Em tal dia como de hoje, no já longiquo ano de 1922, nasceu na vila de Pampilhosa da Serra o meu saudoso pai, daí resolvi evocar a sua vida e dos Portugueses da sua geração, como lenitivo para não nos deixarmos esmorecer pelo desvario desta gente que nos governa.
O meu pai e os da sua época passaram as dificuldades do pos-guerra de 1914-1918, as agruras do governo da ditadura salazarista, o caos da grande depressão de 1929, vicissitudes da guerra civil de Espanha. Cumpriram o serviço militar obrigatório durante a 2ª guerra mundial, muitos foram expedicionários, como então se dizia, aos Açores ou as colónias. Tiveram de nos dar o pão em condições de racionamento severas, onde faltava quase tudo para os pobres. Sofreram a amargura de verem partir filhos, parentes e amigos para a guerra colonial. Imigraram e emigrarm à procura de melhor vida. Tiveram a alegria de ver tombar o Estado Autoritário.
Nós herdamos o valor moral do vosso exemplo, não temos medo de dificuldades, mas da incompetência e estupidez de quem se propõe fazer o que não sabe, por incuria e falta de caracter. Mandemos o Euro as urtigas, aproveitemos as oportunidades da globalização. Voltamos à frugalidade da vida dos nossos pais e avós. No entanto não nos deixaremos arrastar para a miséria donde com sangue suor e lágrimas, saímos.
Querido pai, um dia disseste-me: "filho quando pensares que tens razão, não desistas". Se porventura pudesses ler este "escrito", constatarias que não esqueci, nem esquecerei. Viva o teu aniversário, fico por aqui. Já não vejo as letras...
O terramoto de 1755, foi uma calamidade que se abateu sobre o País todo. provocando centenas de milhares de mortos e prejuízos incalculáveis. Na vlla de Sintra, o acontecimento foi descrito pelo pároco da freguesia da Vila,nos termos seguintes:
"Neste calamitoso tempo no primeiro dia do mês de Novembro de 1755 anos em que a Igreja Nossa Mâe manda celebrar a solenidade de todos os santos, visitou Deus os pecadores no rigor da sua justíssima ira; tremeu a terra pelas nove horas e três quartos do dia com tal violência que pareceu queria sacudir de si todos os mortais. Destruiram-se todos os ediícios desta antiquissima vila, e de quasi todo o Reino de Portugal. Cairam os sagrados templos, e com tão geral confusão e agonia acharam muitos miseraveis, primeiro o horror da sepultura, que o último estrago da morte. O terror a consternação e desalento deixaram de pouco melhor condição os que sobreviveram, a quem os campos serviram de asilo, e humildes choupanas de habitação, e a infinita misiricórdia de Deus de verdadeira e única consolação."
Quando passamos por um periodo de grandes dificuldades, convém recordar aqueles que com afirmações de boçal incúria, denigrem Portugual e os Portugueses, que 50 anos depois do terrível terramoto, tivemos as invasões francesas e o abandono da classe dirigente que fugiu para o Brasil. Em 1822 a independência daquela colónia. Depois a guerra civil (1828-1834), que provocou feridas que duraram anos a cicatrizar: a bancarrota no final do século XIX, a mudança de Regime em 1910, a participação a 1ª guerra mundial, a ditadura do 28 de Maio de 1926, o Estado Novo, a guerra colonial (1961 -1974). Superaramos tudo, sem ajuda de ninguém, e ainda ouvimos dizer que temos tido uma "rica vida".
É bom lembrar isto, e a memória dos nossos antepassados, porque nos mostraram que Portugal abana e cai, mas acaba sempre por se REERGUER, por maior que seja o abalo.