A exemplo do eucalipto que servia de tema a um texto inserido no livro de leituras, obrigatório para uso no ultimo ano do ensino primário ou elementar, no tempo da ditadura Salazarista, também conhecida por estado novo, poderíamos iniciar este apontamento. "Um velho eucalipto plantado à beira de uma estrada foi desassossegado", não por qualquer camponês que pretendesse abatê-lo, mas pelo nosso olhar, um dia reparámos nesta gigantesca árvore cresce na berma da estrada nacional nº 9, junto a ponte da ribeira da Cabrela sítio da Fervença no Município Português de Sintra, Área Metropolitana de Lisboa. Na circunscrição da união de freguesias de S. João das Lampas e Terrugem.
Quem circula na estrada por se tratar de troço rectilíneo, passa em velocidade, maioria nem dá pelo eucalipto. Terá cerca de sessenta anos, plantado na margem dum curso de água em terra fértil, cresceu até atingir o imponente fuste que podemos constatar na imagem.Tem cerca de quinze metros de altura, diâmetro do tronco superior a cinco metros.
Sentinela impávida do ruidoso tráfego que diariamente passa, talvez com esta "nota" mais pessoas olhem a árvore e quem sabe o vetusto eucalipto "sinta" que a sua presença é estimada.
Nas nossas indagações em busca de elementos perdidos nas intrincadas teceduras do tempo, encontramos um memorando do professor Luiz Figueira (Alfundão, Ferreira do Alentejo 1894-11-09; Lisboa 1969). Médico bacteriologista assistente no Instituto Câmara Pestana, director do laboratório do Hospital do Rego em Lisboa, bastonário da ordem dos médicos deputado à Assembleia Nacional procurador na Câmara Corporativa durante o estado novo salazarista (1934-1974). O memorando publicado em Março de 1925 continha elementos relativos à incidência da doença da raiva. Depois de fazer comparação com outros países europeus, concluía da gravidade da situação no nosso País. No ano de 1924 foram tratados em Portugal 3452 pessoas com aquela patologia, em Lisboa 555. Só no concelho de "Cintra", grafia da época, naquele ano teriam sido mordidas por cães danados 149 pessoas.Calamidade para cuja resolução a Câmara Municipal de Sintra, tomou medidas o periódico dava nota: Da administração do concelho de Cintra pedem-nos para tornarmos publico o seguinte:
"-Foram dadas convenientes ordens aos oficiaes de diligencias para abaterem por meio de striquinina todos animaes da raça canina que sejam encontrados na via pública sem açamo. Esta ordem é de execução permanente e não exclue os cães de guarda ou perdigueiros desde que não tragam açamo."
O jornal formula o desejo: Oxalá o público se compenetre da necessidade que há em fazer diminuir tão terrível mal. A Assembleia da República aprovou recentemente, legislação destinada a proteger os animais, esta deliberação da edilidade sintrense seria hoje considerada barbara e desapropriada. A doença há noventa anos era grave problema de saúde pública, entretanto controlado por meio de vacinação massiva e obrigatória de canídeos.No entanto se as condições sociais e económicas continuarem a degradar-se, consequência de cortes e esbulhos de rendimentos complementado com elevadíssimo numero de desempregados, próprios deste tempo para alguns, de austeridade,pode ressurgir.
Neste infortunado Portugal de 2014 o mal deixou ser canino, propagou-se numa forma mutante aos entes humanos se fosse mortífero metade do país estava morto ou moribundo. Meditemos na justeza do édito camarário, desde que não usassem açamo até cães de raça seriam liquidados.Actualmente as punições são somente para "rafeiros" sem pedigree. Cães de raça embora raiventos são poupados. Não estaremos muito longe da verdade se caracterizarmos o estado social de Portugal como "estado de cão...danado". Não cito o nome do periódico estou farto de ser copiado sem divulgarem a fonte, é caso para terminar com um brado: Que raiva.
O meu querido amigo e ilustre sintrense José Alfredo da Costa Azevedo, escreveu no seu livro a Vila Velha (ronda pelo passado) e relativo a Sintra: "a volta do Duche". Já aparece referida num documento de 19 de Junho de 1888, com a designação de "Estrada Nacional nº88 que desta vila segue para Mafra".
No entanto segundo outro de 1868, para a construção do lanço da estrada de "Cintra àVila Estephania" foi expropriada, pelo Ministério das Obras Públicas do Reino, uma parte da quinta denominada do "DOUCHE"pertencente a José Carlos O`Neil, sita na freguesia de S. Pedro, Concelho de Sintra.
Parece deduzir-se destes elementos que primitivamente a volta do duche foi aberta para ligar a Vila, ao seu "subúrbio" da Estefânia, como se dizia na altura, só mais tarde integrada na estrada 88, que durante o consulado salazarista, passou a designar-se EN.249.
Assim os plátanos que crescem na da volta do duche, no espaço que vai da actual fonte mourisca, e o local de paragem dos autocarros de turismo, devem ter sido plantados por essa época, são pois centenários. A grossura dos troncos impressiona. Temos escutado comentários do tipo"que idade terão?"
Atendendo ao numero de visitantes que passam junto às árvores, seria útil com uma informação sucinta em diversos idiomas, chamar a atenção para a provecta idade dos plátanos, e assim adicionar um motivo para admirar mais uma singularidade de Sintra.
Curiosamente o marco quilométrico da citada EN249, colocado na berma, um pouco antes da entrada para o jardim "PARQUE DA LIBERDADE", tem numa face a indicação Sintra (Estefânia) 1Km. A volta do duche surgiu para permitir acesso fácil entre Sintra e o seu novo "bairro" extra-muros, só mais tarde foi integrada numa estrada nacional, todavia agora pertence ao património Camarário.