Agora parece toda a gente, despertou para a importância simbólica e afectiva das antigas estradas de Portugal, por onde antes das " autovias " surgirem com profusão, fluía o trafego rodoviário,
A estrada nacional 118, a qual apelido há muitos anos de " via Ribatejana " porque atravessa toda a lezíria da margem esquerda do Rio Tejo desde inicio em Alcochete, até ao Gavião.
Não tem conto as ocasiões que nela já circulei. O " antigo " caminho para a Pampilhosa da Serra, fazia por aqui, passando pelo celebre cruzamento do Porto Alto, até a Ponte da Chamusca,
Belo percurso por entre vinhedos arrozais e plantações de meloais e melancias. Samora Correia, Benavente ; Salvaterra de Magos, Almeirim Alpiarça e Chamusca, era por íamos passando,
Hoje fiz trajecto de Gavião a Porto Alto, descobri pouco abaixo de Santa Margarida da Coutada, alturas de Constancia o marco quilométrico indicativo da distancia 118 Km,achei engraçado e aqui fica ponto marcante da mítica e sempre pitoresca EN 118.
Castelo de Vide assente em elevada colina rodeada de arvoredo frondoso, abundante em frescas águas, surpreendeu o Rei de Portugal D. Pedro V; deliciado com a paisagem na visita que fez a vila dia 7 de Outubro de 1867, segundo é voz corrente sua Majestade não encontrou melhor termo de comparação que Sintra daí denominar o burgo "Sintra do Alentejo", assim ficou.
Aqui nasceu um dos mais brilhantes vultos da história de Portugal ,José Xavier Mouzinho da Silveira, passou a eternidade, simplesmente conhecido por "MOUZINHO DA SILVEIRA". A acção política e cívica marcou para sempre a história da nossa Pátria, podemos afirmar as leis promulgadas pelo estadista, desmantelaram definitivamente o regime da monarquia absoluta. Não admira quando em 1832 por ordem dos Miguelistas, detido e encarcerado o mandado de prisão apelidar Mouzinho da Silveira: " o surdo e infame rebelde" alusão a surdez e facto de ter sido da maçonaria.
Faleceu em Lisboa no dia 4 de Abril de 1849, determina no testamento, vontade de ser sepultado na ilha do Corvo no arquipélago dos Açores, ou aldeia de Margem, concelho do Gavião distrito de Portalegre, no seu querido Alentejo. Considerava Mouzinho da Silveira, ambas terras se "mostraram agradecidas em vida " com a promulgação da lei da sua autoria que abolia os direitos senhoriais sobre povo humilde daquelas localidades. Seria sepultado na aldeia do concelho de Gavião, para onde o corpo foi levado conforme vontade expressa, "num caixão ordinário forrado de grossaria pregado e antes preparado de forma que possa sofrer a viagem ou jornada sem incomodar os vivos, e o condutor o levará como se levam os caixões de mercadorias e pelo preço ordinário de fardos de volume igual" determinava quando chegar ao destino, "se terá o trabalho de avisar o pároco, para estar presente quando por dois homens de paga for conduzido ao cemitério numa padiola".
Respeitou-se a vontade do defunto. Finalmente a 15 de Junho de 1875, os restos mortais de Mouzinho da Silveira foram trasladados para jazigo construido por subscrição pública, no adro da igreja de Margem. Desde que conheci vida e obra deste grande Português, planeava visitar monumento onde está sepultado. Realizei esse objectivo, passado dia 1 do corrente.Permaneci em silencio alguns instantes contemplando a estátua, pensando, a fama é efémera, a glória eterna.
Mouzinho da Silveira escreveu: "Dou graças a Deus por ter nascido de pais que trataram de me radicar no amor da verdade e da justiça, no desprezo da vaidade do traje, e de qualquer ouro fausto ou afecção, e devo a isto o não ter tido nunca alguma ordem ou título". Seria deste modo até ao fim, e depois da morte. Grande Homem, recordar o exemplo é dever de cidadania. O monumento funerário, quem puder deve visitá-lo.