Leal da Camara, como já escrevi e demonstrei seria membro da carbonária, a exemplo do seu grande amigo, Aquilino Ribeiro.
A urbanização idealizada para a Rinchoa, foi concretização de "fantasia" baseada nos ideais da carbonária. Mestre Leal da Camara deixou "encriptada" a intenção, convencido se alguém afecto a ditadura Estado Novista, pudesse imaginar tal coisa, teria problemas.
O ideário carbonário, postula sendo denominada "maçonaria florestal", os seus membros deveriam conhecer pelo menos três espécies de árvores e respectiva madeira , a saber :
Acácia espinhosa de cujos ramos havia sido feita coroa de espinhos, colocada sobre a cabeça de Jesus, quando expirou na Cruz. O ulmeiro de cuja madeira teria sido feito o ataúde de Jesus Cristo, finalmente, a figueira onde Judas o traidor segundo as escrituras, arrependido se enforcou.
Para não dar " pistas " Leal da Camara atribuiu nome avenida das Acácias, avenida dos Ulmeiros; depois por via das dúvidas passou a Choupos.
Finalmente, não deixou que Figueira, fosse nome de qualquer artéria da urbe, para continuar a preservar segredo,
No entanto, denominou Avenida das Olaias, a rua defronte da sua casa. Olaia, igualmente, conhecida por árvore de Judas; assim, figueira de modo " fantasiado ", de acordo com a sua propensão fantasista, está contemplada.
Também, este nome, sempre presente a porta de sua casa, não deixava esquecer facto um perigo dos "amigos ", é a traição.
E assim demonstro, até numa simples urbanização nem tudo é tão simples como aparenta.
Quando surge oportunidade retorno ao pequeno choupal onde em diversas ocasiões largava o fiel amigo cão companheiro de passeatas, que infelizmente morreu.
Adoro o bosquete composto de choupos altivos que sobrevivem no município português de Sintra, no meio de zona densamente povoada. Resistiram as arremetidas da nortada, os troncos mostram a inclinação provocada com a força do sopro de "eolo". No amargurado quotidiano português ao entardecer o renque das arvores alinhadas, contribue para proporcionar sensação dum tempo crepuscular, pressentida mas inexplicável. Simbolicamente árvore ligada ao declínio e a morte, segundo várias correntes iniciáticas a madeira do caixão de Jesus Cristo seria de choupo. Na mitologia grega do choupo obtinha-se a única lenha apropriada aos sacrifícios oferecidos a zeus. Relativamente ao porvir acuidade é porventura maior se contemplamos um choupo, o escuro das folhas, em vez de esperança remete-nos para as recordações. O triunfo do capital desbragado e corruptor, abriu caminho a colocação em cargos de decisão, de índividuos detentores de credenciações concedidas não por mérito mas por traficância mercantil. Alcandroados em postos de mando não sabem que fazer dessa inépcia resultam angústia, desespero e miséria, envolvendo o "orbe" qual pandemia.
Amados choupos austeros inspiradores, já não há esperança? A dor sacríficio e lágrimas, as quais os deuses vos associaram estão aí, caminhamos no meio da ulmácea alameda a luz do sol filtrada na ramaria que vento sacode, repete reflexos luminosos na erva seca do chão. O pensamento leva-nos as palavras de R. Tagore "Meu PAI permite que a minha Pátria acorde"se despertar, talvez, o pesadelo termine.
A urbanização projectada por Leal da Câmara para a Rinchoa, além da dimensão desafogada das artérias, doze metros de largura na sua nomenclatura o autor indicia ser "ocultista", ideais apreendidos, quando viveu em França e praticou depois ao longo da sua vida, nomeadamente após regresso a Portugal. Na Rinchoa "entoou" o grito de alma: "SURSUM CORDA" e deu largas ao panteísmo, "bebido" em Eça de Queirós, das Prosas Bárbaras.
As influências são patentes nos escritos sobre a Rinchoa, na coruja do seu ex-libris, "marca" da pertença à "irmandade" dos primos carbonários, facto pelo qual teve de fugir de Portugal na vigência do regime monárquico. Leal era um fantasista, considerava dever primordial a realização dessas fantasias, mantendo no entanto, recato e cuidado na sua concretização, para não serem fácilmente "descobertas". As coisas valiosas devem permanecer veladas, isto é cobertas com o velo da descrição para serem desveladas, por quem procurar e quiser entendê-las.
Leal da Câmara, escreveu: "amanhã é o futuro e o futuro a Deus pertence... só Deus pode saber o que será o dia de amanhã". Sendo deísta, nunca deixou de afirmar o sentido laico do seu pensamento." Existem fórmulas pagãs de investigação do futuro usadas pelos astrólogos, cartomantes, quiromantes e pelos que seguem os rituais da Cabala". Leal praticava a astrologia e conhecia a cabala, como deixou testemunho.
Retomando a urbanização: o nome inicial dado por Leal à avenida dos choupos era "avenida dos ulmeiros". Os carbonários consideram que o caixão de Jesus Cristo, seria de madeira de ulmeiro ou olmo. Se a designação ficasse, Leal temia conotações com a pertença carbonária, e alterou o nome.Todavia,nada mudou, o choupo, sendo uma árvore da família das "ulmácias" é tambem um ulmeiro...
Veja-se uma perspectiva da avenida na primavera. As semelhanças com uma alea dum campo santo são evidentes. A coerência do Mestre manteve-se, se algo parecia mudar, como sempre, não sucedeu, ficou o segredo sob os "ulmeiros", aqui revelado quer dizer "velado" de novo.