O culto do Divino Espírito Santo, teria sido trazido para Portugal, pela Rainha Santa Isabel, esposa do Rei D. Dinis. Como património para usufruto da Rainha, o marido concedeu diversas Vilas do Reino, entre elas Sintra e Alenquer, onde se fundaram vários "Impérios", encarregues de difundir culto do Santo Espírito,impulsionados pelos frades Franciscanos.
Em Sintra,uma das Vilas doadas a Rainha Santa Isabel,a devoção enraizou-se, permanecendo,ainda hoje,muito adulterada na aldeia do Penedo, freguesia de Colares. com grande fervor nas ilhas dos Açores, e diáspora Açoriana, por todo Mundo.
Além do império, subsiste no Penedo, existiu no concelho de Sintra,pelo menos outro, na antiga freguesia de Nossa Senhora de Belém, de Rio de Mouro; cujas cerimónias se realizavam na ermida de Nossa Senhora das Mercês.
Curiosamente, na capela do Penedo, embora ,vulgarmente, apelidada de Santo António, como sabemos monje franciscano, é templo da evocação de Nossa Senhora das Mercês
Luís Cristiano Cinatti Keil,filho do compositor, pintor e poeta Alfredo Keil, autor da musica do Hino Nacional; e muito ligado ao desenvolvimento da Praia das Maçãs.
Luís Keil, Director do Museu Nacional de Arte Antiga, investigador e historiador, publicou, na Revista "A ÁGUIA", numero Dezembro 1917, estudo sobre o império do Penedo. Em nota de roda pé informa " nas Mercês próximo de Rio de Mouro, coroava-se também uma imperatriz ".
Ficamos cientes da existência de um império do Espírito Santo, Rio de Mouro, freguesia a qual até década 1950, pertenceram lugar e capela de Nossa Senhora das Mercês.
Outra particularidade, demonstra uma vez mais ligação,existiu ao longo dos séculos entre Rio de Mouro e sede do concelho, fazendo deste território, um dos que mais proximidade social e religiosa teve com a Vila de Sintra, a cujo, termo sempre pertenceu.
Desenho da mesa do bodo do Penedo , autoria Luis Keil, que ilustra estudo citado.
Acerca de Sintra e termo muito está escrito,todavia nas pesquisas continuo, encontro amiúde,factos e personagens pouco conhecidos, marcantes na vida e actividade da sociedade sintrense .
Há 75 anos Abril de 1943, realizou-se no Hotel Nunes, no centro histórico da sede de concelho, banquete dedicado ao conselho de administração da empresa Sintra Atlântico,responsável da exploração da linha de eléctricos , ligava a vila a Praia das Maçãs. Administradores da sociedade eram a altura : Camilo Farinha , Luís Leite e Eduardo Almeida, a justa homenagem promovida pelas forças sociais económicas e políticas do burgo, destinava-se a realçar trabalho realizado pelos gestores ao longo de vinte anos de exercício da função.
Ao repasto compareceu parte significativa da elite sintrense, os ausentes fizeram questão enviar telegramas de felicitação e elogio,nomeadamente os proprietários de terrenos e moradias da zona servida pelo eléctrico, entre outros, citamos Dr. Cornélio Silva,Mário de Noronha, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, os "artistas",Adelino Nunes ,Faria da Costa,Raul Tojal, e Keil do Amaral, construtores do denominado , "bairro dos arquitectos",edificado no pinhal do Banzão a Praia das Maçãs.
Em representação da Câmara Municipal de Sintra , presidiu ao evento o vereador Eduardo Aguiar.Este autarca, personagem influente na vida social de Sintra.
Depois do repasto os presentes, foram convidados a visitar na casa do edil, colecção de peças,acervo de valioso museu artístico e regional.
O vereador , nome completo ,Eduardo Wilhelm de Aguiar Lutkens,devia ser germanófilo,adepto activo do regime Salazarista,exerceu funções de procurador a Câmara Corporativa, na IV legislatura.Funcionário de conhecida Companhia de Seguros , na qual ocupava cargo de chefe de secção, fundou Sindicato Nacional dos Empregados das Companhias de Seguros, presidente durante vários mandatos, presença na Câmara Corporativa em representação do trabalho, devido a condição de sindicalista "oficial".
Em 1936, exerceu cargo de secretário do Conselho Administrativo do 6º Batalhão da Legião Portuguesa, facto revelador do perfil ideológico.
Desconheço onde estava situada a "casa museu" referida,e demais factos da actividade política.Nasceu em Lisboa, 1 de Julho de 1892,não sei as habilitações literárias, nem data do falecimento.
Antes e após o 5 de Outubro de 1910, a Praia das Maçãs era sítio de veraneio de simpatizantes e, depois da revolução de personagens marcantes do regime republicano. Na Praia das Maçãs ou simplesmente: "A Praia", como a designavam os sintrenses, ocorreram episódios interessantes. Para quem desejar conhecer com pormenor, sugiro a leitura do livro do ilustre sintrense - José Alfredo da Costa Azevedo "Velharias de Sintra VI" p.p.99-182.
Curiosamente na revista ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA nº 398 de 6 de Outubro de 1913, pode ler-se :"Os civis que guardam a casa da Praia das Maçãs onde está veraneando o chefe do Governo (Dr. Afonso Costa), de há muito verificavam que vultos misteriosos passam, nos atalhos próximos buscando ocultar-se como a espreitarem a residência. De dia para dia foi-se apertando a vigilância tendo uma noite descoberto que cinco indivíduos faziam a costumada manobra depois de terem enterrado alguma coisa na areia, e que se verificou depois ser uma mala de bombas". O atentado como se sabe fracassou, repare-se que quem vigiava a casa eram civis. Nos primórdios da República a desconfiança dos novos dirigentes na eficácia das forças da ordem, fez com que se formassem comités de de defesa que assumiam a missão de garantir a segurança dos líderes republicanos.
A casa de veraneio de Afonso Costa é referida como sendo o antigo Hotel Levy. O que José Alfredo afirma ser o Hotel Royal. Como a "Ilustração" é da época deve estar correcta. Não restam dúvidas que tudo isto se passou na Praia das Maçãs. A foto é elucidativa...
Título: "A casa da praia das Maçãs (antigo hotel Levy), onde habita o Chefe do Governo, e que os sindicalistas Miguel Gaião, Jaime Granja e mais três, procuravam atacar". Empresa Pública do Jornal O Século, Joshua Benoliel, lote 08, cx. 01, negativo 11