Os dias tem sempre associadas determinadas efemérides. Ultimamente foram estabelecidos dias para os mais variados fins: "dia da criança, dia doente, dia do animal, dia do professor, além dos conhecidos dia do pai e dia da mãe", enfim um conjunto de motivos para ligar o quotidiano a causas.
Talvez ainda se utilize o mesmo procedimento para que a um dia corresponda uma árvore adequada e assim surgirem dias de "Sobreiros, Rosas, Plátanos" etc.
Vem isto a propósito de se assinalar no dia 2 de Fevereiro o dia da Senhora das Candeias, que mais não é do que o aproveitamento litúrgico da celebração profana da festa da luz. O povo aproveitou para relacionar o evento com o provérbios: "SE A CANDEIA CHORA ESTÁ O INVERNO FORA", se pelo contrário "A CANDEIA RIR ESTÁ O INVERNO PARA VIR", dito doutro modo é bom que chova naquele dia para que o Inverno se vá.
Sendo o dia de tributo à luz, que árvore deveríamos escolher,para o "embelezar"? A Amendoeira, porque florescendo muito cedo as suas flores são um sinal de que os dias luminosos da Primavera estão mais próximos, e o escuro do Inverno prestes a findar. Além disso em hebraico o nome desta planta é LUZ. Na Rinchoa existe uma rua das Amendoeiras em local soalheiro e de vistas desafogadas. Motivo para muitas lendas a floração da amendoeira mitiga as saudades da neve, porque normalmente onde floresce a neve não caí.
Frágil e bela a amendoeira produz um fruto que por estar oculto por uma espessa casca pode ser comparado a algo secreto e invisível, motivos mais do que suficientes para o dia das candeias seja também o da luz , isto é da AMENDOEIRA.
A memória dos Povos abrange periodos de tempo de amplitude reduzida, quando comparados com o decorrer dos séculos. Vem isto a propósito dos fenómenos climatéricos que quotidianamente nos são apresentados pelos meios de comunicação social. É frequente ouvirmos expressões do tipo: "Agora o tempo está mudado", "Não me lembro de tanta chuva e tanto frio", "Isto é por causa das alterações climáticas", etc. Sem pretendermos suscitar polémicas, devemos dar as coisas o sua devida importância porque, nem sempre o que parece é.
Hoje 22 de Janeiro de 2011, está aqui por Sintra um "frio de rachar" como é hábito afirmar-se quando a temperatura do ar desce para valores pouco habituais.Vulgarmente pode pensar-se que isto nunca ocorreu. Nada mais falso , curiosamente, chegou até nós uma informação antiga, do teor seguinte:
" Neste dia 23 de Janeiro de 1758,segunda feira,aqui na Freguesia de Nossa Senhora de Belém ,Pratriarcado de Lisboa e Arciprestado de Sintra,choveu muita neve de que tudo ficou branco; e por dez noites seguintes "cahio" muita geada com tempo muito frio e seco".
Esta efeméride ficou conhecida como "DIA DA NEVE". Noutras ocasiôes nevou de novo em Sintra. Parece que nesta época do ano as condições meteorológicas são propícias à queda de neve por estas bandas. Oxalá voltasse a verificar-se amanhã, porque sendo dia de eleições, uma grande participação significa uma afirmação da CIDADANIA, que tal como a neve deve ser sempre um motivo de encanto e beleza.
Deixamos como ilustração não uma foto porque ainda não nevou, mas um execerto do belíssimo poema de Augusto Gil, a BALADA DA NEVE:
Batem leve, levemente
como quem chama por mim,
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania,
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate,assim,levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve,mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza,
Fui ver, a neve caía.
do azul cinzento do céu
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via !
E que saudades, Deus meu.
Olho através da vidraça
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho
( ... )
Como não há uma sem duas, quem sabe se virá outro DIA DA NEVE idêntico ao de 1758?. Seria bonito!