Num fim de semana entalado entre de Maio principio de Junho, nos idos de 1969,perdido em imensa multidão de malta nova, eu próprio, jovem recruta, ao tempo, prestando serviço militar, sabendo já, por ter sido primeiro melhor classificado da especialidade, estava ao abrigo de ir " malhar " com as costas a guerra do Ultramar, mesmo assim, permaneci nas fileiras, 40 meses.
Divertia-me o melhor que podia, felizmente, empresa onde trabalhava antes da tropa, continuava necessitar da minha colaboração, por isso, propuseram-me trabalhar, á hora , de noite, depois de sair do quartel, "graveto " dava ,confortavelmente, para gastos..
No Domingo 31 de Maio, assisti a memorável corrida de automóveis, na pista da Base Aérea de Sintra, organizada pelo ACP, Automóvel Clube de Portugal; dia soalheiro , com nortada, rija, própria da região nessa época do ano.
Presentes os mais conceituados, pilotos daquele tempo, Francisco Romãozinho, conduzindo Alfa, curiosamente, Romãozinho, venceu Ralye de Portugal , que passou pelas então, " picadas " de Pampilhosa da Serra, onde quase escavacava o Citroren.
Adiante, além deste, compareceram , José Lampreia, o Sintrense Ernesto Neves, " Néné ", famoso extraordinário condutor, Peixinho , Nogueira Pinto, e outros.
A prova mais importante, ultima a realizar-se, destinada a carros de de grande turismo , e desporto,teve participação de oito concorrentes.Empolgante, despique Néné Neves, ao volante do lendário " Lotus 47 ", e Nogueira Pinto, dirigindo portentoso "Porche carrera 6".
Infelizmente Ernesto Neves, que ia alternando comando , com Nogueira Pinto, despistou-se sem consequenciais graves, possibilitando vitoria do seu opositor.
Não tenho fotos, não havia telemóveis, maquina fotográfica, deixei em casa, em Monsanto , Lisboa, onde então residia com meus pais,
Terminada função, fiz a pé, o percurso até apeadeiro de Algueirão, onde apanhei comboio,destino estação do Rossio.
Ainda deu tempo, beber umas imperiais na " Estrela Brilhante " , frente ao Coliseu , em Lisboa, local onde era cliente assíduo, para mim a melhor cervejaria da baixa; balcão corrido e bancos design únicos, ficarão para sempre no imaginário, já fechou, com imensa pena.
Depois de táxi,rumei ao Forte de Monsanto. Belo dia, no entanto, agora apesar da pandemia,é melhor. Prego a fundo
Chegado o mês de Outubro era tempo das pessoas da cidade e território envolvente, "mundo saloio", alfuirem a feira que desde 1780, conforme real decreto da Rainha de Portugal, Dona Maria I, se realiza no 3º e 4º Domingos do mês de Outubro.
Esteve quase a desaparecer, no entanto graças ao empenho da Câmara Municipal de Sintra e das Juntas de Freguesia de Algueirão Mem Martins e Rio de Mouro a tradição manteve-se.
A Feira era a mais importante de todo o distrito de Lisboa. A concorrencia de pessoas originou que quando foi construído ramal ferroviário do Cacém para Sintra, a estação das Mercês ficasse preparada para receber comboios especiais e funcionasse como estação terminal. Nos dias de Feira chegavam a partir da estação do Rossio em Lisboa sete comboios, além dos normais, o movimento originava formação de "bichas" dos passageiros ao saírem das composições.
O tradicional "muro do derrete" ou a "sala dos namorados", sempre muito concorrido, ali as moças sentadas, esperavam que os rapazes cheguem a fala e combinassem casamento, esta particularidade chegou até a década 1940.
A feira era local de diversão e "comes e bebes", a deliciosa carne de porco às mercês cortada directamente dos porcos esquartejados no local servia-se em tachos de barro. Durante muito tempo diversas figuras populares, tiveram nomeada:
O homem dos bigodes oriundo do Seixal, actor Carlos Velez teve restaurante e barraca de farturas.O "Pata Larga" dominava o negócio das louças. O "Jaime " do carrossel e muitos outros davam colorido e fama ao certame.
Tal como ainda hoje terminava com missa na ermida e procissão pelo recinto. A feira modernizou o "look", sendo tradição genuina da região saloia, merece uma visita.
A propósito do título deste apontamento a revista "GAZETA DOS CAMINHOS DE FERRO", de 1 de Fevereiro de 1955 publicava o seguinte:
"Dentro de breves semanas iniciam-se os trabalhos da electrificação da linha de Sintra. A histórica vila, que foi residência de reis e princípes está de parabéns. De parabéns está também a população de Lisboa, principalmente aqueles que só podem viajar aos domingos,porque vai ter transportes mais rápidos e mais frequentes para um dos pontos mais encantadores do País.
Ao longo da linha criaram-se risonhas povoações,como essa adorável Rinchoa a que Leal da Câmara tanto quis.
Se foi D.Afonso Henriques que tomou Sintra aos mouros, a C.P., com a electrificação da linha, faz simbolicamente,a sua reconquista,aproximando-a mais de Lisboa."
É uma prosa deliciosa, que exemplifica porque muita gente escolheu a Rinchoa para viver, há poucas décadas, antes da passagem de bandos de "patos bravos" que nidificavam lote a lote. Era ainda mais agradável do que hoje. Apesar da "malidiscência" de espécimes "feduncíos" que deixamos de ouvir mas supomos ainda existam, a cidade de Sintra pelo seu potencial económico cultural e humano será a grande urbe portuguesa dos próximos tempos.
A electrificação, mais do que a construcção do Caminho de Ferro ,esteve na origem do "boom" urbanístico dos anos 60 do sec.XX. A passagem do comboio a vapor, no túnel do Rossio, era muito incomoda para os passageiros, com a electrificação concluída em 1956 isso acabou, viajar para Sintra a partir daquela estação ficou mais facilitado. No presente Lisboa bem precisa que a "recuperem", porque a nossa bela Cidade está muito diferente, para pior,do que há 10 ou 15 anos. Quanto a Sintra e à Rinchoa, vão resistindo aos calhaus que atiram os zollos dos seus inimigos, como dizia Bocage, e o mesmo número da "GAZETA", curiosamente cita.