A notícia correu célere, o nosso amigo e grande Pampilhosense José Augusto Veiga Nunes de Almeida presidente da Câmara de Pampilhosa da Serra durante, vários mandatos faleceu. Apesar das nossas diferenças de opinião,tive com ele as mais cordiais relações. Sem qualquer tipo de dúvida a sua actividade como Autarca e dirigente do corpo de bombeiros, foi de tal modo notável, que iniciou o processo de modernização que o concelho da Pampilhosa da Serra, hoje apresenta. Teve dedicados continuadores, no entanto quem lançou as sementes e desbravou o caminho isso foi ELE.
Não posso deixar de referir o apoio e interesse com que acompanhava as minhas pesquisas sobre a História da Pampilhosa, jamais esquecerei a palestra que proferi em 1989, no salão nobre da Câmara Municipal que disponibilizou para o efeito com todo o entusiasmo e guardo como grata recordação a sua presença como um dos assistentes.
Partiu ainda novo, infelizmente para os que são mais queridos, e para mim que jamais ouvirei a sua pergunta cada vez que nos encontravamos na Pampilhosa: "Então Júlio como anda a tua mãe?", a qual dedicava especial carinho.
Não poderei acompanhar, o teu percurso final até a última morada no cemitério da Terra que tanto amavas, por isso resolvi escrever estas linhas. Zé Augusto Adeus. Na galeria dos mais ilustres naturais da Pampilhosa da Serra é teu por direito e merecimento um lugar de relevo.
Os acontecimentos de 1 de Fevereiro de 1908, que determinaram o assassínio de D. Carlos I e do Príncipe herdeiro Luís Filipe, provocaram grande impacto em todo o País.
A Câmara Municipal de Sintra, a exemplo de outras, reuniu extraordinariamente para marcar posição perante o sucedido.
Sendo Sintra uma Vila frequentada pela "Família Real", é interessante divulgar o que a Câmara Sintrense deliberou.
A acta da reunião extraordinária do Município realizada em 10 de Fevereiro de 1908 reza o seguinte:
"Nesta Vila de Sintra, Paços do Concelho e Sala das sessões da Câmara Municipal, reuniu em sessão extraordinária, a Comissão Administrativa do Município, sob a Presidência do Senhor Visconde de Tojal, achando-se presente os Vogais Senhores Francisco Gonçalves da Silva, Alfredo Cambournac , Henrique dos Santos e José Maximino C. Barros, estando também presente o Senhor Administrador do Concelho Visconde da Idanha. Aberta a sessão, era meio dia. O Senhor Presidente declarou que convocava esta sessão extraordinária, para hoje, por ser o primeiro dia útil depois dos tristíssimos acontecimentos do dia um do corrente em Lisboa, para dar conhecimento à Comissão de que, logo no dia dois ao ser conhecido aqui o nefasto atentado, que vitimou Sua Majestade El-Rei D. Carlos, Sua Alteza o Príncipe Real D. Luís Filipe, dirigira telegramas a toda a "Família Real" em nome do Município, manifestando o seu sentimento pela perda que enlutara o País, telegrama de que já recebeu os agradecimentos, que apresenta à Comissão, e de que esta tomou conhecimento.
Que não obstante estar cumprido esse dever, e de ter já ido pessoalmente ao Paço, acompanhado duma numerosa comissão de proprietários e comerciantes de Sintra, e, inscrevendo-se no registo das condolências, propunha que na acta desta sessão se consignasse...
O profundo sentimento do Município, pelo infausto acontecimento, e o seu protesto contra o infame atentado que roubou as vidas preciosas de D' El-Rei e do Príncipe Real, que fazendo esta proposta, estava convencido de interpretar o sentir geral de todos os Munícipes , tanto mais que o Concelho de Sintra, deve à Família Real", especial predilecção, demonstrada, pela honra da sua permanência aqui, todos os anos, por larga temporada, o que tanto têm concorrido para o desenvolvimento do seu comércio e da sua riqueza, predilecção e dedicação de que ainda há muito pouco tempo foi dada eloquente prova, por Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia, dignando-se aceitar a presidência da "Liga Promotora dos melhoramentos de Sintra", que tanto deve concorrer para o engrandecimento do Concelho. Que por todos estes factos, e, por outros que se abstêm de relatar, e são do conhecimento da Comissão, propunha que do voto de sentimento aqui consignado, se desse conhecimento à Família Real", e que na igreja paroquial de S. Martinho, se celebrasse no dia 21 do corrente, vigésimo dia depois do atentado uma missa de requium " sufragando as almas de Sua Majestade e Alteza Real, convidando-se oficialmente todo o funcionalismo público do Concelho a assistir a esse acto de cuja celebração se dará publicidade para que todos a ele possam assistir. O que tudo foi aprovado, por unanimidade, deliberando mais a Comissão que todas as despesas com essa cerimónia religiosa, fossem particular e individualmente pagas pelos respectivos vogais.
Tendo-se associado a todas estas manifestações o Senhor Administrador do Concelho. Foi seguidamente encerrada a sessão".
A acta:
Nem todos os presentes assinaram a acta. Ninguém usou da palavra, além do Visconde do Tojal.
O facto das despesas da missa terem sido assumidas pelos membros do executivo, demonstra o receio de reacções dos Munícipes . Esta acta revela, que em Sintra a influência do ideal Republicano era notório , e, que os monárquicos já não assumiam com convicção a defesa do Regime. Para além da morte lamentável de dois seres humanos o que morreu em 1 de Fevereiro de 1908, foi a monarquia, apesar de formalmente só o ter sido em 5 de Outubro de 1910.