Um dia não muito distante, larguei o carro, e decidi calcorrear a pé o caminho de Almornos e Almargem do Bispo, localidades situadas no extremo norte do Município de Sintra, na área Metropolitana de Lisboa, em Portugal.
Era um final de tarde soalheiro e calmo com temperatura agradável propicia á marcha, a paisagem do sítio de cariz campestre, bordeando o caminho renques de sobreiros, vestígios da vegetação outrora dominante, que sucessivas arroteias necessárias a preparação de terras para cultivo ou pastagem, reduziram drasticamente.
A meio do percurso, deparamos na berma da estrada uma pedra trabalhada tendo na face virada para a faixa de rodagem, esculpida uma singela cruz. Curiosamente preservada, apesar de estar depositada sobre o chão não foi removida ou furtada do local. Será certamente uma pedra de "peso".
Humilde e centenário Cruzeiro perpetuando facto digno ser recordado, ocorrido naquela "solidão". A pedra ostenta gravada a efeméride 8/9/1905, e apela a um P. A. (pai nosso e avé maria) por intenção de alguém que neste ermo terá entregue a alma ao Criador. Os danos causados por accão das intempéries, o "cotão" que cobre o bloco não deixam ver claramente a inscrição.
Talvez as autoridades autárquicas, responsáveis pelo o conjunto das Freguesias de Almargem do Bispo, Montelavar e Pero Pinheiro, decidam mandar restaurar esta "memória". Essa operação, tornando-a mais visivel, facilmente despertaria a atenção de quem passa. A importância dos monumentos não se mede aos "palmos". Enquanto a situação nao se alterar a "companhia" quotidiana será o sobreiro plantado no outro lado da estrada, que "mitiga " o olvido.
Nas civilazações ancestrais,nomeadamente na China o castanheiro ,era relacionado com o oeste,ocaso,e ao outono.Considerado como uma árvore
providencial,porque o seu fruto a castanha,servia de alimento que ajudava a minorar a míngua alimentar do inverno.
Um pouco por isso no nosso cantinho do ocidente,as castanhas são assocadas ao tempo frio e invernal,"o homem das castanhas",o S.Martinho e outras ,manifestções tradicionais,celebram-se com castanhas e vinho novo,espécie de lenitivo de um tempo cinzento,apesar do santo ter verão,"privativo" o verão de S.Martinho, um capricho meteorológico,próprio da latitude onde nos situamos.
O castanheiro é associado aos climas frescos e chuvosos.Em Portugal por esse motivo encontramo-lo, até, nas alturas de Monchique no Algarve.Segundo o Professor Orlando Ribeiro ,que escreveu,uma parte importante da sua obra em Vale de Lobos no Munícipio de Sintra onde possuía, casa e morou largas temporadas;o Concelho de Sintra,é uma espécie de fronteira entre o norte e o sul de Portugal.O mestre afirmava que aqui começava,verdadeiramente o sul.Um dos elementos que servia como argumento era o facto dos últimos soutos estarem nas montanhas sintrenses.
Um pouco por toda a geografia desta região deparavamos com castanheiros,foram desaparecendo,quer por incuria e ganância do homem ,quer por causas da natureza ,como os vendavais.Neste dia de S.Martinho recordamos um velho castanheiro secular ; existia junto á ribeira da jarda. Tombou em resultado de recentes tempestades.Fica a imagem para memória futura,uma bela árvore desaparecida.
Na beira da antiga estrada de Lisboa a Sintra, por alturas onde se construiu uma superfície comercial de artigos de desporto e lazer, e que hoje em dia é um troço de via sem saída, paralalela ao itenerário complementar nº19, está uma formoso chafariz de duas bicas as quais há muito não vertem o precioso lìquido, pelo que, talvez seja desapropriado designá-lo assim...
Segundo uma inscrição colocada na frontaria, foi construído em 1781, curiosamente no mesmo ano que começou a Feira de S.Pedro. Quantos caminhantes descansaram nos bancos que ladeiam a fonte? Por certo muitos almocreves permitiram que os seus animais de carga aqui bebessem.
Quem sabe se muitos negócios de "Travessia" não se fizeram aqui, visto ser um ponto de paragem antes de entrar nos limites da Vila de Sintra?
Sabemos que no dia 27 de Setembro de 1787, uma quinta feira de "céu sereno e sol brilhante", passou por este sítio William Beckford que registou esse facto no seu "Diário". O chafariz tinha importância na época pois todos mapas dos arredores de Lisboa o assinalam.
Hoje ninguém repara nele, apesar de estar devidamente cuidado deveria ter uma informação sinalética indicando "CHAFARIZ DO SÉC. XVIII". Daí o interesse em conhecer "esta obra para utilidade pública" mandada executar pelo "Senado da Câmara de Cintra".
Análise do conteúdo da "memória" é uma "lição" de História. Da fonte já não jorra água e dificilmente voltará a jorrar, acrescer a este facto o esquecimento a que está votado foi uma causa determinante para ter secado. Mas contra isto se promovermos a sua divulgação como testemunho importante da nossa memória comum, faremos "simbolicamente" que das bicas volte a brotar o conhecimento que tal como a água serve para "matar a sêde".