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Tudo de novo a Ocidente

A Propósito da Feira das Mercês: O carro de bois

A Feira das Mercês de 2014, realizada pela Câmara Municipal de Sintra em colaboração das juntas de Freguesia de Algueirão Mem-Martins e Rio de Mouro, foi um sucesso. O evento decorreu no recinto do cruzeiro e sendo local circunscrito, permitiu condições de desafogo e segurança a quem decidiu visitar a feira e assim desfrutar agradáveis momentos de lazer e convívio. Os locais de venda destinados aos feirantes, abrigados em vistosas e funcionais tendas, estavam criteriosamente implantados, os caminhos para circulação, devidamente assinalados com gravilha espalhada no solo, protegia o calçado dos frequentadores contra a possível lama, felizmente este ano não surgiu porque não choveu.

A animação proporcionada por bandas de música, fadistas ranchos folclóricos e outras manifestações, surpreendeu agradavelmente. Os carrosséis e passeios de pónei para os mais jovens, completavam a oferta lúdica. Na gastronomia desde a tradicional carne de porco ás mercês, leitão assado à moda  de negrais, sandes de porco no espeto e as famosas peras pardas cozidas, terminando nas sobremesas de queijadas e frutos secos, nozes e passas havia muito por onde escolher. Este ano para digestivo era possível beber "ginja" de Óbidos. A água pé não era grande coisa, faltou o frio para apurar, contrariamente as castanhas de excelente qualidade.

No último domingo da feira a organização promoveu um passeio em carro de bois, a jovens vestidas com trajes usados pelas gentes da região há cem anos. O carro de bois, como não podia deixar de ser, do tipo"saloio" usado antigamente em todo o distrito de Lisboa. O exemplar que observamos veio da Abrigada no concelho de Alenquer, porque no concelho de Sintra, não deve ser já possível encontrar um "veículo" em condições de circular. Carro tradicional da região saloia, era constituído pelo cabeçalho, uma peça direita que na extremidade dianteira possui um furo para passagem da passadeira da canga, e pelo  leito de forma rectangular. Neste carro as rodas são providas de raios o que não era vulgar. No conjunto uma peça interessante que suscitou a curiosidade dos milhares de visitantes, e valorizou a componente pedagógica do certame, este ano objecto de especial cuidado da organização. Enfim uma realização que deve ser repetida, para manter uma tradição secular. E já agora para o ano fazemos votos que a veneranda imagem de Nossa Senhora das Mercês, roubada da capela, tenha  aparecido e os autores do sacrilégio punidos. Oxalá.

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O Pão de Meleças

As terras de Meleças, no termo de Sintra eram férteis, boas produtoras de trigo. Relacionado com esta característica, o escritor Pinto de Carvalho- Tinop (1858-1936), no livro "LISBOA D`OUTROS TEMPOS-II OS CAFÉS, publicado em 1899, escreveu:

"O botequim do Marcos Filipe foi um do primeiros cafés de luxo de Lisboa. Estava ao canto do Largo do Pelourinho (hoje Praça do Munícipio) na loja que tem os números 23 e 24, e é ocupada pela drogaria da viúva Serzedello. (...), o botequim foi estabelecido depois do terramoto, a solicitação do Marquês de Pombal, que reconhecia a importância deste elemento de vida pública nos grandes centros populosos. O estadista, para vencer a contumácia do fundador da casa, foi lá,no dia da inauguração, almoçar chá e torradas com manteiga feitas de pão de Meleças, um lugarejo saloio cerca de Belas a confecção destes almoços ligeiros constituía uma especialidade dos velhos botequins lisboetas".

O "picante " da história é que um dos principais fornos de Meleças, para a cozedura do pão estava instalado na quinta do Scoto, propriedade do Marquês, como era seu apanágio não dava ponto sem nó. A existência da industria de panificação na localidade, devia-se também à abundância de lenha nas redondezas utilizada no aquecimento dos fornos. Para obter a farinha,laboravam azenhas e moinhos de vento, por nós referidos em apontamentos anteriores. A drogaria citada por Tinop, mais tarde, deu lugar a um grande armazém de ferragens, J.B. Fernandes entretanto desaparecido. No presente está ali instalado um Banco....

O afamado pão de Meleças tinha modo de preparação diferente do "pão saloio", durante o século XIX, na primeira metade do século XX, vendiam-se em Lisboa, os dois tipos de pão. O forno mais importante de Meleças, devia situar-se no sítio ainda conhecido pelo Vale do Forno, incluído da área inicial da quinta do Scoto. O território que estamos referindo pertenceu até 1950 á Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro, concelho de Sintra. Muitos dos emigrantes em S.Paulo, no Brasil estabelecidos com negócios de confeitaria e padaria, segundo a Professora Maria Isilda Santos de Matos, na tese "A luta pelo Pão", acerca da labuta dos portugueses por uma vida melhor no século XIX, anunciavam na imprensa paulista, fabrico e venda do pão de Meleças. Chegou longe uma das delicias da nossa terra. 



Foto retirada do Blog:mesamarcada.blogs.sapo.pt

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