No livro de leituras da primeira classe do ensino primário, do período do Estado Novo durante décadas 1950 e 1960 ,na pagina 88 havia lição intitulada, "O DIA DO SENHOR" no texto faziam elegia do valor simbólico do sino, e sua relação com pratica religiosa, referindo: "Obedientes a voz do sino, homens ,mulheres e crianças, acodem ao templo, para assistirem a missa "
Algumas vezes veio a memória este texto, quando visito capela, de São Marcos, situada no coração da antiga aldeia, durante séculos, pertenceu, a Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro, antes de passar a de Agualva-Cacém, no inicio dos anos 50 do século passado.
A capela tem singelo campanário, de rústica beleza,felizmente ainda é possível, aqui, manter o sino colocado no seu poiso, contrariamente a muitas aldeias, despovoadas do interior do País, onde com receio dos roubos os sinos foram retirados dos campanários.
No Portugal cavernícola do Salazarismo, tudo andava a toque de sino, fosse a rebate, para assinalar perigo,as trindades, e missa para rezar, a dobrar a finados anunciando a morte de alguém,ou repicar demonstrando contentamento quando se tratava de casamentos ou baptizados.
Gosto de vez enquanto visitar aldeia de São Marcos,admirando o sino da capela, relembrar a posição do badalo ,evoca tudo que está suspenso, entre a terra e o céu, e por isso som da campânula estabelece comunicação entre os dois.
A semelhança de Fernando Pessoa, que considerava o sino da igreja dos Mártires no Chiado, em Lisboa, sino da sua aldeia; por mim adoptei com a mesma intenção simbólica o sino da velha urbe de São Marcos, no concelho de Sintra.
Conhecer história das pequenas comunidades é importante para se compreender a evolução social e política do País.
Quem actualmente habite, ou passe , pela localidade de São Marcos, pertencente ao Município de Sintra, União de Freguesias São Marcos- Cacém, onde moram mais de uma dezena de milhares de pessoas; não faz ideia ainda há menos de cinquenta anos, a então diminuta população viveu dia memorável, segundo Jornal de Sintra nº 1891 de 11 de Julho 1970 :
Num dia daquele mês pelas 21 horas Presidente da Câmara Municipal de Sintra Sr. António Pereira Forjaz, acompanhado de alguns vereadores, pelo administrador do Bairro de Queluz. e técnicos das Companhias Reunidas de Gaz Electricidade, distribuidora de electricidade no Concelho, foram recebidos com aplausos de muito publico, salvas de foguetes e morteiros ; imediatamente se procedeu a ligação da corrente eléctrica.
Depois pelas ruas já iluminadas, cortejo dirigiu.se ao Largo da Sociedade Recreativa , onde numa tribuna construida para o efeito se realizou sessão solene comemorativa da inauguração.
No final nos salões da Sociedade foi servido beberete de honra as individualidades presentes.
O presidente da Junta de Freguesia de Agualva Cacém , lembrou agora ficavam a faltar em São Marcos , abastecimento de água ao domicilio , rede de esgotos, e .. a substituição da ponte ligava, São Marcos a estrada Caxias - Cacém. Estas aspirações seriam concretizadas, só depois de 25 Abril 1974.
São Marcos , a 15 quilómetros do centro de Lisboa, apresentava este rol de carências. O restante Portugal, uma dor de alma, isto no inicio da década 1970. O Estado Novo foi uma desgraça para Portugal e os portugueses , e ainda há gente a incensar a ditadura.