Árvores solenes e austeras silenciosas companheiras plantadas nas bermas dos caminhos, eu vos saúdo, e agradeço a sombra fresca que mitiga os calores estivais e as folhas que pintam de tons púrpura e oiro os poentes rubros de Outonos caniculares. O balouçar lento da folhagem cadente arrancada dos ramos pelo sopro ventoso mensageiro da estação da invernia. Árvores símbolo de perenidade e estoicismo que morreis de pé, e estais sempre prontas para aturar lamentos e aceitar no vosso tronco os golpes dos devaneios amorosos de pueridades juvenis, sem alterar a majestade do vosso perfil. Árvores minhas amadas, quantos quilómetros percorri ao longo da vida só para admirar fustes grandiosos, e copas anchas como latadas pampinosas? Árvores de todas as espécies quando finalmente vos contemplava, emocionava-me por que Deus permitiu, admirar-vos: antigos carvalhos do Gerês ou a velhinha "carvalheira do presépio" em Castro Daire, castanheiro de Guilhafonso, Plátano de Portalegre ou o Pinheiro de São Bernabé nas serranias espanholas de Teruel e que já não existe, e muitos mais....
Hoje quero saudar em particular, o vigoroso freixo, plantado na orla do passeio de uma das artérias principais do sítio onde moro, saudação especial porque em tempo houve quem afirmasse que estava doente e ameaçava secar. Conseguimos provar que o problema se devia ao facto de o tronco no seu processo de crescimento,estar a ser estrangulado pelo muro adjacente, por essa razão a seiva não circulava, provocando a morte de alguns ramos, seria preciso derrubar parte do muro e dar mais espaço árvore. Felizmente, ouviram-me o freixo viçoso e pujante, continua a impressionar quem o observa. A sua idade exacta, não sabemos, mas sem dúvida, é centenário. Resistiu ao ciclone, quem o terá plantado? O local deve ter sido escolhido por ser próximo da fonte onde os aldeões da Rinchoa se abasteciam de água.
Os gregos consideravam o freixo um símbolo de grande solidez,esta característica ressalta quando admiramos este espécime.O freixo da Rinchoa,de folhagem sempre verde,parece garantir que o tempo primaveril nem sempre acaba;o fuste majestoso demonstra: aqui nunca foi subúrbio,e sim ao longo das épocas uma terra onde decorreu a vida de muitos homens e mulheres que nos legaram entre outros testemunhos, esta grandiosa árvore, e a certeza que onde existem árvores seculares são lugares com alma, e não periferias "desalmadas".
O Dr. Manuel Hermenegildo Lourinho (1891-1979), médico, deputado na Assembleia Nacional do Estado Novo em 1952, a propósito dos acidentes rodoviários, e falta de civismo na condução, "pragas" já ao tempo, proferiu um discurso, no qual, como exemplo apontou o que se passava numa rodovia do concelho de Sintra. O Dr. Lourinho, gozava as férias de Verão no Município sintrense, apesar de ser natural de Portalegre, a intervenção é uma "pérola" que gostosamente partilhamos:
"Quem, num domingo de Verão, por volta das 16 horas, se colocar como observador nalguns pontos da estrada Sintra-Praia das Maçãs, para verificar o que ocorre na sua pouco mais do que meia polegada de largura, diagnosticará facilmente, mas com êxito absoluto, o complexo perturbador que acabo de apresentar aos senhores deputados.
São os automobilistas de verdes anos, que irrompem como furacões, torneando a estrada de lés a lés; é o motorista desembaraçadissimo de presunção, mas falho de dotes físicos para bem conduzir; são os que fazem ultrapassagens de risco, em que os pneus cantam e o pavimento fica com profundos arranhões; são os grandes camiões de carga rolando a reboque, ocupando,pelo tamanho e pelo exagerado volume da mercadoria a transportar, todo o espaço que se encontra para distribuir pelos outros; são os condutores tímidos e mal preparados para conduzir um veículo, incapazes, de seu natural, para resolver qualquer problema dos muitos que continuamente aparecem a quem conduz na estrada.
E mais são os motoristas que apenas medem e reclamam os seus direitos, esquecendo ou desconhecendo os seus deveres.
Ainda pior, são os peões que num rancor invejoso contra os que conduzem os motorizados, se supõem e se mantêm no direito de ocupar e se demorar na porção de faixa de rolamento pertencente ao motorista.
Ainda mais, são os pais descuidados os imprevidentes, que deixam sem vigilância as crianças cruzarem os caminhos destinados para o trânsito de velocidade.
São os "loucos da estrada" todos os que acabei de enumerar". O deputado, incluído na ala republicana da Assembleia, para resolução do problema propunha: "tornem-se mais duras as sanções. Faça-se policiamento menos burocrático e mais educativo.
Modifiquem-se as provas de exame de competência para condutores de motorizados em ordem a menos mecânica inútil e falaciosa e a mais textos de carácter. Façam-se exames somático-neurológicos rigorosos. Apresentem-se aos condutores textos para avaliação das faculdades físicas de reacção. Submetam-se os candidatos a provas de agudeza dos sentidos. Responsabilizem-se os peões".
Não se poderá dizer, das propostas do ilustre deputado da ditadura, que sejam antiquadas ainda hoje têm modernidade evidente. Um pedaço de prosa caustico e bem urdido. O Português, quando desfruta da possibilidade de conduzir um veículo automóvel, na maioria dos casos, entra num estado de euforia, natural ou "induzida", comportando-se como piloto de corridas. A "fama" pelo visto, "já vem de longe", como na antiga publicidade a uma bebida alcoólica. Ou talvez por isso...