Maio de 1941, Primavera soalheira, segundo boletim meteorológico. um pouco ventosa como é habitual, nessa estação na planície da charneca saloia, entre Massamá e Ranholas
Por volta das 9 horas da manhã,vindos da banda de Queluz, voando a baixa altitude, surgiu um grupo de três aeronaves,sediadas na Base Aérea da Granja do Marquês,efectuando exercícios de treino de pilotagem. Os aviões seguiam em formação muito próximos uns dos outros.
De repente, quando sobrevoavam, a Quinta do Ulmeiro, sensivelmente, onde hoje está a escola Secundária Gama Barros,um dos aeroplanos, tocou na asa de outro, e num ápice, despenhou-se no solo da quinta, indo chocar contra grosso tronco de uma das árvores da propriedade,
Do pessoal na ocasião , trabalhava na quinta, ninguém foi atingido pelos destroços do avião que se incendiou e desfez,tendo o piloto tido morte imediata.
O estrondo provocado pelo embate no solo, ouvido a grande distancia, originou susto e alarme entre a população.
Os dois aviões restantes conseguiram aterrar sem problemas na pista da Granja, o comandante da esquadrilha, deu alarme tendo seguido para o local do despenhamento, ambulância de socorro, que transportaria para Hospital Militar em Lisboa, o cadáver do malogrado piloto,
O assunto seria motivo para conversas, durante algum tempo. Os habitantes da Freguesia, de Rio de Mouro, nomeadamente os dos lugares do Cacém e Paiões, não ganharam para o susto, não devemos esquecer que estávamos em plena Guerra Mundial
No livro de leituras da primeira classe do ensino primário, do período do Estado Novo durante décadas 1950 e 1960 ,na pagina 88 havia lição intitulada, "O DIA DO SENHOR" no texto faziam elegia do valor simbólico do sino, e sua relação com pratica religiosa, referindo: "Obedientes a voz do sino, homens ,mulheres e crianças, acodem ao templo, para assistirem a missa "
Algumas vezes veio a memória este texto, quando visito capela, de São Marcos, situada no coração da antiga aldeia, durante séculos, pertenceu, a Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro, antes de passar a de Agualva-Cacém, no inicio dos anos 50 do século passado.
A capela tem singelo campanário, de rústica beleza,felizmente ainda é possível, aqui, manter o sino colocado no seu poiso, contrariamente a muitas aldeias, despovoadas do interior do País, onde com receio dos roubos os sinos foram retirados dos campanários.
No Portugal cavernícola do Salazarismo, tudo andava a toque de sino, fosse a rebate, para assinalar perigo,as trindades, e missa para rezar, a dobrar a finados anunciando a morte de alguém,ou repicar demonstrando contentamento quando se tratava de casamentos ou baptizados.
Gosto de vez enquanto visitar aldeia de São Marcos,admirando o sino da capela, relembrar a posição do badalo ,evoca tudo que está suspenso, entre a terra e o céu, e por isso som da campânula estabelece comunicação entre os dois.
A semelhança de Fernando Pessoa, que considerava o sino da igreja dos Mártires no Chiado, em Lisboa, sino da sua aldeia; por mim adoptei com a mesma intenção simbólica o sino da velha urbe de São Marcos, no concelho de Sintra.
Ouvimos amiude comentadores sanitários enxameiam órgãos de comunicação social,designadamente a televisão quando opinam acerca da actual crise sanitária "estamos perante uma situação totalmente nova, não havia conhecimento como actuar. para debelar contágios ".
Sem qualquer comentário,lembro recomendações do médico Hermano Neves, natural de Alvares, concelho de Góis, distrito de Coimbra,no entanto sendo filho dos professores do ensino básico Joaquim Neves, ( mestre Neves ). e Maria Emília Neves e Silva, exerciam o magistério no concelho de Sintra , residindo numa vivenda no Cacém, por isso, Hermano cresceu em Sintra, até idade adulta.
Frequentou o curso de Medicina , na Universidade de Berlim, onde se deslocou indo de Lisboa a capital Alemã pilotando uma bicicleta, feito notável para aquele tempo, inicio do seculo XX.
Faleceu com pouco mais de quarenta anos,está sepultado no Cemitério de São Marçal em jazigo de família.Um dos seus filhos Mario Neves,distinto jornalista, primeiro embaixador de Portugal na ex União Soviética, depois de Abril 1974.A exemplo do pai democrata republicano opositor do regime ditatorial do Estado Novo.
Perante a gravidade do surto da gripe pneumónica, Hermano Neves, sugeria no jornal a Capital de que era director,conduta social para travar propagação.
A gripe deve tratar-se desde que aparece , antes com exagero de precauções do que deficiência de cuidados.
Já vimos muitas pessoas de ter passado a gripe de pé. É uma atitude que se em regra revela mais ignorância do que coragem.
Aos primeiros sintomas de influenza, metam-se na cama. resguardem-se e chamem o médico.Nunca se perca de vista uma noção fundamental a convalescença da gripe é sempre longa, e as recaídas terríveis.
Não se visitem doentes, que devem ser o mais possível isolados, porque se esse acto. aliás piedoso, não for prejudicial ao visitante, pode ser fatal a terceiras pessoas com quem depois entre em contacto .
Os meios terapêuticos, para debelar a doença eram muito menos eficazes dos de agora, a metodologia de travar contágio mantém-se útil e eficaz.
Medidas tomadas em 1918,na primeira vaga, depois em 1919, na segunda, podem ser consultadas está tudo publicado.
Parece neste como em outras ocasiões aquilo continua ser evidente, é falta de conhecimento do passado.
No malfadado tempo de pandemia, confinamento e chatice, manuseando alguns dos amarelecidos papeis do arquivo pessoal, encontrei informação reputo com interesse, decidi, por isso, publicar.
Curiosamente , querido amigo, sintrense de longa data, ligou a TV num canal de noticias, onde estava no ar reportagem, de incêndio florestal , nas serranias da minha Pampilhosa natal, e resolveu telefonar- me,
Fiquei contente, há muito,não falava com estimado e querido companheiro de momentos marcantes da vida.
Resido no Município de Sintra desde 1973,sou sintrense de adopção e coração.
As salas de cinema preenchem o cartaz , já todas desapareceram, no entanto , em todas elas, assisti a cinema. Recordar é viver, quem visite este sitio, talvez sinta nostalgia reconfortadora; e, concordando comigo, possa dizer : apesar de tudo ainda estamos cá, para lembrar.
Na anarquia "produtiva" do meu arquivo encontrei, inserida no Jornal de Sintra nº891 datado de 18 Fevereiro 1951 curioso apontamento:
Nesta data a localidade do Cacém, fazia parte da freguesia de Rio de Mouro e a de Agualva, da freguesia de Belas.
A freguesia de Agualva-Cacém seria instituída pelo decreto - Lei nº 39210 de 15 Maio 1953. A análise da estatística é interessante porque permite aquilatar as mudanças verificadas na actividade da prestimosa instituição, ao longo de setenta anos,
Já demonstrei a origem sintrense do petisco culinário "prego".
Esta particularidade permite desde há um século que o Município de Sintra, possa ser considerado território onde os pregos e bitoques são servidos e confeccionados com esmero inquestionável.
Desde o "primeiro" Arco-Íris em Rio de Mouro, foram surgindo disseminados por toda a geografia de Sintra, estabelecimentos onde a degustação dos pregos e bitoques é igualmente possível, com a mesma qualidade e proveito.
O "Rui dos Pregos" estabelecido em Rio de Mouro, no Cacém, em Odrinhas e até nas docas de Lisboa, é conjunto de "balcões" onde saborear o sintrense petisco é regalo para a vista e para o paladar.
Sou assíduo cliente no "Rui dos Pregos" do Cacém, aliás mais próximo de Rio de Mouro que do centro da vizinha freguesia. O serviço é sempre impecável, os empregados atenciosos e cordiais, permitem que semanalmente cumpra o ritual de saborear "pregos" qual "faquir".
A freguesia de Rio de Mouro, Sintra,devido desenvolvimento industrial que patenteava e também a riqueza agrícola e "ganadeira",nas décadas finais de 1800.possuía diversas escolas para ensino primário, duas promovidas pelas igrejas católica Romana, e Igreja Lusitana.
O Cacem pertenceu até década de 50 do século XX, á paroquia de Rio de Mouro.Na localidade existiu escola mista de ensino primário,onde se realizaram exames publico em Outubro, 1874, na presença do Administrador do Concelho de Sintra, Delegado do Procurador Régio, na Comarca, regedor da Paróquia; e reverendo Padre da Freguesia Miguel António de Barros Saraiva.
Os exames incidiam nas seguintes matérias: leitura Bíblica,rudimentos exemplificados de gramática,história, corografia,aritmética, e doutrina cristã. Os resultados, agradaram bastante, e sobremaneira ao júri presidido ,pelos professores Dona Ludovina Martins,Eloy José de Carvalho, este ultimo professor público em Odivelas.Além das matérias alunas apresentaram bordados, em ponto "crivo" causaram boa impressão. sobressaindo véu de mais de um metro ,bordado com uma imagem da Virgem Os examinados foram todos aprovados.
Onde ficaria Colegio do Menino Jesus, escola mista do ensino primário do Cacém na Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro.?Gostava saber, talvez consiga...
Demonstramos a inequívoca "naturalidade" sintrense do petisco "prego". Felizmente a par da preocupação com origem e qualidade da carne, existe aqui na "zona demarcada do prego e do bitoque", situada no território concelhio de Sintra, freguesias de Cacém e Rio de Mouro, preocupação em inovar a confecção sem esquecer sabor e apresentação do mesmo.
Na estrada Marquês de Pombal, artéria onde podemos encontrar numero significativo de locais para "degustação" do prego, nessa rua junto ao centro comercial de Fitares: o restaurante "O Marquês".
Tive grata e agradabilíssima surpresa de "manjar" prego variante "no prato", servido além das "fritas", acompanhado, também de molho com diversas "texturas": molho verde, de cogumelos, à café e mais outros dois cuja composição não recordo.
Justiça se faça, Mónica dona da comensal paragem, teve feliz ideia, não "abastarda" o sabor delicioso da carne, e dá toque de modernidade ao "centenário" invento .
Experiência a realizar, os molhos são de "molhar" e chorar por mais.
Quando falamos em produção de vinhos no concelho de Sintra, o mais populoso da área metropolitana logo a seguir a Lisboa, vem a memória a região demarcada de Colares, todavia a importância vinícola, não se restringia ao rincão colarejo.
Antigamente o território sintrense produzia quantidade importante de vinho, destinado abastecimento da capital do País e também exportação. A qualidade do mosto digna de nota, permitiu existência de numero significativo de produtores. Uma zona rica em vinho, freguesia de Rio de Mouro, incluía terrenos actualmente integrados nas freguesias de Agualva-Cacém e Algueirão Mem-Martins.
Historiadores como Pinho Leal e Esteves Pereira, reportam essa característica. O ilustre republicano Ribeiro de Carvalho, na quinta do Zambujal situada no Cacém, produzia vinhos em qualidade e quantidade. Na quinta de São Pedro, onde está o hipermercado Continente, Cemitério paroquial de Rio de Mouro na encosta do eucaliptal do Monte da Parada, estavam plantadas videiras da casta sanguinhal. A vinha manter-se-ia até a década 50 do século XX, quando a pressão urbanística começou a "arrasar" tudo.
Sendo verdade, parece lendário. Numa antiga casa quinta em Rio de Mouro Velho, tive ensejo de constatar a justeza da história: lagar de pedra, pipas de grande capacidade, utensílios para engarrafamento, diversos apetrechos relacionados com a faina vitivinícola guardados em espaçosa construção propositadamente erigida para adega, atestam a antiga actividade "báquica". Nas freguesias urbanas do concelho de Sintra o terreno foi chão que já deu uvas.