No trabalho, publicado em Abril do ano passado, referimo-nos á fonte pública da Rinchoa,situada na rua da fonte. No entanto o primitivo, ponto de abastecimento público, de água na Rinchoa assentava num outro quadrante da geografia Rinchoense, bem no centro da "velha Rinchoa" como denominava Leal da Câmara.
Lembrança da "bica"está, materializada, na designação, RUA DA FONTE VELHA; artéria começa junto à Casa Museu Leal da Câmara, desce a colina passando perto do local da fonte; esta está entulhada e vedado o acesso pelo proprietário do terreno.Teimosamente continua a escorrer um fio de água. Os moradores da zona, afirmaram-nos que no fim do verão quase desaparece. Apesar de tudo ainda se ouve o som cristalino do líquido precioso, desde sempre tão escasso. Mestre Leal sabia que a magnitude do problema, exigia a execução de obras que deveriam ser da responsabilidade duma entidade com capitais para o efeito, por isso opinava:
"Competiria esta exploração à companhia das águas ,cujas funções são, juntamente estas de distribuição de águas, sua procura e expropriação. Esta companhia tem mesmo, um grande plano em vias de execução e que deve alcançar esta região em 1945 ou 1946". Infelizmente estas obras seriam concretizadas nos anos 80 do século XX, quando a população havia triplicado. Por causa daquela demora as faltas de água no concelho de Sintra eram quotidianas. As conclusões do Congresso de 1944, realizado no antigo casino da avenida dos plátanos, actual colégio; acerca deste tema, foram: "Que os munícipes da Rinchoa e das Mercês se juntem à comissão de iniciativa para pedirem providências à Câmara Municipal afim de que estas povoações sejam abastecidas de água, no mais breve prazo possível.
Que a Câmara Municipal tome disposições necessárias para que a fonte pública (velha) não seja privada de água". Sabemos que as conclusões não foram atendidas com rapidez, aliás como é hábito em Portugal. Rodrigues Migueis de forma magistral fixou esta pecha dos nossos governantes: Em Portugal tudo chega atrasado, o progresso a civilização e...o caminho de ferro.
Na beira da antiga estrada de Lisboa a Sintra, por alturas onde se construiu uma superfície comercial de artigos de desporto e lazer, e que hoje em dia é um troço de via sem saída, paralalela ao itenerário complementar nº19, está uma formoso chafariz de duas bicas as quais há muito não vertem o precioso lìquido, pelo que, talvez seja desapropriado designá-lo assim...
Segundo uma inscrição colocada na frontaria, foi construído em 1781, curiosamente no mesmo ano que começou a Feira de S.Pedro. Quantos caminhantes descansaram nos bancos que ladeiam a fonte? Por certo muitos almocreves permitiram que os seus animais de carga aqui bebessem.
Quem sabe se muitos negócios de "Travessia" não se fizeram aqui, visto ser um ponto de paragem antes de entrar nos limites da Vila de Sintra?
Sabemos que no dia 27 de Setembro de 1787, uma quinta feira de "céu sereno e sol brilhante", passou por este sítio William Beckford que registou esse facto no seu "Diário". O chafariz tinha importância na época pois todos mapas dos arredores de Lisboa o assinalam.
Hoje ninguém repara nele, apesar de estar devidamente cuidado deveria ter uma informação sinalética indicando "CHAFARIZ DO SÉC. XVIII". Daí o interesse em conhecer "esta obra para utilidade pública" mandada executar pelo "Senado da Câmara de Cintra".
Análise do conteúdo da "memória" é uma "lição" de História. Da fonte já não jorra água e dificilmente voltará a jorrar, acrescer a este facto o esquecimento a que está votado foi uma causa determinante para ter secado. Mas contra isto se promovermos a sua divulgação como testemunho importante da nossa memória comum, faremos "simbolicamente" que das bicas volte a brotar o conhecimento que tal como a água serve para "matar a sêde".
Há quem sem cuidar no que diz, afirme que as localidades objecto de uma urbanização intensa, perdem a sua "memória", passam a ser simples nomes sem qualquer ligação à história ou ao meio onde se situam.
Não é assim com a Rinchoa. Aqui há particularidades que atestam o passado e o viver dos seus habitantes ao longo dos séculos. Coisas interessantes que só é possível encontrar em aldeias do interior "profundo" de Portugal.
A Rua da Capela, onde se situava a ermida da povoação, cujo culto, era ainda citado no século XIX. A Estrada do Marques, que ligava a Quinta de Oeiras com a Granja de Sintra, ambas da Casa Pombal.
Curiosa é a antiga fonte de "chafurdo" que brota junto à sobreira centenária, referida num nosso anterior apontamento.
É a denominada Fonte do Rouxinol, recuperada em 1963. É exemplo dum modo de fornecimento de água às populações muito comum no nosso País até ao início dos anos setenta do século XX.
Quem quiser conhecer como milhares de portugueses se abasteciam de água pode vir aqui admirar esta encantadora fonte, descansando um pouco nos bancos que existem junto à mesma, e constatar que mesmo no meio da urbe movimentada encontra o ambiente bucólico de tempos idos.
O nome Rouxinol, é vulgar na Rinchoa porque na Primavera e no Verão é possível de madrugada ouvir aqui o canto dessa ave encantadora...