As árvores por mais simples e solitárias que algumas vezes aparentam,são resultado de gestos e decisões quiçá curiosas que nem fazemos ideia.
Vem a propósito um viçoso e robusto pinheiro manso, que cresceu num exiguio canteiro, na entrada de estabelecimento comercial,aqui na Rinchoa, concelho de Sintra, onde sou antigo morador.
Na Calçada da Rinchoa,a meio da subida para quem vem da estação dos comboios, existiu supermercado,muito frequentado pelas gentes do burgo, denominado "Polisuper". Agora ainda funciona superfície comercial com outro nome. Por volta de inicio da década 1980, alturas do Natal, no "Polisuper",vendiam tradicionais,pinheiros para quadra. Belo dia,o fornecedor dos " pinus", ofereceu as meninas do super, pequenino pinheiro manso ,com raiz,pronto a ser plantado em terra,que aquelas colocaram no canteiro referido.
Árvore, forte resistiu, sendo actualmente belo exemplar, que adorna não só a entrada,mas também a própria rua.
Agora os pinheiros de Natal são de outra espécie, maioritariamente artificiais, que está mais consentâneo com preocupações de preservação das espécies florestais.
O pinheiro do Polisuper, é memória de tempo já distante; oxalá continue a ser por muitos mais anos.Fica a "estampa".
Sacotes aldeia da Freguesia de Algueirão Mem-Martins no município de Sintra tem fascínio especial, não só pela situação geográfica, alcandroada num penhasco onde nasce um perene curso de agua e brotam nascentes, sortidoras da fonte, construída no sopé do lugar mas também vestígios de antigas construções de cunho rústico, além dos arredores onde se econtravam: moínhos, pastagens, "cavaleiras", matas e outros meios necessários ao quotidiano dos habitantes e mantê-los afastados do contacto com outras povoações, protegidos do olhar indiscreto de visitas indesejadas, seria sítio onde se desenvolvia sigilosa actividade. Estas particularidades contribuíram para que Sacotes tivesse durante séculos a fisionomia dum lugar fechado.
Caminhando pelas artérias do burgo, suscitou atenção a designação que ostentam. Fomos carreando elementos úteis à compreensão do significado do topónimo. O prefixo SAC, entra na formação de inúmeras palavras como: saco, sacar, sacrotear, sacrário, etc. Sacar significa: extrair, tirar, furtar. Seguindo esta pista alertados pela existencia duma rua dos ourives baseados nas nossas investigações apuramos, até pelo menos ao século XVIII habitaram na aldeia mestres que ensinavam as artes de canteiro e ourives (do ouro), para se distinguirem dos que trabalhavam a prata. Diversos aprendizes,participaram na obra do convento de Mafra. Donde provinha o ouro? Persistente e pacientemente fomos "lendo" a paisagem circundante; encontramos um topónimo "GORGULHAS", cujo significado pode ser: "conjunto de fragmentos de rocha, entre os quais se encontra o ouro". Os indivíduos garimpeiros do ouro os "sacotes" faziam desmonte das rochas para extrair ou sacar o precioso metal, trabalho esforçado pouco apetecível,quem sabe com recurso a mão de obra escrava!? O negócio do ouro exigia comunicação fácil com os compradores sem suscitar atenções. Na aldeia existiiu um pombal destinado a esse efeito. Daquela azáfama restam rua e largo dos ourives e peculiar atmosfera enigmática transmintindo sensação de lonjura que envolve o povoado, reminiscências das antiquissimas actividades da extracção e metalurgia do ouro, esgotado o filão, continuou a artesania do precioso metal, durante séculos fonte de rendimento de algumas famílias moradoras.