A custódia que referi em anterior " post ", deve ter sido , talvez, oferecida a igreja como testemunho do jubilo e honra que constituiu aprovação do nosso patrício, para receber ordens religiosas,como se depreende de documento em minha posse, do teor seguinte :
" Acordam em relação a questão que vistos estes autos, e diligencias de puritate sanguinis, do habilitando José da Silva compatrista deste Arcebispado de Évora e natural do lugar dos Francos freguesia de Nossa Senhora de Belém , Rio de Mouro , termo da vila de Cintra Arcebispado de Lisboa Ocidental, filho legitimo de Domingos João e de Andresa Francisca, naturais , e moradores do dito lugar dos Francos, pelo que resulta e se prova destes autos julgam o dito habilitando por si e seus avós paternos e maternos, por legitimo e inteiro cristão velho, e de sangue limpo sem raça de alguma infecta nação ou das reprovadas pelos sagrados cânones, e por tal declaram e habilitam. Évora , 29 de Outubro de 1721 ".
O tio António da Silva, ourives da diocese ,homem rico,doou o património exigido ao sobrinho para ser admitido no processo de ingresso em ordens sacras.A satisfação deve ter sido muita, sendo pessoa de posses terá decidido, executar e oferecer a paroquia da sua naturalidade a custódia, curiosamente, referida como peça do século XVIII.Vou continuar até esclarecer tudo...
Alexandre José Mateus, é figura grada da história e cultura da aldeia de Almoçageme, freguesia de Colares, Município de Sintra.No ano de 1908,encontrava-se, tudo indica como emigrante, a bordo do navio "ARAGUAYA",da companhia mala real inglesa,barco fazia a rota , Southampton, Buenos Aires, com escala em Cherburgo, norte de França, Vigo , Lisboa,Pernambuco, Baía,Rio de Janeiro, Santos no Brasil , Montevideu capital do Uruguai.
Este navio transportou desde final do século XIX, até 1926, milhares de emigrantes portugueses com destino a América do Sul.Numa dessas viagens Alexandre Mateus,compôs poesia, datado da era citada, somente publicado,em Junho de 1917, no periódico " A CANÇÃO DE PORTUGAL : Fado Publicação Literária e Ilustrada ". Poema intitulado "Longe da Pátria "; testemunho de saudade e apego ao torrão natal. reza assim :
A gratidão gesto demonstrativo de grandeza de carácter, quem sentindo ter sido tratado de modo justo e humano,por outrem, acha dever publicitar o facto dessa forma difundir tratamento dispensado,
Na vila de Sintra principio do século XIX,viveu personagem influente rico e poderoso,elemento da elite sintrense,desempenhou diversos cargos de relevo na "governança" . Vereador , capitão de ordenanças, e porventura algum outro.
Em Janeiro de 1801,porque havia conseguido arrematar as "jugadas" do concelho, personalidade ainda mais destacada.
Jugadas, tributo,pago anualmente em espécie ( milho , trigo, centeio,linho, vinho ), pelos cultivadores das terras agrícolas; normalmente , difícil de pagar tendo em conta a inconstância da produção das terras.Sendo pesado ónus , era como "canga" ou jugo na vida dos pobres agricultores daí o nome ,
Concessionário daquelas jugadas,deveria ser pessoa de sentimentos humanitários, fazer fé em anuncio,publicado, no jornal GAZETA DE LISBOA ,numero III, sábado 24 de Janeiro 1801.Cujo conteúdo era: " Os lavradores e seareiros do termo e vila de Cintra,noticiam que o actual arrematante das jugadas da mesma vila, João Clímaco dos Reis, tem animado e fomentado a agricultura, não vexando aos que por esterilidade lhe devem os direitos, tendo além disso,fiado muitos móios de pão, e franqueado o preciso aos que o necessitarão para as lavouras.este procedimento humano singular no seu género, é digno de publicidade pelo belo exemplo que oferece".
Tratou-se genuíno acto de gratidão e agradecimento merecidos por parte do povo ,ou laudatória mandada publicar, custeada pelo próprio, para conseguir arregimentar apoios a sua actividade política ?Nunca o saberemos...
A antiga praça de touros de Sintra, segundo o ilustre Historiador Sintrense e querido amigo José Alfredo da Costa Azevedo, estava edificada onde existe o mercado municipal no bairro da Estefânia, vila sede do Município. Seria demolida depois de implantado Regime Republicano em 1910.
A Praça de touros de Sintra durante o período de veraneio na Vila da gente grada de Lisboa, era palco de corridas de touros. Em 1906, dia 16 de Agosto quarta-feira, teve lugar uma tourada na qual foram lidadas dez vacas da ganadaria do Marquês de Castelo Melhor, D. João da Silveira Pinto da Fonseca Correia de Lacerda de Eça e Altro Figueiredo Sousa e Alvim, proprietário de extensas e ricas propriedades no Ribatejo. A sua ganadaria considerada uma das melhores do Reino, esteve representada na inauguração em 1901, da Praça de Touros Palha Blanco edificada em Vila Franca de Xira.
Na corrida de Sintra as honras da tarde foram para o cavaleiro D. Ruy Zarco da Câmara filho do conde da Ribeira Grande e bandarilheiro Eduardo Perestrelo. Os moços de forcados não compareceram, devido á falta de vestuário apropriado. As pegas seriam executadas por espontâneos, presentes nas bancadas. O gado saiu bravo e proporcionou lides brilhantes.
Todos os intervenientes eram "filhos de famílias da nossa primeira sociedade", conforme relatava a imprensa da época. Praça quase cheia com assistência distinta e entusiasta. Dirigiu a corrida D. Vicente de Paula Gonçalves Zarco da Câmara conde da Ribeira Grande,progenitor do cavaleiro D. Ruy.
O evento tauromáquico realizou-se no ano de 1906. O Regicídio ocorreu dois anos depois, posteriormente ao trágico acontecimento não houve mais touradas em Sintra. Assim deve ter sido uma das derradeiras corridas realizadas na praça de toiros Sintrense.
Em 1924, foi publicado por Cezar dos Santos o livro: "O Desprezado", no qual o autor inseriu um conjunto de reflexões atribuídas a Gomes Leal, poeta e panfletário, proferidas no tempo da 1ªguerra mundial, durante a ditadura de Sidónio Pais, época de grandes dificuldades e miséria para a maioria da população, tal qual hoje. Dizia o poeta: "Ah que série de ilusões vai este desventurado povo atravessando pois está a sendo governado por burros e analfabetos...que série! Que homens! Meu caro amigo, eles matam-nos à mingua e a fome. São incapazes de terem sentimentos humanos. Quadrilhas! Quadrilheiros! Se João Brandão hoje fora vivo, teria animo e força para atingir a chefia deste Estado que sossobra. Quadrilhas! Quadrilheiros! Pois donde vêem as fortunas que ostentam esses maltrapilhos de ontem por esse país fora?". Acerca de "Cintra", Cezar Santos escrevia "Quem há aí que não conheça a "Cintra" de hoje aos domingos? A bêbeda "Cintra", a povoação dos pic-nics! Toda ela é inferior á superioridade da serra altaneira que a domina e a esquece". Os governos local e nacional também esquecem o bem comum, governando sem rei nem roque, fazendo tudo para que os nossos dias sejam tristes, sem esperança. Somos um povo "Despresado". Oxalá após as próximas eleições autárquicas, quem liderar o Munícipio, para além da Sintra dos "Palácios" dos pinic-nics e turistas low-cost,se interesse ,finalmente,pela outra,habitada por milhares de pessoas,sacrificadas por pesados impostos municipais, utilizados,sem cerimónia. para alimentar as vaidades e "prebendas" duma vetusta e retrograda minoria para a qual só é Sintrense quem vive na Sintra (Vila), considerando o restante território concelhio, unicamente, uma fonte de rendimento, onde se deve investir o mínimo possível. Basta de "DESPRESISMO". Concordando com Gomes Leal declaro: "Reservo a minha alma para o silêncio. Nele viverei humilde e ignoradamente. Não me preocupa já a politica. Estou muito diferente do que era".Continuarei a escrever aqui, como dever de cidadania. Valerá a pena? Este texto foi elaborado há mais de um ano.Algo mudou? quem souber responder diga.Por mim infelizmente parece que não.
Nas estradas que servem a Cidade de Sintra foram colocados no século XIX marcos quilométricos indicativos da distancia de "CINTRA" a Lisboa. Restam alguns exemplares. Conhecemos um no Jardim 25 de Abril em Belas em frente à sede da Junta de Freguesia. Outro está na Rua Cupertino Ribeiro em Rio de Mouro Velho.
Já deveriam ter sido retirados e substituídos por réplicas pois correm o risco de poderem ser destruídos, por qualquer acidente de tráfego ou, simplesmente, por desleixo próprio de quem tem ousada incultura.
Se este reparo pode pode parecer alarmista, deixamos aqui o exemplo do triste fim dum marco existente na estrada de Belas a Vale de Lobos um pouco antes da localidade da Serração. Acabou num recanto escondido da berma, mutilado por causa do descuido de quem devia cuidar do património e a incúria dos que ao executarem trabalho só pensam em arrasar tudo.
Um dos ex-líbris da Vila, o Palácio Nacional com as suas enormes chaminés, tinha um visual diferente de agora. Na actualidade tem um terreiro fronteiro ladeado por uma praça, cujo conjunto é relativamente recente, datado de 1930.
Antes da implantação da República em 1910, o acesso ao Palácio da Vila fazia-se por um portão situado em frente do actual Café Paris. Uma vez demolido, foi colocado no topo do Palácio onde existe uma esguia palmeira. A coluna Neo-Manuelina visível no postal ilustrado deslocaram-na para o Largo da Misericórdia.
O terreiro referido, foi denominado (Rainha D. Amélia) por decisão da Câmara Municipal, como "contraponto" à Praça da República, que designa o espaço exterior anteriormente baptizado com o nome daquela rainha.
Esta "história" é explicada por José Alfredo da Costa Azevedo no seu livro "A Vila velha" (ronda pelo passado).
Mais do que as palavras as imagens mostram as modificações realizadas ao longo de 100 anos.
Será um exercício interessante, descobrir as diferenças das alterações operadas no decurso de um século. É indesmentível que a imponência e a beleza do Palácio foram realçadas.
Numa próxima visita a Sintra, os leitores terão um acrescido motivo para admirarem melhor uma terra única e sedutora: ONTEM "CINTRA" E HOJE "SINTRA"...