A vereação camarária de Sintra em 1926, presidência do capitão Craveiro Lopes, futuro Presidente da República,deliberou adquirir o Palácio Valenças, e parque adjacente com propósito de aproveitar o conjunto para fins turísticos e lazer da população e transformar o conjunto em ex-libris da Vila de Sintra
Como sucedeu em muitas ocasiões em Portugal, a concretização do intento da edilidade só iria consumar-se década depois em 1936, precisamente , no mês de Julho; a Comissão Iniciativa eTurismo de Sintra, solicitou empréstimo de 600 contos,ou seja 600.000 escudos, a caixa geral de Depósitos , seria deferido pelo ministério das Finanças , através da Subsecretaria respectiva. Aquela quantia muito elevada para a época, necessitava aval da Câmara Municipal, e autorização do Ministério da tutela, o do Interior, tudo foi igualmente conseguido.
As diligências efectuadas demonstraram dificuldades financeiras do Município Sintrense, as receitas totais anuais 2.000.000 de escudos, as dívidas eram de monta, só aos hospitais para pagamento de tratamento de doentes pobres do concelho, débito rondava os 350.000 escudos.
A parte mais significativa das receitas, provinha da taxa municipal sobre comércio de carnes verdes, demonstrativo da importância da " vitela de Sintra ".
Enfim a compra do emblemático património não foi fácil, num concelho onde tudo faltava, gastava-se parte significativa dos proventos em compra " faustosa". Apesar de não terem dinheiro as autarquias recorriam a Caixa; ontem tal qual hoje quem pagaria haveriam ser os impostos.Resta acrescentar prazo para pagamento 30 anos.
No periodo conturbado do ínicio da 1ª República, no seguimento da Revolução de 5 de Outubro de 1910, surgiram várias iniciativas com origem nos poderosos interesses instalados, com objectivo de concretizarem projectos, aproveitando a situação complexa que então se vivia. Um deles dizia respeito à construcção do empreendimento citado em título. Este facto deu origem a um movimento generalizado de repúdio, concretizado por várias iniciativas, uma das quais uma carta dirigida ao Ministro do Interior onde os signatários: "Vem respeitosamente significar a V.Xª quanto lhes é penosa a ideia, pela qual sabem que se trabalha de construir dentro do Parque da Pena um Hotel-Sanatório", assinavam figuras ilustres da cultura, tais como Raul Lino, Henrique Trindade Coelho, Columbano Bordalo Pinheiro, Afonso Lopes Vieira, J.Câmara Pestana e José de Figueiredo entre outros.
Quando o assunto foi discutido no Senado,aproveitando a presença do Ministro do Fomento(António Maria da Silva), o ilustre senador sintrense Dr. Brandão de Vasconcelos,interveio de forma brilhante na sessão de 20/1/1913, tendo afirmado:
"Não posso deixar de falar sobre a pretendida cessão do Parque da Pena a um particular, eu resido no concelho de Cintra há muitos anos... mas acima dos interesses do concelho, ponho os interesses nacionais" esclarecemos que a Cãmara Municipal apoiava o projecto. Continuando, o Dr. B. Vasconcelos dizia "V.Xª sabe quanto custou ao Estado este Parque? Quatrocentos contos de réis, o que é que esse particular vem pedir? Um parque arborizado, quando tem na serra uma extensão enorme sem arborização que pode arborizar à vontade, mas não; querem o que está feito, é que o Estado ceda grande parte duma propriedade que vale 600:000$000 réis. O parque tem 250 hectares e pedem-se 150 pelo menos! O projecto está habilidosamente feito e quem o apresentou... não conhecia a extensão do que era pedido. Dizia-se que o Estado cedia a esta sociedade a parte oeste. Quer dizer, desde que se deixasse um metro quadrado do lado nascente, podia levar todo o resto. Conservar o jardim? Não senhor, os doentes podiam passear no jardim mas o Estado é que conservava esse jardim. Mas independentemente da especulação, há uma circunstância a ponderar, é que o parque está debaixo da direcção dos serviços florestais e muito mais bem conservado que no tempo da monarquia e que nos últimos tempos do Sr. D. Fernando (...) Estou convencido de que o Sr. Ministro não virá dizer que este projecto é viável, estou certo que o Governo há-de pôr entraves por todas as formas a que seja feita esta expoliação ao país."
Em resposta o Ministro António Maria da Silva disse: "Pelo que diz respeito ao parque da Pena,posso afirmar desde já que me hei-de opor, quanto em minhas atribuições caiba a que possa ir por diante o que se pretende. Já em tempo uma senhora Lima Mayer tinha pedido a concessão do parque da Pena, para instalar um Hotel-Casino, da parte porém, dos funcionários,que tiveram interferência no caso, houve acentuada repulsão desse pedido. E devo dizer que este parque é hoje considerado, pelos botânicos estrangeiros e touristes, como um dos primeiros arvoredos da Europa".
O Parque da Pena teve sempre grandes e valorosos defensores e contráriamente ao que muitos pensam, esta maravilha não veio para o património do Estado por confisco ou nacionalização mas por compra aos herdeiros do Senhor D. Fernando II, com o dinheiro dos contribuintes, é portanto pertença de todos os Portugueses.