Ilustre sintrense um dos mais destacados membros da Nova Arcádia, amigo de Filinto Elísio, e de muitos outros arcades, autor de alguns dos mais belos sonetos escritos em português, é por isso grande vulto das letras pátrias.
Resolvemos partilhar com os nossos leitores, uma sua inspirada composição como lenitivo as agruras do tempo presente, e que contém matéria para meditação.
Á VIDA RÚSTICA
Feliz o que da corte retirado
Lá nos campos que herdou dos seus maiores
Imitando os singelos lavradores
Volve os pátrios torrões c`o liso arado
Não desperta jamais alvoraçado
Da rude chusma aos naúticos clamores
Nem ao tom dos horríficos tambores
Ou da estrondosa bomba ao rouco brado
Sem de temor pender,nem de esperança
Não vae co`a leve turba aduladora
incensar os altares da privança.
Humilde enfim a Providência adora
No meio da tormenta ou bonança
Esta é a vida ,oh céos,que me namora
Este soneto consta de "Nuno Catharino Cardoso, (1918) antologia de Sonetos Portugueses-Luso Brasileiros, Lisboa, edição do autor.
No século XVIII surgiu em Portugal uma corrente poética, cujos cultores se constituíram numa espécie de "tertúlia" ou "academia", à qual pertenceram vultos destacados da cultura de então, que além do seu nome, assinavam os seus trabalhos com um pseudónimo, alguns deles foram:
José Agostinho Macedo - (Elmano Tagídeo); Joaquim Binge - (Francélio Vouguense); Ferraz de Campos - (Alcino Lisbonense); Bocage - (Elmano Sadino); Curvo Semedo - (Belmiro Transtagano). Deste movimento também fez parte um nosso conterrâneo, Domingos Maximiano Torres, que se diz ter nascido em 6 de Fevereiro de 1748, mas na realidade, segundo apuramos, o dia do nascimento foi 4 de Agosto do mesmo ano. Faleceu no Forte da Trafaria, onde estava preso por delito de opinião, em 1810. O local do seu nascimento vamos revela-lo em primeira mão: Quinta de Entrevinhas Freguesia de Rio de Mouro, Concelho de Sintra, claro que espero que quem se sirva desta informação cite esta fonte, pois há gente que utiliza o que escrevo sem referir o autor.
Voltando ao nosso Arcade, e para surpresa de muitos "famosos" da nossa praça que usam do acinte e do seu "poiso" para denegrir o território onde escolhemos viver e do qual gostamos muito. Domingos Torres - (Alfeno Cynthio) oriundo de uma família abastada, obteve o grau de Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra. Na sua obra poética refere muitas vezes o encanto bucólico de Rio de Mouro., exemplo disso, o soneto dedicado a Dona Joana Isabel Forjaz, e que termina assim:
Já grata em teu louvar a voz se apura
já para ouvir-me o Mouro* ergue a limosa
Fronte azul, entre os freixos não murmura
* Para não restarem dúvidas o editor esclareceu: "Mouro= Rio de Mouro, ribeiro conhecido que nasce três léguas diante de Lisboa, para as bandas de Cintra cuja estrada atravessa por baixo de uma espaçosa ponte, dando o seu nome a um INSIGNE LUGAR pelas suas amenas e grandiosas quintas".
É caso para dizer aos que fazem "humor" de gosto duvidoso, e intelectualmente pobre, venham lavar-se nas águas do Mouro, que são límpidas e talvez como nós e o ilustre arcade se rendam ao encanto deste idílico recanto do termo de Sintra, e deixem de dizer "sujeiras".