Leal da Camara, como já escrevi e demonstrei seria membro da carbonária, a exemplo do seu grande amigo, Aquilino Ribeiro.
A urbanização idealizada para a Rinchoa, foi concretização de "fantasia" baseada nos ideais da carbonária. Mestre Leal da Camara deixou "encriptada" a intenção, convencido se alguém afecto a ditadura Estado Novista, pudesse imaginar tal coisa, teria problemas.
O ideário carbonário, postula sendo denominada "maçonaria florestal", os seus membros deveriam conhecer pelo menos três espécies de árvores e respectiva madeira , a saber :
Acácia espinhosa de cujos ramos havia sido feita coroa de espinhos, colocada sobre a cabeça de Jesus, quando expirou na Cruz. O ulmeiro de cuja madeira teria sido feito o ataúde de Jesus Cristo, finalmente, a figueira onde Judas o traidor segundo as escrituras, arrependido se enforcou.
Para não dar " pistas " Leal da Camara atribuiu nome avenida das Acácias, avenida dos Ulmeiros; depois por via das dúvidas passou a Choupos.
Finalmente, não deixou que Figueira, fosse nome de qualquer artéria da urbe, para continuar a preservar segredo,
No entanto, denominou Avenida das Olaias, a rua defronte da sua casa. Olaia, igualmente, conhecida por árvore de Judas; assim, figueira de modo " fantasiado ", de acordo com a sua propensão fantasista, está contemplada.
Também, este nome, sempre presente a porta de sua casa, não deixava esquecer facto um perigo dos "amigos ", é a traição.
E assim demonstro, até numa simples urbanização nem tudo é tão simples como aparenta.
A urbanização projectada por Leal da Câmara para a Rinchoa, além da dimensão desafogada das artérias, doze metros de largura na sua nomenclatura o autor indicia ser "ocultista", ideais apreendidos, quando viveu em França e praticou depois ao longo da sua vida, nomeadamente após regresso a Portugal. Na Rinchoa "entoou" o grito de alma: "SURSUM CORDA" e deu largas ao panteísmo, "bebido" em Eça de Queirós, das Prosas Bárbaras.
As influências são patentes nos escritos sobre a Rinchoa, na coruja do seu ex-libris, "marca" da pertença à "irmandade" dos primos carbonários, facto pelo qual teve de fugir de Portugal na vigência do regime monárquico. Leal era um fantasista, considerava dever primordial a realização dessas fantasias, mantendo no entanto, recato e cuidado na sua concretização, para não serem fácilmente "descobertas". As coisas valiosas devem permanecer veladas, isto é cobertas com o velo da descrição para serem desveladas, por quem procurar e quiser entendê-las.
Leal da Câmara, escreveu: "amanhã é o futuro e o futuro a Deus pertence... só Deus pode saber o que será o dia de amanhã". Sendo deísta, nunca deixou de afirmar o sentido laico do seu pensamento." Existem fórmulas pagãs de investigação do futuro usadas pelos astrólogos, cartomantes, quiromantes e pelos que seguem os rituais da Cabala". Leal praticava a astrologia e conhecia a cabala, como deixou testemunho.
Retomando a urbanização: o nome inicial dado por Leal à avenida dos choupos era "avenida dos ulmeiros". Os carbonários consideram que o caixão de Jesus Cristo, seria de madeira de ulmeiro ou olmo. Se a designação ficasse, Leal temia conotações com a pertença carbonária, e alterou o nome.Todavia,nada mudou, o choupo, sendo uma árvore da família das "ulmácias" é tambem um ulmeiro...
Veja-se uma perspectiva da avenida na primavera. As semelhanças com uma alea dum campo santo são evidentes. A coerência do Mestre manteve-se, se algo parecia mudar, como sempre, não sucedeu, ficou o segredo sob os "ulmeiros", aqui revelado quer dizer "velado" de novo.