Na frontaria de casa meio arruinada, situada no desaparecido lugar da Cova da Onça, freguesia de Rio de Mouro, Sintra nas imediações do recinto da Feira das Mercês encontrei, pequeno painel de azulejos, representando cena da vida campestre,no caso faina da vindima.
Analisei com atenção toda a composição "azulejar", o que pareciam figuras vulgares, colocadas ali como decoração, revelou-se "documento" importante para conhecer a actividade agrícola da região de Rio de Mouro , na primeira metade do século XX.
O traje dos tipos humanos era usual na charneca saloia, carro de bois,tem pormenores construtivos idênticos aos que Fernando Galhano, designou ser "carro saloio ",cujo detalhes, omito para não alongar o texto.A composição pictórica,reporta-se indubitavelmente a zona saloia.
Este "documento" confirma a riqueza vinícola do termo de Sintra, particularmente, das terras de Rio de Mouro,onde aliás viveu,na quinta do Zambujal ilustre republicano Ribeiro de Carvalho, conhecido também como grande produtor de vinho,as vinhas ocupavam encostas do casal dos porqueiros e quinta da barroca;na quinta da Ponte Rio de Mouro "antigo", há pouco tive ocasião de visitar vetusto lagar de esmagar uvas, ao lado do qual cobertas de pó e teias de aranha, apodrecem duas pipas de 1000 litros de capacidade.
A casa um dia destes ,vai ruir , assim se perderá documento histórico valioso, não será possível, retirar o painel de azulejo ,a tempo? Oxalá
Quando falamos em produção de vinhos no concelho de Sintra, o mais populoso da área metropolitana logo a seguir a Lisboa, vem a memória a região demarcada de Colares, todavia a importância vinícola, não se restringia ao rincão colarejo.
Antigamente o território sintrense produzia quantidade importante de vinho, destinado abastecimento da capital do País e também exportação. A qualidade do mosto digna de nota, permitiu existência de numero significativo de produtores. Uma zona rica em vinho, freguesia de Rio de Mouro, incluía terrenos actualmente integrados nas freguesias de Agualva-Cacém e Algueirão Mem-Martins.
Historiadores como Pinho Leal e Esteves Pereira, reportam essa característica. O ilustre republicano Ribeiro de Carvalho, na quinta do Zambujal situada no Cacém, produzia vinhos em qualidade e quantidade. Na quinta de São Pedro, onde está o hipermercado Continente, Cemitério paroquial de Rio de Mouro na encosta do eucaliptal do Monte da Parada, estavam plantadas videiras da casta sanguinhal. A vinha manter-se-ia até a década 50 do século XX, quando a pressão urbanística começou a "arrasar" tudo.
Sendo verdade, parece lendário. Numa antiga casa quinta em Rio de Mouro Velho, tive ensejo de constatar a justeza da história: lagar de pedra, pipas de grande capacidade, utensílios para engarrafamento, diversos apetrechos relacionados com a faina vitivinícola guardados em espaçosa construção propositadamente erigida para adega, atestam a antiga actividade "báquica". Nas freguesias urbanas do concelho de Sintra o terreno foi chão que já deu uvas.