Como sucedeu ao longo de de quase dois séculos e meio, ai está a feira das Mercês este ano organizada sob egide da Câmara Municipal de Sintra e apoio das Juntas de Freguesia de Algueirão Mem Martins e Rio de Mouro. Um reunir de esforços digno de nota. O recinto para a venda e diversão está restringido ao terrado do cruzeiro, sendo o acesso dos visitantes feito atravessando dois vistosos pórticos um do lado da Calçada da Rinchoa e o outro da banda da estação das Mercês. Deste modo garantiu-se o adequado controle e segurança para se evitarem os precalços que há uns tempos atrás se verificaram.
Os feirantes nas suas vistosas tendas estão vestidos a rigor recriando a "vestimenta" dos seus antepassados. Além das nozes e castanhas e leitão, e carne de porco a "moda" das Mercês carroceis e artesanato na feira deste ano existe um pavilhão com informação autárquica. A feira decorre nos fins de semana dos dois ultimos domingos de Outubro. Assim nos próximos dias 24 sexta-feira, a partir das 17 horas e todo o dia sábado e domingo, cumprimindo o decretado definitivamente, pela Rainha Dona Maria I em 1771: "Sou servida declarar que os moradores do sítio da ermida das Mercês devem continuar a sua feira no 3º e 4º domingos do mês de Outubro", terminando "Mando assim o façais executar". E mandou muito bem. Vamos todos à feira provar a água-pé, comer peras cozidas.e conviver como bons cidadãos, sexta-feira dia 24 o evento inicia-se ás 17horas,sábado e domingo ás 10horas.
Para ilustração deixamos "vistas" da estação ferroviária das Mercês e passagem de nivel junto à mesma na década de 30 do século passado. (fonte:ANNTT).
Fernando Formigal de Morais, simpatizante do Partido Republicano Português (P.R.P.) presidiu a Comissão Administrativa designada para dirigir a Câmara Municipal de Sintra, imediatamente à implantação do regime republicano em Portugal, consequência da revolução eclodida no dia 5 de Outubro de 1910. Seu pai Domingos José de Morais, mandou construir a escola "Morais", a qual chegou a dispor de uma banda filarmónica privativa. O estabelecimento de ensino foi depois oferecido a edilidade sintrense a qual ainda pertence. Para homenagear Formigal de Morais a Câmara Municipal de Sintra, na presidência do Dr. Fernando Seara, deliberou atribuir á escola básica de Varge Mondar Freguesia de Rio de Mouro, o seu nome. A cerimónia teve lugar em 5 de Outubro de 2010, integrada nas comemorações do centenário da implantação da República Portuguesa. Outros factos relativos á vida de Formigal de Morais, são do conhecimento mais ou menos generalizado.Curiosamente durante pesquisa no âmbito de trabalho académico, encontramos no jornal "A Comarca de Arganil" de 24 de Junho de 1909 a notícia seguinte:
"Na acreditada casa de novidades Baeta Dias,da Rua Augusta 23 a 25 -Lisboa, foi na quinta feira (17),inaugurada uma exposição de cravos. É uma exposição realmente interessante, que muito honra o cultivador Sr. Fernando Formigal de Morais, de Cintra. Tem apresentado ali exemplares lindíssimos que têm sido muito apreciados pelos numerosos clientes"
O conteúdo não deixa dúvidas quanto à identidade do "cultivador" e local da floricultura. O dono da loja era natural de um dos concelhos da então comarca de Arganil, formada além daquele, mais Góis e Pampilhosa da Serra. A actividade de floricultor deste destacado membro da elite sintrense do século XX, seria desconhecida ao divulgarmos esta ignorada faceta honramos a sua memória e cumprimos um dever...
A revolução Republicana iria ocorrer daí a um ano o fervoroso adepto da República, plantava cravos, sem cogitar a proximidade do dia que ambicionava chegasse. Lembremos a flor de 25 de Abril de 1974. Será que os cravos pressagiam mudanças políticas? Quem sabe? pelo sim pelo não, vamos todos cultivá-los.
Neste 5 de Outubro de 2011, terminam as comemorações do centenário da implantação da República Portuguesa e da promulgação da Constituição de 1911. Como é tradição, a Junta de Freguesia de Rio de Mouro, assinalou a efeméride com a colocação duma coroa de flores no "memorial" erigido em honra de Leal da Câmara, na RINCHOA.
Este gesto tem justificação, porque foi aqui que o republicano Leal da Câmara viveu os últimos 25 anos,e doou a sua casa ao municipio de Sintra. Estivemos presentes, e não deixamos de recordar o que o seu amigo Acursio Pereira escreveu:
"Esta aldeia da Rinchoa, com o seu donaire saloio e as suas graças silvestres, foi o derradeiro abrigo do sonhador. Havia, afirmo-o com segurança uma atracção para o espirito de LEAL DA CÂMARA, neste aglomerado palreiro de casario. Leal que trilhara mundos barulhentos e hipercivilizados (...) na sua primeira noite na aldeia recolhida, embiucada na treva, olhando o Céu salpicadinho de estrelas a piscarem luz, talvez tivesse perguntado, que estrela é esta, aqui,tão viva sobre o beiral do telhado?"
Estas linhas foram escritas já depois da morte de Leal da Câmara, porque se ele tivesse ocasião de responder, concerteza,teria dito:Já sei, só pode ser a REPÚBLICA.