Vai rareando o numero dos que ainda escrevem cartas, não deves estranhar, porventura será maneira mais azada de comunicar se sinceramente admiramos o destinatário. Querido Amigo, ando pelas ruas da amargura, isso inibe escrever-te regularmente. Resolvi arrepiar caminho.
O tratamento desumano impedioso e cruel que temos sofrido, a mando dos senhores do mundo, através dos seus representantes além duma dor de alma, deve ser vingança contra aquilo que obtivemos em consequência da florida implosão de alegria que em Abril de 1974, sacudiu o teu vetusto solo tal qual o terramoto do "marquês". Não aceitam, o facto num terrunho pobre possam viver pessoas com algum conforto e dignidade. Afirmam ser preciso voltar para a miséria, nossa companheira durante séculos. Dizem: vivemos acima das nossas posses, isso não pode ser. É horrível, então como será possível um pobre "fintar" o seu destino se não conseguir meios superiores aos que dispõe? Discurso do "pobre és e pobre serás". A estupidez alardeia impante o seu "poder" por todo o lado. O antigo sistema renasce das cinzas, os "fariseus" multiplicam declarações contra o Estado, mas querem conquistá-lo para servir uma minoria que não representa sequer uma elite. Viver dentro das tuas fronteiras causa medo, confrontados com redução de rendimentos, fome e sede de justiça arrastamos o quotidiano ermo de paz e tranquilidade.
Oxalá quem causou tanto mal e tristeza, sinta os efeitos da "tisana" que nos obrigaram a beber, pouco dados a tumultos, podemos no próximo domingo, com o nosso voto provocar amargos de boca. Quando anunciavam finalmente, dias radiosos, voltou o vento, chuva e frio, não se pode acreditar. A selecção nacional vai para a Amazónia ou como escreveu Ferreira de Castro para a "selva". Nem o futebol vai ajudar!?
Na Casa Lusitana, denominação atribuída a Portugal por um professor que recordo, homem quesilento, pronto para distribuir castigos ,admirador convicto da situação,o outro nome da ditadura do estado novo, as singularidades abundam, cada dia mais bizarras.
Pertenço á legião dos proscritos,a quem o governo ,os mercados ,e outras "pias" instituições,já levaram parte significativa do vencimento ou da pensão,não satisfeitos, aumentam os impostos considerando-nos titulares de (rendimentos) afinal cortados, agravam o IMI,reavaliando os imóveis, qual boom imobiliário a contraciclo da realidade,aumentam água, luz,gaz, tudo o necessário ao viver quotidiano.Enfim numa inequivoca demonstração,que estão convencidos: a malta "aguenta" "aguenta", apertar o cinto não se aplica,aos esbulhadores, geralmente usam suspensórios. Os cortes tolerados pelo tribunal zelador da Constituição,por serem provisórios ,afinal serão definitivos.
Lembro,o tempo quando tentaram fazer de mim um bom cidadão obediente venerador e obrigado, e não conseguiram.Nessa época a minha avó,rezava todas as noites uma oração em que pedia á Mãe de Céu,protecção para as agruras da vida "A VÓS bradamos os degredados,filhos de eva...suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas".Soava aquilo tão medonho,que na minha compreeesão infanto-juvenil,acreditava ser um exagero.Engano, o vale de lágrimas existe... para os proscritos.
No outro lado da montanha ,cantando e rindo como na canção dos lusitos da casa lusitana ,estão os prescritos,tendo os títulos e o dinheiro a bom recato,quando por "burrice" se deixam elear nos meandros da justiça,não se amedrontam recorrem recorrem sempre ,para todas as instancias do "universo" até que o tempo lhe proporcione a prescrição dos processos instaurados.Poupam milhões,são gente grada,podem não ser respeitáveis mas tem de ser respeitados ,como sempre sucedeu.
O numero de pobres deve aumentar para que recebendo esmolas dos prescritos os ajudem a ganhar o paraíso celestial,o fiscal está garantido.
Para uns a justiça é um fardo ,para outros uma farra.resta acreditar na justiça divina "Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados".Proscritos deste vale de lágrimas, "não há bem que sempre dure nem mal que não acabe".Será mesmo assim?Volto a D.Miguel de Unamuno ,meu mestre.Cristo nosso,Cristo nosso!Porque nos abandonastes?
A recente "degola" de Freguesias, atingiu uma das mais distintas e senhoriais das terras Portuguesas, a Vila de Belas no termo de Sintra. Estamos ligados a esta localidade não só por apreciarmos o seu valioso património natural e construído, mas também porque durante algum tempo, no período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, foi "assento" duma tertúlia de amigos na qual debatíamos aquilo que pensávamos ser o melhor para a Freguesia o Município de Sintra e Portugal. Bons tempos.Além disso no cemitério de Belas repousam os restos mortais do grande Português e Sintrense Leal da Câmara, cujo tumulo por vezes visitamos.
Para se aquilatar o desconhecimento da importância social e histórica de Belas, da parte de quem legislou, e acabou com sua autonomia autárquica secular, recordamos: foi sede de Concelho até 1855, no entanto durante séculos.pela amenidade do clima, ponto de passagem obrigatório da corte no caminho para Sintra, habitada por famílias nobres, serviu de pousada e estancia á mais alta nobreza do Reino. (Lavanha, 1622) relata: "Aos dezassete de Setembro (1619), foi sua Majestade e Altezas a Sintra, e de caminho el-rei passou pela fonte da agua livre, a qual se pretende meter na cidade (Lisboa), examinando-se diante de sua Majestade a quantidade de água,presente o Presidente da Câmara (de Lisboa) e outros oficiais dela. De ali foi a Belas vila de António Correa da Silva onde tem uma boa casa e jardins, nela comeu sua Majestade e Altezas, e passaram a dormir a Sintra. "Estes factos ocorreram no decurso da viagem de D. Filipe II,de Espanha, ao Reino de Portugal.
Mais tarde em 23 de Setembro de 1728, a Gazeta de Lisboa, noticiava:" A Rainha nossa senhora, foi ontem a Belas com a senhora infanta D. Francisca ver o senhor infante D. Carlos". Tratava-se da Rainha D. Maria Ana de Áustria esposa de D. João V. O infante D. Carlos,seu filho, encontrava-se doente e procurava alivio, no ambiente saudável de Belas. Faleceu em 1730, com 14 anos.O infante D.Manuel de Portugal, irmão de D. João V, nascido em 1696 viveu alguns anos em Belas onde faleceu em 1766, reinando D. José I, que o visitava com regularidade. Foi cabeça de Marquesado e Condado, adstritos aos senhores de Pombeiro e Castelo Branco D. Manuel I Duque de Beja, antes de ser rei, doou os rendimentos da igreja de Belas, as freiras do convento daquela cidade.
Artistas e autores de relevo, influentes na cultura,do nosso País,viveram ao longo do tempo na Vila. A igreja matriz,o Paço do Senhor da Serra, um dos pioneiros clubes de golf fundados em Portugal, quintas maravilhosas, uma doçaria única (fofos de Belas), são alguns dos atributos da povoação. Ironia do destino por incultura de quem pensou a "lei autárquica" reduziu esta nobre terra à condição de ostentar nome de estação ferroviária "agrupamento de freguesias Queluz-Belas". Mais prosa para quê? Doí constatar o atrevimento dos ignorantes. Belas não merecia ser tratada assim.A freguesia de Belas tem de ser reposta,por imperativo da justiça e da História.(Foto,portal manuelino da igreja matriz)