldeias do campo " saloio".
Em várias procedeu-se a abertura de poços de onde a água era extraída através de bombas manuais, de restam exemplares como o da foto, e que coroa poço já seco.
A questão do abastecimento de água de qualidade a todo o Município de Sintra e concelhos circunvizinhos só ficou resolvida com as alterações sociais e políticas da Revolução de 25 Abril 1974.
A realidade é muito diferente da lenda. Assim acerca de sítios e regiões surgem ideias que um estudo objectivo e isento acaba por contestar com fundamento. A nossa terra, o concelho de Sintra é referido, no presente com justiça, como sendo,um território de clima ameno e de salubridade exemplar. No entanto ainda há pouco mais de um século, a situação em grande parte do mesmo devido ao deficiente abastecimento de água, era calamitosa. Quanto à rede de esgotos só no século presente, todos aglomerados ficaram servidos e acabaram as denominadas "fossas" que os serviços de saneamento regularmente, esvaziavam utilizando veículos apetrechados com sistemas de bombagem. O tifo foi muito frequente, e as pessoas de mais idade recordam-se de vários surtos, resultantes de condições de vida primitivas e do desleixo das autoridades municipais, que nem as posturas que aprovavam faziam cumprir.
Segundo documento a que tivemos acesso o quadro seria negro,senão vejamos:
Constando do relatório do sub-delegado de saude, mandado a Collares para investigar das causas da gravidade e da molestia epidemica que n´aquelas immediações grassava, e se a sua origem e effeitos se podem atribuir, em grande parte, à falta de policia que se nota nas povoações invadidas, e especialmente ao uso da agua inquinada de detritos animaes, pois que na AZOIA o povo usa das aguas de uma ribeira, que passa no meio da povoação,carregada de immundicias;no ALGUEIRÃO a fonte pública fica inferior a estrumeiras que inquinam a agua a ponto de no verão se lhe nota a côr,cheiro e gosto do estrume;na ABRUNHEIRA fica igualmente a fonte inferior ao tanque das lavadeiras,o que dá azo a que durante o estio a agua se corrompa.
Constando mais que nas povoações acima indicadas há nos pateos das casas grandes estrumeiras, e nas ruas dellas charcos e pantanos, e que estas causas reunidas concorreram para o desenvovimento das febres typhoides que ultimamente ali appareceram. E sendo indispensavel tomar as providencias precisas para que essas causas de insalubridade desappareçam, a fim de que não venha a renovar-se com maior com maior intensidade a molestia extinta: Manda sua Magestade EL-REI que o governador civil de Lisboa dê as ordens convenientes à camara municipal de Cintra, para que, com brevidade possivel, cuide de fazer construir chafarizes ou fontes nas povoações da Azóia,Abrunheira e Algueirão,por forma que as aguas de que ali se houver de fazer uso sejam puras e limpas, e não inquinadas de detrictos animaes. Que igualmente recommende á camara e ao administrador do concelho que dêem prompta execução ás posturas do concelho que vedam as estumeiras dentro dos povoados.
A situação descrita verificou-se em 1864, o abastecimento de água e a salubridade das povoações eram precários. Os chafarizes que se recomendava deviam ser construídos, seriam talvez, idênticos ao que ainda existe no Largo de D. Maria II, no Cacém, reproduzido na foto, inaugurado no ano de 1849. Por aqui se pode fazer uma ideia do que seriam as condições em que vivia a população no século de oitocentos. Quando nos referimos ao século XIX português, não podemos deixar de notar que relativamente à Europa da época o nosso atraso era abissal. Sintra ficava ás portas da capital, no resto do País seria muito pior, lembremos que a esperança média de vida era de cerca de 40 anos. Um dos factores que contribuiu para que aumentasse para o dobro este indicador, foi o de que hoje em Portugal, a totalidade da população dispõe de agua canalizada e esgotos no domicilio. No entanto, convém não esquecer de que politicas restritivas de cortes nas verbas que devem ser aplicadas na manutenção do que está feito, poderão em pouco tempo, provocar de novo situações que levaram séculos a erradicar. A isso chama-se retrocesso civilizacional, e não se pense que é alarmismo.