Em sitio afastado de qualquer povoado, numa via por onde circulam, veículos de apoio ao cultivo das propriedades agrícolas circundantes, fica grande cruz, parecendo marcar simbolicamente, lugar de paragem e silencio próprio a meditação ; austero cruzeiro erigido no seculo XVIII.
Nestes tempos de grande temor e angustia, voltei junto de esta sacra memória, aproveitando as pedras de tosco murete, duma horta vizinha, sentei-me, permanecendo em recolhimento.
A quietude somente perturbada pelo chilrear das aves, permite, sem sobressalto prescutar o mais recôndito do pensamento, ou não fosse, cruzeiro, palavra significa também,viagem.
Aqui, ermo humilde, simultaneamente, perto e longe, acalenta-nos esperança, tal como em tempos idos, apesar de tudo, precisamos da fé, acreditando no porvir melhor...
Sem esperança, humanidade fica unicamente com desespero: gente desesperançada.Não desejo nem quero, tal aconteça...
No post que publicamos em 29 de Julho de 2007, manifestamos o nosso descontentamento pelo estado de abandono em que se encontra o painel de autoria da ilustre figura da cultura portuguesa, que é GRAÇA MORAIS, colocado na zona envolvente da estação ferroviária de Rio de Mouro, no município de Sintra.
Há poucos dias colocaram iluminação numa das componentes da obra de arte, que está nas paredes do viaduto do caminho de ferro. Pensámos: finalmente, vale mais tarde que nunca! Verificamos hoje que era melhor terem ficado quietos, porque:
OS TUBOS COM OS CABOS ELÉCTRICOS, AS CAIXAS DE APARELHAGEM E AS BRAÇADEIRAS DE FIXAÇÃO, foram instalados directamente sobre os AZULEJOS DO PAINEL, vandalizando assim a obra de GRAÇA MORAIS!
Não há palavras para tamanho atentado à cultura. Quem tem culpa? Não sei, mas daqui lanço um apelo reparem rapidamente esta asneira, para continuar a ter esperança que em Portugal ainda é possível acreditarmos nas instituições. Estou muito indignado! Se estiverem de acordo os que visitam este "blog" protestem.
A imagem cenográfica do Palácio de Sintra, ex-líbris do nosso concelho, fotografada centenas de vezes por dia ao longo de todo o ano, está difundida por todo o mundo, porventura muitos dos que se encantam com a silhueta das gigantescas chaminés, não fazem ideia das histórias tristes ocorridas naquel Palácio Real ao longo dos séculos.
De todas elas destaca-se, em nossa opinião, a relacionada com D. AfonsoVI que a maioria do Portugueses, já ouviu falar. Em resumo os factos foram os seguintes:
D. Afonso casou em 1666, com a princesa Dona Maria Francisca Isabel de Sabóia, em 2 de Novembro de 1667, aquela senhora entrou no convento da Esperança em Lisboa, donde pediu a nulidade do casamento, afirmando que o mesmo não se consumara por inabilidade fisica do Rei. O casamento foi anulado depois dum escabroso processo, findo o qual a princesa de Sabóia casou com o cunhado, o Infante D. Pedro.
D. Afonso VI, foi recluso durante seis anos no Castelo de Angra nos Açores, e depois no Paço de Sintra, dez anos, vindo a falecer em 12 de Setembro de 1683, quando ouvia missa na capela do Paço. A desgraça do desditoso Rei entrou no imaginário popular, de tal modo que no século XIX, circulava um poema de autor anónimo, relacionado com este episódio, cujo teor é o seguinte:
Eu fui livre,fui rei e fui marido
Sem reino,sem mulher,sem liberdade,
Tanto importa não ser,como haver sido:
A Portugal só deixo esta verdade,
A meu irmão só deixo este memento
Este é de Afonso VI o testamento
Ironicamente, D.Afonso VI passou para posteridade com o cognome de VITORIOSO, o que não deixa de ser uma partida do destino, tendo nascido em 21 de Agosto de 1643, viveu 40 anos, dezasseis dos quais prisioneiro sem culpa formada, deixando no lagedo de um dos monumentos mais visitados de Portugal a marca do seus passos, como lembrança da clausura a que o condenaram, por interesse do Estado, e do seu irmão.